por Renata Leão no Facebook
Estou lendo tantas barbaridades e julgamentos equivocados que resolvi falar sobre “o cuspe”. Esse texto não é sobre as posturas políticas do Jean Wyllys, suas falas, defesas, lados, projetos de leis. É sobre “o cuspe”.
A maioria aqui sabe o quanto somos amigos e também do quanto divergimos sobre mil e uma questões, inclusive políticas. O Jean está há mais de cinco anos vivendo num ambiente MUITO hostil para quem não tem o perfil “padrão”.
Ok, até aí todo mundo tem conhecimento. Na verdade, pensam que sim. A gente sempre acredita compreender a dor que o outro sente, mas não é verdade. Eu sou branca, heterossexual e classe média alta. Por isso eu só entendi verdadeiramente a dor do preconceito quando vivi na pele, por tabela, mas na pele.
Eu não vou conseguir esquecer nunca mais do dia em que a foto que ilustra esse texto foi tirada. Eu era assessora do Jean e estávamos indo para uma Comissão quando Bolsonaro apareceu no começo do corredor em nossa direção.
A cena que se seguiu é algo difícil de descrever. Aos berros, porque é assim que ele chama às câmeras e holofotes para si, ele xingou, insultou, fez piadas, denegriu, ele torturou o Jean.
Não vou reproduzir aqui as palavras ditas por esse monstro porque tento esquecer delas todos os dias. Para dar uma noção, até humilhar a mãe dele ele foi capaz. E antes fosse com um singelo “filho-da-puta”. Foi um menosprezo daqueles que só as pessoas dotadas dos sentimentos mais nefastos são capazes de produzir.
Jean manteve-se calado, mudo, congelado como uma estátua, para só voltar a ligar o “on” quando o monstro se calou. Eu também congelada, mas era pelo estado de choque. Senti uma coisa que me dava quando era criança: um nó na garganta pela vontade de chorar, mas ter que conter para não mostrar fragilidade.
Ficamos assim. Ambos congelados diante do circo de horrores até Bolsonaro cansar de falar as maiores barbaridades e baixarias que já ouvi na vida. Ele seguiu e nós para o lado oposto, tentando driblar uma aglomeração que foi formada.
Quando nos sentamos, tudo aparentemente bem, avisei que ia ao banheiro e lá desabei numa crise histérica de choro. Aquele homem tinha despertado em mim as piores sensações: ódio, raiva, asco, revolta, impotência.
Eu chorei muitos e muitos dias depois lembrando da cena e nunca falei sobre isso com o Jean. Esses shows de baixo nível tornaram-se habituais ao longo desses mais de cinco anos.
Bolsonaro segue insultando e provocando sempre que tem uma oportunidadezinha que seja.
Ontem Jean chegou em seu limite. A atitude foi certa? Não! Educada? Não! Racional? Não! Inteligente? Não! Eu faria o mesmo? Não sei!
Acredito ser difícil mensurar as nossas reações quando somos provocados nesses níveis. Acho mesmo é que eu não teria chegado até ontem com a diplomacia com que o Jean aturou esse verme. Esse cara me derrubaria mole. Não sei lidar com esse tipo de crueldade sórdida e sem limites.
Jean, querido, você tem todo o meu apoio e compreensão. Esse cuspe estava entalado em mim.
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