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domingo, 27 de janeiro de 2013

MG: Número excessivo de receitas de Rivotril será investigado .


no Atualização Farmacêutica

A explosão do consumo de clonazepam, princípio ativo do medicamento Rivotril, em Minas acendeu o alerta vermelho em órgãos públicos e até na entidade encarregada de zelar pela ética no meio médico. Como mostrou ontem com exclusividade o Estado de Minas, levantamento do Sindicato dos Farmacêuticos de Minas Gerais aponta que, somente no ano passado, 10 cidades mineiras consumiram 15 milhões de pílulas da droga, que tem sido prescrita para casos de insônia e depressão. O uso indiscriminado preocupa médicos, devido ao potencial de dependência da substância, considerado até maior que o do álcool e da cocaína. Suspeitando de que haja exagero, o Conselho Regional de Medicina (CRM) e as secretarias municipal e estadual de Saúde querem investigar profissionais que vêm receitando a medicação. Segundo o CRM, caso seja comprovada conduta inapropriada ou interesses financeiros, médicos responsáveis podem ser até cassados.
O desafio nas mãos dos órgãos responsáveis extrapola os 10 municípios avaliados pelo sindicato. Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde, obtidos ontem pelo EM, nos últimos dois anos houve aumento de 11% na distribuição de clonazepam em todo o estado. Em 2010 foram 68,9 milhões de pílulas para toda a rede pública mineira, quantidade que passou para 76,5 milhões no ano passado. Já o crescimento da população no estado não passou de 7% em 10 anos, chegando a 19 milhões de moradores. De acordo com dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o ansiolítico é o mais consumido em Minas desde 2009. As doses podem causar dependência e efeitos colaterais, como sonolência, dificuldade de aprendizagem, perda de memória e até parada cardíaca.
O que chama atenção das autoridades e de profissionais do meio médico é a grande demanda pelo medicamento em cidades pequenas, como Bonfim, de 6 mil habitantes, e Piedade dos Gerais (4 mil moradores), lugares onde foram consumidos praticamente 10 comprimidos por habitante no último ano. Ontem, o EM mostrou a dificuldade de moradores para abrir mão da medicação, que causa dependência em até três meses de uso. Em Piedades dos Gerais até crianças estão sendo medicadas .
Prescrito para o tratamento de ansiedade, início de depressão e insônia, o remédio é tarja-preta e só pode ser adquirido com receita. “O que está ocorrendo nesses lugares?”, questiona o presidente do CRM-MG, João Batista Gomes Soares. Segundo ele, a entidade vai analisar como está sendo prescrita a medicação nessas cidades. “São números assustadores e preocupantes. Temos que levantar quais especialidades médicas estão por trás disso”, afirma, dizendo ainda que autoridades devem também tentar entender o que está ocorrendo com a saúde mental da população desses municípios.
A realidade já incomoda a Secretaria de Estado da Saúde, que pretende se aproximar mais da classe médica nessas localidades, para tentar entender o motivo do alto consumo. “Uma distribuição de 76 milhões de comprimidos em um ano em todo o estado é alta”, admite Leandro Oliveira Iannotta, referência técnica em Saúde Mental da SES. Sobre a falta de psiquiatras nesses municípios, Leandro afirma que há profissionais em cidades polo ou maiores.
Para o psiquiatra Fernando Portela, da Associação Brasileira de Psiquiatria, o problema é muito mais complexo. “É preciso uma investigação profunda, porque há muita falsificação de receita. A polícia também tem que entrar nessa história”, afirma, acrescentando que é preciso ainda apurar quantos e quais profissionais estão prescrevendo a droga nesses municípios.
Capital
Em BH, onde 8,6 milhões de comprimidos foram consumidos só em 2012, com projeção de 17 milhões de unidades neste ano, a gerente de assistência da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), Maria Luisa Tostes, admite dificuldade de controlar o consumo de Rivotril, uma vez que o órgão não tem como limitar o ato médico. “O que podemos fazer é informar a população sobre os riscos e cobrar dos profissionais consciência na prescrição. É fundamental que entidades, faculdades e associações de medicina se unam. Hoje, qualquer médico receita a medicação, independente da especialidade.”
 FONTE: ESTADO DE MINAS

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