Eu sou usuário do SUS.
Aliás, eu e minha família.
Em nossa unidade de referência (pode chamar de “postinho”), a mesma médica me atende, acompanha o pré-natal de minha filha e vai acompanhar o meu neto.
Meu neto deve nascer pelo SUS.
Todas as terças feiras eu acordo cedinho e vou ao Centro de Especialidades Odontológicas para marcar minha consulta. Estou fazendo o meu tratamento dentário pelo SUS. Também atualizei minhas vacinas (inclusive a da hepatite B) e fiz todos os exames de rotina (afinal, já sou um garotão de terceira idade).
Tudo com hora marcada, atendimento cordial com profissionais qualificados, capacitados e concursados.
Não faço isso “por bonito”. Faço porque acredito, porque trabalho no SUS, porque acompanho o SUS desde que foi criado e… porque é meu direito.
Na unidade de saúde eu sou o “seu” Mario. Obedeço as normas, fico na fila e não tenho privilégio nenhum por ser médico.
É assim que deve ser né?
Na hora de declarar o Imposto de Renda, eu não tenho nada para deduzir de despesas em saúde. Afinal, não gastei e quase tudo que precisei foi fornecido sem custos adicionais pelo SUS. Eu - como muitos - pago imposto de renda e ainda recolho imposto embutido em quase tudo que consumo.
O senhor que passa aqui em frente de casa com o carrinho coletando lixo reciclável também usa o SUS. Ele não recolhe imposto de renda, embora pague uma quantidade enorme de impostos (proporcionalmente muito mais do que a turma que frequenta a sauna do Graciosa) em tudo que ele consome.
As pessoas que tem planos de saúde, ou pagam “particular” (tipo assim a turma que frequenta a sauna do Graciosa) quando vão declarar imposto de renda, deduzem integralmente todas as despesas que tiveram com serviços de saúde.
Em resumo, quem “paga” estas despesas é o governo, via “renúncia fiscal”.
Seguindo o raciocínio, no limite, o catador de recicláveis e eu - mesmo que de forma indireta - estamos pagando as despesas de saúde daqueles que acham que não usam o SUS.
Ou seja, aqui no Brasil a gente funciona ao contrário: os que podem menos pagam as despesas dos que podem mais...
Despesas de gente tipo assim a patricinha que vai fazer consulta de estética com o dermatologista e depois viaja para Miami para comprar bagulhos. Afinal, para viajar ela teve que atualizar suas vacinas pelo SUS, o creme esfoliativo que o dermatologista receitou foi certificado e sua produção foi acompanhada pelo SUS, assim como o queijo frescal que ela come no café da manhã, o creme dental com clareador e o shampoo para cabelos tingidos.
Gente que reclama do caos da saúde (embora nunca tenha pisado em uma unidade de saúde) e se esquece dos bilhões de reais que deixam de ser recolhidos por conta da renúncia fiscal.
Gente que faz o jogo de banqueiros, rentistas e especuladores e fala mal da CPMF.
Se a gente abolisse a renúncia fiscal de gastos com saúde, talvez nem precisasse da CPMF...
É exatamente como o Autor : Mário Lobato escreveu e muito bem. Agora, explicar ao elemento que a renuncia fiscal da qual se beneficia é uma realidade que "onera" o SUS é uma batalha insana - não admite, não acredita, não aceita, não etc....
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