Mirian Gonçalves (PT), vice-prefeita de Curitiba
na Gazeta do Povo
Não se pode negar que Mirian Gonçalves fez história ao tomar posse no dia 1.º de janeiro. Além de ser a primeira mulher a ocupar o cargo de vice-prefeita de Curitiba, garantiu ao PT uma participação inédita na administração da cidade. Passada a euforia da conquista, a advogada, que pela primeira vez ocupa um cargo eletivo, se deparou com a realidade que a aguardava na prefeitura. “A falta de organização e o atendimento estão muito piores do que eu imaginava”, avalia Mirian, que também ocupa o cargo de secretária municipal do Trabalho.
Nos primeiros dias da nova gestão, ela conta que tem atuado principalmente na ligação entre as várias secretarias e o prefeito Gustavo Fruet (PDT). Como principal representante petista na nova gestão, garante que o partido tem participado diretamente do planejamento do governo e rechaça as pressões sofridas à frente do Executivo. “Pressão existe, mas existe o ‘não’ também”, afirma. Acompanhe a entrevista concedida pela vice-prefeita à Gazeta do Povo:
Como vice-prefeita, qual tem sido seu papel nesses primeiros dias da nova administração?
Eu assumi, além da vice-prefeitura, o cargo de secretária do Trabalho e tenho procurado exercer com afinco as duas funções. Como vice, tenho participado de reuniões com boa parte dos secretários. Acompanhei a primeira reunião do comitê de gestão integrada, que será coordenado pelo prefeito para tratar da segurança pública. Vamos integrar o comitê de transparência e passaremos a atuar também na comissão que vai discutir o preço da passagem de ônibus. De alguma forma o nosso gabinete é responsável por uma interligação das secretarias com o prefeito, diante das várias demandas que acabam surgindo.
Qual o panorama encontrado na administração municipal?
A gente já sabia que haveria dívidas e, em alguns casos, uma situação precária em termos de estrutura. Mas devo dizer que a situação geral me surpreendeu muito. No caso da Secretaria do Trabalho, por exemplo, a falta de organização e o atendimento estão muito piores do que eu imaginava. Precisa de tudo e não tem sido muito diferente em outras áreas. A dívida do município é muito superior àquela que tinha sido informada, hoje estamos chegando a R$ 350 milhões, boa parte não provisionada. Daquilo que imaginávamos que poderia ser utilizado para investimentos ou nos programas da prefeitura, uma boa parte terá de ser usada para pagar dívidas.
E como lidar com esse quadro? Isso significa que o primeiro ano será mais de ajustes do que de realizações?
Não podemos simplesmente pagar as contas para depois fazer investimentos. A cidade não pode parar; as necessidades não param. É impossível simplesmente fazer um cronograma de dívidas e pagá-las, temos que pensar em investimentos e mudanças. Por isso vamos atuar nas duas frentes. Claro que, se tivéssemos mais recursos, as ações seriam desenvolvidas mais rapidamente. Mas não deixaremos de atuar como nos propusemos.
No dia da posse, foram apontadas quatro prioridades: saúde, educação, segurança e mobilidade. Como elas estão sendo trabalhadas?
Elas são prioridades, mas são transversais. Quando se pensa em mobilidade, estamos colocando várias coisas. Por exemplo, se o trabalhador pode ter um emprego próximo de onde mora, não precisa usar tanto o transporte público. Estou falando com uma visão mais a longo prazo, mas que precisa ser iniciada agora. Quando falamos de saúde, educação e segurança, estamos passando por todos os programas sociais. São os eixos fundamentais, mas que acabam sendo transversais.
E as chamadas “bombas- relógio” citadas pelo prefeito: passagem de ônibus, Urbs, ICI. Como a senhora tem acompanhado essas discussões?
Estou participando dessas discussões, das reuniões e acompanhando as decisões do prefeito. São assuntos difíceis, de tratamento delicado, mas para os quais certamente haverá uma atuação firme do governo.
Qual a responsabilidade de ser a primeira mulher a ocupar o cargo de vice-prefeita da história de Curitiba?
Por muitos anos, nós mulheres temos tentado abrir espaço nesse mundo que até então era masculino. A eleição da presidente Dilma Rousseff trouxe reflexo em todos os níveis, tanto no poder público como na iniciativa privada. Temos características diferentes e é evidente que isso traz consequências. Acredito que a mulher é mais prática, mais executiva. Se tem que fazer, não deixa para depois. Nós temos um olhar para a pessoa: não é a casa que está sendo construída, é olhar para a família que vai morar lá. Nós defendemos uma abertura não só pelo fato de ser mulher, mas para ter chance de mostrar sua competência. Quando a Dilma foi candidata, houve uma reação inicial e depois ela se tornou uma das presidentes mais bem avaliadas da história. Foi necessário que alguém dissesse: “Uma mulher pode ser presidente”. Essa porta precisa ser aberta e eu devo trabalhar para isso.
Quanto ao PT, qual a participação do partido na administração?
Nós participamos não apenas com pessoas, mas com propostas para o governo. Não são apenas propostas centradas em alguns pontos, mas voltadas para a maneira de enxergar a sociedade, de enxergar a administração pública voltada para a sociedade. Nisso o PT tem experiência e defesa histórica, que certamente serão aproveitadas.
Existe algum tipo de pressão do partido para que essa participação seja maior?
Pressão sempre existe. As pessoas imaginam a administração pública de forma equivocada, que ela vai poder abrigar todos que colaboraram [na campanha eleitoral]. Mas a grande maioria das pessoas que estiveram conosco não vieram atrás de indicações. Vieram para fazer uma mudança, que inclui respeito a várias regras, entre elas a transparência. Pressão existe, mas existe o “não” também.
Nenhum comentário:
Postar um comentário