Ex-comandante do DOI-Codi de São Paulo divulgou notícia 31 minutos antes da imprensa
Rio - Entre as primeiras pessoas que souberam
da morte do coronel reformado do Exército Paulo Malhães na sexta-feira
está o também coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra,
ex-comandante do DOI-Codi de São Paulo (1970-1974).
O DIA
descobriu no Twitter do site de Ustra “A Verdade Sufocada” uma postagem
sobre o assassinato de Malhães às 13h08 — 31 minutos antes da primeira
notícia em página de empresa jornalística, às 13h39. O site “A Verdade
Sufocada” tem o mesmo nome do livro escrito por Ustra, com sua versão
sobre a repressão.
A postagem no Twitter traz um link para a matéria no site do militar. A notícia diz que Malhães foi morto com quatro tiros. Há também uma referência ao assassinato do coronel Júlio Molinas Dias em 2012, e que ele guardava em casa documentos do caso Rubens Paiva.
A polícia informou na sexta-feira que
o corpo de Malhães tinha sinais de asfixia. A viúva, Cristina, contou
que os bandidos cortaram o telefone da casa. O coronel Ustra mora em
Brasília.
O coordenador da Comissão Nacional da Verdade,
Pedro Dallari, considerou a informação importante para as investigações.
“Esse levantamento vai ser importante. Acredito que vão ter que ouvir
pessoas em função disso. É uma informação relevante”, afirmou Dallari,
que ressaltou que todas as hipóteses devem ser investigadas.
O assessor da Comissão da Verdade de São Paulo
Ivan Seixas disse que o site é uma referência entre os militares. “É a
mais importante referência dos torturadores. É altamente suspeito ter
essa notícia antes mesmo da própria imprensa. Isso chama a atenção e
acho que devíamos exigir que a PF entre no caso”, observou Seixas.
Durante entrevista ao DIA
em março deste ano, Malhães contou que ele e Ustra tinham trabalhado
juntos em algumas operações. Ustra também prestou depoimento à Comissão
da Verdade, em maio de 2013. Na ocasião, negou sua participação em
torturas e assassinatos.
Procurado para falar sobre o caso do coronel Paulo Malhães, Brilhante Ustra não retornou até o fechamento da edição.
MPF apreende documentos e computadores
O Ministério Público Federal no Rio
de Janeiro e a Polícia Federal cumpriram ontem mandado de busca e
apreensão na casa do coronel reformado Paulo Malhães, em Marapicu, em
Nova Iguaçu.
Durante as buscas foram apreendidas
três computadores, mídias digitais, agendas e documentos do período da
ditadura, inclusive relatórios de missões das quais Malhães participou.
O mandado, feito no sábado por
procuradores da República do grupo de trabalho Justiça de Transição, foi
concedido pelo juiz federal Anderson Santos da Silva. Segundo o MPF, o
objetivo era apreender documentos e possíveis provas que possam
contribuir para a elucidação de crimes cometidos por servidores públicos
durante a ditadura militar.
Paulo Malhães foi agente do Centro de
Informações do Exército na década de 1970. Os procuradores já
investigavam o militar devido aos relatos em que confessou ter torturado
e assassinado presos políticos.
Em dezembro de 2013 e março de 2014, o MPF
tentou, inclusive, intimá-lo a depôr, mas o militar recusou-se a receber
a intimação. A recusa foi antes de ele ser ouvido pela Comissão
Nacional da Verdade (CNV).
Em março, antes do depoimento à CNV, Malhães
admitiu ao DIA que participara de torturas e mortes durante a ditadura e
que integrara uma missão em 1973 para desenterrar e ocultar a ossada do
ex-deputado federal Rubens Paiva, desaparecido dois anos antes.
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