Os mais sofisticados – e eficazes - métodos de marketing são postos em ação pelos fabricantes de cigarro. Objetivo: seduzir e convencer os mais jovens, vistos como futuros clientes de longo prazo.
Por Marc Mennessier – Le Figaro (via Saúde 247)
Como uma indústria pode sobreviver de modo sustentável ao matar, no decorrer do tempo, a metade de sua clientela e assim, perder a metade de seu mercado? Todo ano, na verdade, milhões de pessoas são vítimas do tabaco no mundo todo (73 mil mortes na França). No final deste século, um bilhão de mortes lhe serão atribuídas.
Cânceres, distúrbios respiratórios, doenças cardiovasculares: os perigos desta droga são agora bem conhecidos, especialmente para os mais jovens. É o motivo pelo qual a venda de cigarros é proibida para menores, praticamente em todo lugar de nosso planeta. Em vão. Na França, após anos de queda na faixa etária dos 15 aos 16 anos, o tabagismo aumentou misteriosamente desde 2007. «Todo dia, milhões de adolescentes no mundo todo, acendem seu primeiro cigarro», salienta o jornalista Paul Moreira antes de se perguntar: «Quem os seduz? O que os influencia?»
Para tentar entender melhor a situação, este jornalista investigativo tem viajado pelo mundo, de Londres para Lausanne, passando por Phnom-Penh, Atlanta e Jakarta, na Indonésia, onde as crianças, como o pequeno Jihan, 4 anos de idade, fuma desde sua mais tenra infância. «Tabaco: nossas crianças sob intoxicação », sua pesquisa que foi ao ar nesta quarta-feira à noite às 20h50 no Canal +, revela os métodos de marketing utilizados pela indústria para contornar a regulamentação e recrutar novos consumidores, para compensar a perda dos antigos.
Um cliente ganho, um cliente durante vinte anos
«Se ganharmos um único cliente é um cliente durante vinte anos, por isso é um investimento lucrativo », explica o animador de uma noite muito especial organizada na Suíça por uma empresa de tabaco famosa. Em uma atmosfera musical e festiva, álcool e cigarros são distribuídos gratuitamente e à vontade aos jovens participantes, que para a maioria, ainda não atingiram a maioridade. Como se trata de um evento privado, o fabricante, que certifica na sua cartilha ética «jamais forçar alguém ao consumo », não infringe a lei.
Cada vez mais confrontada com a proibição da publicidade direta ou indireta para um produto para o qual ela conhece perfeitamente a nocividade, a indústria do tabaco foca em uma nova mídia: o próprio consumidor. Especialmente se ele tiver 19-20 anos de idade e puder servir como modelo para outros ainda mais novos. Os “smoking reviews”, estes filmes feitos por adolescentes para se gabarem com outros adolescentes, das virtudes de uma determinada marca de cigarros que eles próprios experimentaram, circulam em todos os idiomas no YouTube e nas redes sociais. Tudo sem que as empresas, que poderiam proibir estas «produções» por uso ilegal de seus produtos, é claro, levantem um dedo.
Outro «truque», os filmes para as crianças, onde um herói como Superman é filmado perto de um veículo exibindo a logomarca de uma famosa marca de cigarros. Durante décadas, a indústria do tabaco paga generosamente atores para fumar quando eles atuam a fim de influenciar o público mais jovem e menos jovem. Uma estratégia tão discreta quanto eficaz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário