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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

[A Inquisição é aqui] Doze livros de Saramago são "proibidos" pelo Opus Dei


Doze livros de Saramago são "proibidos" pelo Opus Dei, revela DN


Doze livros de José Saramago estão entre os classificados com os mais altos níveis de interdição do Opus Dei a nível internacional, num Index que envolve 79 obras de autores portugueses, incluindo Eça de Queirós, Fialho de Almeida, Vergílio Ferreira, Miguel Torga, Lídia Jorge ou David Mourão-Ferreira. Esta é uma das revelações de um extenso trabalho de reportagem feito pelo jornalista Rui Pedro Antunes e publicado no dia 28 de janeiro no Diário de Notícias.
O dossier analisa as formas de financiamento e o milionário património do Opus Dei, organização criada por Escrivá de Balaguer e presente em Portugal em várias áreas do poder político e económico. Inclui uma entrevista com o líder do Opus Dei em Portugal, José Rafael Espírito Santo, e depoimentos de responsáveis da Igreja Católica.
A existência de um Index de livros - de ficção e de não ficção - é outro tema essencial deste conjunto de textos do Diário de Notícias, que entrevista a propósito a presidenta da Fundação José Saramago. "Só me surpreende que não estejam nessa lista todos os livros de José Saramago", diz Pilar del Río, que considera o Opus Dei "uma seita para castrar". Sublinha que José Saramago nunca escreveu sobre a mesma porque "essa seita é uma formiga e por isso não lhe interessava para nada". Os livros de Saramaga que o Opus Dei proíbe aos seus membros são: CaimO Evangelho segundo Jesus CristoManual de Pintura e Caligrafia e Memorial do Convento
Lídia Jorge, cujos livros A Costa dos Murmúrios e O Dia dos Prodígiostêm também o nível mais alto de interdição, diz que este Index é "uma vergonha", uma listagem "feita por gente retrógrada e abstrusa". E acrescenta: "São pessoas que desprezo porque se armam em mentores, em guardas morais, quando, no fundo, revelam uma ignorância absoluta sobre o papel da literatura".
De Eça de Queirós, o Opus Dei proíbe, com o nível mais alto, A Relíquia,O Crime do Padre Amaro e O Primo Basílio. Os Maias, A Capital eCorrespondência de Fradique Mendes estão no segundo nível mais alto de proibição, isto é, são "livros que não é possível ler exceto com a autorização da Cúria".
Os autores portugueses não estão sozinhos nesta lista que tem seis níveis de interdição, o mais alto dos quais é de "leitura absolutamente proibida". Dela fazem parte 14 dos 15 últimos prémios Nobel da Literatura (apenas se exclui Le Clézio), e Mario Vargas Llosa é o que tem mais obras indiciadas, num total de 17, vindo logo a seguir José Saramago com doze.
Também na não ficção a lista revelada pelo Diário de Notícias é e extensa e variada, indo desde Marx e Freud a Jean-Jacques Rousseau, Charles Darwin e Hitler. Entre as obras portuguesas, estão Portugal Amordaçado de Mário Soares, A Revolução de 1383 de António Borges Coelho e até a História da Literatura portuguesa de António José Saraiva e Óscar Lopes.

Na imagem, ilustração de Helder Oliveira para o DN

Um comentário:

  1. A CENSURA É AQUI... parafeaseando o Hawai, é aqui.
    Opus Dei, numa tradução literal "Obra de Deus" configura-se num ajuntamento poderoso, reacionário e moralista-conservador de extrema direita; forte no Brasil, onde temos figuras proeminentes como membros ativos, inclusive no PR. Mas, como a matéria postada pelo Mario está boa demais para eu dar pitaco, peço licença para "falar" da censura brasileira contemporânea. Censurar, ato tão vivo entre os anos 60 a 80 começa a ser melhor entendido, com evidência científica. Recentemente 28 caixas escondidas no Arquivo Nacional de Brasília eternizaram parte de uma história que permanece com páginas incompletas. A coleção reúne documentos dos censores sobre livros publicados no período que segue a criação do AI 5, em 1968.
    A pesquisadora Sandra Reimão, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, criou a lista até agora mais completa de livros submetidos à censura durante os anos de chumbo. O estudo está disponível no excelente livro "Repressão e resistência – Censura a livros na ditadura militar", patrocinado pela FAPESP. Nele podemos compreender melhor os critérios do alto e do baixo clero militar para definir uma obra como liberada ou não para a pautuléia ignóbia - Nós!. Sob o pretexto de preservar a ordem e os bons costumes foram guilhotinados livros como "O mundo do socialismo", de Caio Prado Junior, e eróticos, como "Tessa, a gata", de Cassandra Rios.
    Não resitiram à tesoura também "Feliz Ano Novo", de Rubem Fonseca, "Zero", de Ignácio de Loyola Brandão, "Dez histórias imorais", de Aguinaldo Silva; e "Carniça", de Adelaide Carraro. O livro também aborda peças teatrais publicadas em livros em que são citados os textos "Papa Highirte", de Oduvaldo Vianna, e "Abajur lilás”, de Plínio Marcos.

    Mas, já tendo ido longe demais, volto aos tempos de hoje, cujo modus pensandi e operandi me parece é assemelhado à censura militar e ao Opus Dei, apenas com um discurso mais "lustrado" e politicamente (in)correto. Falo do analfabetismo histórico de censurar Monteiro Lobato com o argumento de que sua obra é racista, etc, etc. Racismo é não discutir o racismo censurando Lobato. hoje até setores importantes do MEC e do Judiciário reconhecem o equívoco, mas... Lobato continua persona-non-grata das escolas públicas brasileiras.
    Enfim, o Opus Dei é aqui...
    Abraços, Antonio Carlos Nascimento (SMS Ctba e UP)

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