"Serei breve, pois muitos devem estar com suas memórias bem claras acerca das histórias que o Sr. Valencius Wurch protagonizou...
Memórias são também documentos vivos de quem viveu o período mais nefasto de nossa Saúde Mental, e esse Senhor merecia uma espécie de Comissão da Verdade em Saúde Mental...
Estamos em Paracambi, Casa de Saúde Dr. Eiras, o maior hospital psiquiátrico privado da América Latina contando com 2100 internos vivendo (?) nas condições mais abjetas e humilhantes que se pode imaginar... Em 1992 foi organizada uma grande denúncia envolvendo a Comissão de Saúde da ALERJ e 11 instituições ligadas a usuários, familiares e profissionais...
Após o afastamento do então Diretor, o Sr. Valencius junto a outros médicos vêm a ocupar a direção da Dr. Eiras... Alguns fatos:
- O Conselho Regional de Medicina (CREMERJ) convoca os médicos do estabelecimento para uma reunião onde o conselho queria saber da posição dos médicos face aqueles maus tratos ....Em certo momento onde foram citadas as evoluções estereotipadas em prontuários e o “tempo” dedicado aos pacientes nos atendimentos, Sr. Valencius sai em defesa: “Não há qualquer trabalho científico que comprove que um atendimento de três minutos possa ser superior ou inferior a 30 minutos” (até hoje ele parece usar essa forma de “ciência”...). Descaso justificado cientificamente ?...
- Sempre se dava um jeito de não fazer os cruéis e questionáveis eletrochoques prescritos pelos médicos, mas certa vez fomos verificar um que havia sido prescrito pelo Sr. Valencius...revendo o prontuário o eletrochoque havia sido prescrito por conta de no dia anterior, o paciente revoltado por sua família não o ter levado de licença (licença em hospício é fato raro...), vem a quebrar uma janela... Prescrição: punição elétrica.
- Sr. Valencius frequentemente aos domingos participava de eloquentes reuniões com familiares no auditório da Dr. Eiras. Ele e as assistentes sociais tinham por objetivo assustar e ameaçar os familiares (todos muito humildes...) de que seus parentes seriam desassistidos, que a “casa” iria fechar, que iriam para a rua, etc. Assim, o pânico fazia com que essas alianças defendessem a manutenção daquilo...
- Naqueles meses após a denúncia houve um esforço incomensurável do poder público em realocar os pacientes e esvaziar aquelas masmorras e para impedir novas internações, o município criou o Polo de Saúde Mental, um serviço de emergência e curta permanência em um hospital geral e que também oferecia atendimento ambulatorial e domiciliar, além de supervisionar a Dr. Eiras...
Havia um plano de metas a serem cumpridas pela direção e como em todas as vezes nada investiam em mudanças. Às vésperas da data de uma cobrança dessas metas, a direção da qual o Sr. Valencius fazia parte, demite trezentos funcionários do lugar para que esses e os familiares se posicionassem contra as ações que o poder público vinha realizando. Paracambi tinha quatro mil empregos, mil eram do hospício... aterrorizar com o desemprego...
- Havia na Dr. Eiras uma sirene ensurdecedora que alertava sobre horários de trabalho e “refeição” (pacientes morriam de fome, a água não era tratada e a comida... bem imaginem...Talher? quando muito uma colher...). Sr. Valencius nos acompanha para uma vistoria no Pavilhão São Paulo... Vai orgulhosamente falando de como tem tentado melhorar o “clima” no estabelecimento... Mozart em alto falantes com seus chiados. Esse pavilhão era o pavilhão de triagem e como tal, todos os novos pacientes eram para lá encaminhados e muitos foram violentados pelos mais antigos, com a conivência de enfermeiros e a indiferença do Sr. Valencius que dizia nada saber e nada constar nos prontuários e livros de ocorrência... Mozart para ensurdecer... campos de concentração e suas táticas...
- Ao entrar no pavilhão nos dirigimos a uma auxiliar de enfermagem e perguntamos diretamente se estavam usando seringas “de vidro” ou as descartáveis (sabíamos que as descartáveis eram para mostrar para a “fiscalização”, quando as que realmente eram usadas eram “as de vidro”... sabe-se lá se pode chamar qualquer procedimento ali realizado de esterilização de material.
A moça não resiste e “entrega o jogo” falando na frente de Sr. Valencius as atrocidades e o uso das seringas dentre outras coisas... Ele não move um músculo da face, como o fez na audiência pública recentemente na ALERJ... Se diz surpreso... demite a funcionária no dia seguinte...
Vamos ficando por aqui, mas queremos deixar claro que em nossa opinião o Sr. Valencius não é simplesmente um conservador no campo da Saúde Mental... em realidade o faz pior, foi e é um ativo e incansável defensor dos hospitais psiquiátricos com características manicomiais. De todos os progressos realizados ao longo dessa complexa, necessária e bem realizada Reforma Psiquiátrica, o Sr. Valencius sempre esteve do lado oposto.
Atenciosamente,
Dr. Ricardo Duarte Vaz"
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