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domingo, 30 de março de 2014

Médica sem Fronteiras fala sobre trabalho em “lugares em que a população não têm acesso nenhum à saúde”

Débora Fogliatto no Sul21

Desde 2011, a médica Rachel Soeiro já morou em três países africanos: Níger, Sudão do Sul e República Democrática do Congo. Em cada um, passou pelo menos sete meses atendendo as populações locais em áreas com pouco acesso à saúde. Esse trabalho é realizado pelas equipes de Médicos sem Fronteiras, que vão até lugares onde não há alternativa de saúde pública para as comunidades.
A organização humanitária existe há quarenta anos e atua em mais de 70 países, sendo construída de forma independente pelos profissionais que se dispõem a trabalhar em locais remotos, auxiliando populações que passam por epidemias, desnutrição e desastres naturais.
Rachel sempre quis trabalhar com medicina humanitária, e após sua especialização em Medicina de Família e Comunidade pela Unicamp, que terminou em 2010, candidatou-se para entrar na organização. Selecionada, ela então partiu para sua primeira missão: tratar crianças menores de seis anos que sofrem por desnutrição no Níger. Hoje, aos 35 anos, ela não se vê sem viajar e realizar missões em outros lugares do mundo, embora esteja morando em Campinas para se preparar para entrar em um curso de mestrado. Nos dias 22 e 23 de março, Rachel veio a Porto Alegre participar da exposição “Campo de refugiados no coração da cidade”, ocasião em que conversou com o Sul21. Promovida por MSF, a mostra buscou aproximar os moradores de metrópoles à realidade das milhares de pessoas que vivem em campos de refugiados. Agora, está exposta em Curitiba, de onde seguirá para Belo Horizonte.
Em seu trabalho como médica, Rachel já esteve no Níger, Sudão do Sul e República Democrática do Congo | Foto: Rachel Soeiro/ Arquivo Pessoal
Em seu trabalho como médica, Rachel já esteve no Níger, Sudão do Sul e República Democrática do Congo | Foto: Isabel Corthier/ Divulgação MSF
Sul21 – Tu sempre quiseste trabalhar com Médicos sem Fronteiras? Quando entrou para a organização?
Rachel – Eu trabalho com MSF desde 2011, faz três anos. Eu sempre quis fazer medicina e desde que estava na faculdade eu queria fazer trabalho humanitário. Eu tive mais contato com a organização no segundo ano da faculdade, quando um pessoal do Médicos sem Fronteiras foi lá e contou como funcionava. Então quando eu terminei a minha especialização eu entrei no site e mandei meu currículo. Algum tempo depois me chamaram para fazer a entrevista. Na verdade é um dia inteiro de recrutamento no Rio de Janeiro, com dinâmica de grupo, testes de línguas, e entrevista. E uma semana depois me ligaram e disseram que eu tinha sido aprovada, que eu tinha perfil para a organização, e começaram a procurar um projeto para me enviar.
Sul21 – Como funciona o contrato de trabalho?
Rachel – Nosso contrato é por missão, por projeto. E nosso contrato não é aqui no Brasil, a sede da organização fica na Bélgica. Meus contratos sempre foram com o escritório em Bruxelas. O contrato é por período, então quando estamos de volta no Brasil não temos salário, benefícios. Agora eu estou aqui no Brasil e aí eu falo, por exemplo, “quero ficar dois meses para descansar” ou “quero ficar seis meses para estudar”. E para te mandar para missões eles vão tentando encaixar nos projetos que têm. Dependendo do contexto do país tem missões de um ano, ou de um mês, seis semanas.
Sul21 – Para quantas missões tu já foste?
Rachel – Fui para três missões. Na minha primeira missão, em 2011, fui para o Níger por sete meses. Depois para o Sudão do Sul, por nove meses, e por último para a República Democrática do Congo, por quase dez meses.

“É um contexto muito difícil, tinha que ter muita delicadeza para lidar com eles, porque é uma realidade muito dura”

Sul21 – Como é a situação nesses países?
Rachel – É uma realidade muito diferente da brasileira. Mas cada país tem a sua realidade, sua situação local, socioeconômica, diferenças culturais e climáticas. O Níger é quase no deserto do Saara, uma parte é deserto. Então é tudo muito seco, quase nada se produz. Tem uma fome muito grande, eu fui para lá em um projeto de combate à desnutrição. Além disso, é um país muçulmano, então precisei lidar com uma cultura muito diferente.
 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“Todos os contextos foram riquíssimos culturalmente” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Já o Sudão do Sul é um país que vinha de uma guerra civil de 20 anos, quando eu cheguei lá tinham acabado de ficar independentes. Os funcionários locais que trabalhavam com a gente nunca tinham estudado em escolas, sempre em campos de refugiados. Então eles tinham um nível muito abaixo do que estamos acostumados, tivemos que treinar eles com muita paciência, devagar. E sempre tinham um pai ou irmão que lutaram na guerra, ou até eles mesmos. É um contexto muito difícil, tinha que ter muita delicadeza para lidar com eles, porque é uma realidade muito dura.
E na República Democrática do Congo eu estava em um lugar que sempre tinha sido um campo de refugiados. A região tinha sido atacada e o pessoal migrou para lá. Quando eu cheguei, eles já tinham se adaptado, estavam em casas e não em tendas, acabaram ficando naquele lugar mesmo. E às vezes passava um camburão ou um grupo que parecia rebelde e já ficava todo mundo super assustado, porque eles reviviam aquilo que tinham vivido alguns anos antes. Mas todos os contextos foram riquíssimos culturalmente, uma troca de experiências muito grande.
Sul21 – Como funciona a comunicação com as populações locais?
Rachel – Cada país tem suas línguas oficiais. No Níger e no Congo é o francês, e no Sudão o inglês. Ma daí tem os dialetos, porque a população que a gente atende não sabem essas línguas, eles têm as línguas locais. Então a gente sempre atende com alguém do staff nacional. Eu sempre tinha um enfermeiro comigo para ajudar nessa comunicação. E no meu caso, como eu fiquei muito tempo em cada lugar, acabei aprendendo um pouco das línguas locais. Eu sempre brinco que aprendi as palavras feias, como “diarréia”, “vômito”, “febre”, são as primeiras palavras que eu aprendo, para conseguir me comunicar. E é claro que tem muito da linguagem não-verbal também, a gente gesticula, tem o olhar, acabamos nos comunicando assim também com o paciente.

“Se nós não estivéssemos lá, não teria ninguém lá para fazer isso”

Sul21 – O tempo das missões já é planejado desde o início? Vocês podem escolher o tempo?
Rachel – Sim, depende da gente. Mas combinamos o tempo desde o início. Se por acaso você ficar doente ou não se adaptar, existe a possibilidade de voltar antes. Assim como o contrário, se você está muito bem lá, pode continuar ao invés de abrir para outra pessoa. Os tamanhos dependem do contexto, em locais mais tranquilos dá para ficar um ano. Eles levam por base que o máximo de tempo é um ano, porque você está longe da família, de casa, em uma cultura diferente, é muito desgastante. Mas tem gente que prolonga, ou depois volta pela segunda vez para o mesmo país.
Mães esperam na fila para serem atendidas com seus filhos por MSF | Foto: Rachel Soeiro/ Arquivo Pessoal
Mães esperam para receber atendimento para seus filhos por MSF | Foto: Rachel Soeiro/ Arquivo Pessoal
Tem projetos que já são planejados para serem mais curtos. Por exemplo, as pessoas que foram para as Filipinas depois do tufão, era trabalho muito intenso, de domingo a domingo, sem folga. Então ninguém podia ficar mais de um mês, mesmo se quisesse, a organização dizia que não. Eu estava saindo do Congo quando aconteceu esse desastre e falei que queria ir, e não deixaram, disseram que como eu tinha acabado de sair de 10 meses de missão, estava sem energia.
Sul21 – Como tu avalias a importância do trabalho de MSF nessas missões? 
Rachel – É fundamental. Eu acho que faz toda a diferença porque são lugares em que a população muitas vezes não têm acesso nenhum à saúde. Nesses países, quando se fala em saúde pública, o governo banca as estruturas, mas tudo é pago, não é realmente pública. A população tem que pagar pelo atendimento médico, medicamento, vacina. E isso sem falar na dificuldade de acesso. Porque Médicos sem Fronteiras vão onde ninguém consegue chegar.
No Congo por exemplo, era no meio de uma floresta. A gente tinha uma pista construída pelos nossos logísticos para chegar de helicóptero, porque era o único jeito de chegar, lá tudo alaga. Não teria como passar. Se nós não estivéssemos lá, não teria ninguém lá para fazer isso. No Sudão, tinha mães que andavam dois dias para conseguir chegar e ter atendimento para seus filhos, porque éramos o principal hospital da região. Tinha outro do Ministério da Saúde um pouco mais longe, mas era pago. É muito importante porque possibiltiamos o acesso e saúde pública.
Foto: Rachel Soeiro/ Arquivo Pessoal
“Médicos sem Fronteiras vai onde ninguém consegue chegar” | Foto: Rachel Soeiro/ Arquivo Pessoal
Sul21 – Como a organização percebe que países precisam de ajuda?
Rachel – A gente tem equipes que fazem a exploração do local. Lá na República Democrática do Congo onde eu estive, por exemplo, a gente ouve as pessoas falarem de algum local onde teve uma explosão ou um conflito e mandamos uma equipe para lá. No caso da Síria, quando começou a guerra, também enviaram uma equipe para ver a necessidade da população, o número de desabrigados, desnutridos. Sempre olhamos a população mais vulnerável. Vamos até os campos de refugiados para ver qual a situação de nutrição das pessoas. E em lugares que não têm acesso nenhum, também. Lugares em que não chega nada de saúde e tem uma mortalidade muito alta, vai essa equipe, a gente olha os indicadores, e se necessário pensamos no projeto de intervenção. E tem as catástrofes naturais que daí nem precisa de triagem, vai direto.
Sul21 – Onde os médicos moram quando vão para as missões?
Rachel – Depende do lugar. No Níger, era um projeto que existia há muito tempo, tinha um hospital construído por Médicos sem Fronteiras e ali perto alugaram uma casa para a gente morar. Ali moravam os estrangeiros, cada um com seu quarto, dividindo os espaços comuns da casa. No Sudão do Sul, como era muito no meio do nada, tinha um hospital construído, uma tenda que fazia o atendimento cirúrgico, e daí tinha uma cerquinha que separava as nossas casas. No início eram tendas, e depois construíram para nós no estilo das casas sudanesas, de alvenaria. Cada um tinha a sua, no mesmo espaço do hospital. E no Congo o hospital ficava na frente e organização alugou um antigo convento que ficava atrás, ainda da época da colonização francesa.
Sul21 – Vocês recebem algum treinamento antes de ir para as missões?
Rachel – Tem treinamento específico se eles julgarem necessário. No Níger, por exemplo, fui para um projeto de pediatria, com crianças menores de seis anos. E eu já tinha experiência no Brasil trabalhando como pediatra, eu era médica de família e trabalhava em um posto de saúde e fazia muito plantão de pediatria. Mas enquanto eu estava lá, me mandaram para um curso de pediatria tropical, para melhorar meus conhecimentos. Então se precisar, de tempos em tempos eles fornecem cursos. Mas sempre vão tentar encaixar o primeiro projeto com a experiência que a pessoa já tem.

“É muito triste saber que aquela pessoa está naquela situação por causa de comida em um mundo em que se desperdiça tanto, mas é muito recompensador poder ajudar”

Sul21 – Lá no Níger o maior problema era a desnutrição?
Rachel – Sim, era só desnutrição de crianças de zero a seis anos. E daí depois teve a malária, quando tem dois meses de chuva, a malária aumenta muito. E daí atendíamos todas as crianças afetadas também.
 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Rachel esteve em Porto Alegre para participar da exposição “Campo de refugiados no coração da cidade” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Sul21 – E em geral tu trabalhaste principalmente com desnutrição?
Rachel – No Níger, sim, no Sudão tivemos um crescimento de desnutrição grande porque as pessoas estavam voltando da guerra desnutridas e montamos uma enfermaria para desnutridos enquanto eu estava lá. No Congo eu trabalhei menos, trabalhei bem mais com HIV. Mas eu gosto de trabalhar com desnutridos porque a resposta é muito rápida, é muito recompensador. Claro que é muito triste saber que aquela pessoa está naquela situação por causa de comida em um mundo em que se desperdiça tanto, mas é muito recompensador poder ajudar.
Sul21 – Tu foste para três países da África nas tuas missões. Foi coincidência ou há um motivo específico para isso?
Rachel – Foi coincidência. Eles nos mandam a proposta, com o projeto, e eu acabei aceitando essas na África. Me ofereceram também ir para o Afeganistão, mas na época eu tinha acabado de sair do Níger, que também era um país muçulmano, e queria ir para outra experiência, então eu não quis.
Sul21 – Como funciona a segurança durante os projetos?
Rachel – Quando as equipes vão aos lugares para estabelecer um novo projeto, sempre pensam na segurança. Mas nós também temos que tomar medidas de precaução para não se expor a riscos. No Níger não podíamos andar na rua, sair. Tinha um carro que pegava a gente da nossa casa e levava para o hospital, mesmo que fosse perto. O tempo todo que eu fiquei lá era sempre casa-trabalho-casa. No Sudão do Sul, tínhamos uma liberdade um pouco maior, mas mesmo assim depois das 19h não podia sair daquele terreno onde ficava o hospital e as nossas casas. Então depende do lugar e do contexto.
Sul21 – As populações em geral receberam bem o trabalho de vocês nesses três países?
Rachel – Sim, em todos os países somos bem recebidos, mas fazemos esse trabalho primeiramente de nos apresentarmos, explicar o que vamos fazer lá, que tipo de atendimento oferecemos.
Mães com seus filhos que sofrem de desnutrição e malária malária esperam na fila para a primeira consulta com a equipe de MSF. A organização fica em constante alerta durante a estação das chuvas, entre julho e novembro, por conta da combinação perigosíssima de desnutrição e malária | Foto: MSF/ Divulgação
Mães com seus filhos que sofrem de desnutrição e malária malária esperam na fila para a primeira consulta com a equipe de MSF, no Níger  | Foto: MSF/ Divulgação
Sul21 – Imagino que a população saiba da presença de vocês também pelo boca a boca.
Rachel – Sim, eu sempre falo que eles são os melhores divulgadores do nosso trabalho. Uma mãe que leva o filho lá praticamente sem vida, desnutrido, e uma semana depois ele está melhor, é ela que depois vai voltar para o vilarejo e vai falar ‘estive lá no hospital, meu filho melhorou, realmente funciona’. Eles mesmos que divulgam nosso trabalho.

“Percebemos que às vezes aquilo que dávamos tanto valor não é tão importante, começamos a olhar de um jeito diferente para tudo”

Sul21 – Vocês enfrentaram algum tipo de problema em relação a diferenças culturais, religiosas nas missões que tu foste?
Rachel – Problema, não. É que a gente tem que saber respeitar a cultura dele. E para nós, ocidentais, é um mundo novo, não estamos acostumados com uma cultura de funcionários que têm que sair cinco vezes por dia para rezar, por exemplo, como os muçulmanos. E você tem que respeitar isso, porque é a cultura deles. Ou então mães que estão no hospital e dizíamos que precisava mandar os filhos para um cirurgião, elas pediam para esperar os maridos ficarem sabendo e também autorizarem. É uma outra estrutura social que temos que aprender a conhecer e respeitar.
Sul21 – De que forma as tuas experiências nesses lugares mudaram tua maneira de pensar sobre o Brasil?
Rachel – Cada lugar tem as suas necessidades. O Brasil tem suas necessidades, mas tem outras coisas que ajudam, não estamos isolados de tudo. E é claro que a forma de pensar a vida muda muito. Percebemos que às vezes aquilo que dávamos tanto valor não é tão importante, começamos a olhar de um jeito diferente para tudo. O que às vezes a gente gasta em um restaurante aqui poderíamos gastar para comprar comida nutricional para uma criança por cinco semanas. Então a gente começa a se perguntar sobre o que estamos valorizando.
Sul21 – Tua família se preocupa muito contigo quando vai para as missões? 
Rachel – Meus pais, minhas irmãs e amigos me apoiam, mas claro que todos se preocupam muito. Às vezes ficamos sem internet durante as missões, demoro um tempo para dar notícias, eles ficam desesperados. Se eu passo uma semana sem responder e-mails, quando eu olho de novo eles estão muito preocupados. Acho que se eles pudessem escolher, iam preferir que eu trabalhasse aqui.
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Exposição de MSF esteve em Porto Alegre até o dia 23 | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Sul21 – Médicos sem Fronteiras atuam em missões aqui no Brasil também?
Rachel – Apenas em casos pontuais, como quando tiveram enchentes no Alagoas, deslizamento em Petrópolis, no Rio de Janeiro, atendimento psicológico no incêndio da boate Kiss em Santa Maria. Um dos pilares da organização é mesmo realizar atendimentos pontuais nesse tipo de caso.
Sul21 – Quais teus planos atuais? Ir para mais missões?
Rachel – Agora eu estou aqui para estudar, então só poderia ir em missões curtas, de um mês. Por enquanto eu não posso mais me disponibilizar para missões longas, mas terminando os estudos eu quero voltar sim. Voltei para o Brasil há três meses, estou morando em Campinas para fazer meu projeto de mestrado.

“Nós acreditamos no trabalho. Esse trabalho é muito importante e faz toda a diferença no mundo”

Sul21 – E sobre essa exposição que veio para Porto Alegre até o fim de semana passado. Eu percebi que tinha a presença de muitos médicos da organização, inclusive de outros estados. Vocês que se prontificaram para vir?
Rachel – É, eles perguntam quem está disponível, dizem que precisam de ajuda. E eu disse que durante a semana estava estudando, mas me prontifiquei a vir nos fins de semana. Nós acreditamos no trabalho, acho que a melhor coisa é divulgar para as pessoas conhecerem. Esse trabalho é muito importante e faz toda a diferença no mundo.
 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“É chocante ver a situação dessas crianças por uma coisa totalmente evitável, como a fome”| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Sul21 – O que tu achaste dessa logística da exposição, a ideia de receber uma identidade no início e depois descobrir que é de uma pessoa real?
Rachel – Eu achei fantástico, porque é uma realidade com a qual não temos nenhuma ligação, é muito distante da gente. E na hora que você vê, diz ‘é uma história, é interessante’, e as pessoas já vão descobrindo como vive um refugiado enquanto passa pelas sessões, mas quando você olha a foto que você concretiza. Daí você vê ‘nossa, existe isso mesmo, uma pessoa passou por isso’, fica muito mais real.
Sul21 – E deve ser muito chocante chegar nesses lugares na vida real, nada te prepara para o que tu vais encontrar.
Rachel – Exatamente. Eu nem imaginava como era a realidade. Na primeira vez que eu cheguei ao Níger, aquele calor de 45 graus, tudo deserto, chegar no hospital e ver aquele monte de criança desnutrida… eu pensei ‘nossa, isso existe’. Eu nunca tinha visto uma criança desnutrida até então, é chocante ver a situação dessas crianças por uma coisa que é totalmente evitável, como a desnutrição. Mas ao mesmo tempo saber que você pode fazer muita coisa com muito pouco é muito gratificante. O olhar de uma mãe que viu o filho renascer não se compara a nada, é incrível.


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