O diretor-geral do Instituto de Criminalística do Paraná, Daniel Felipetto, disse em uma gravação obtida pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) que o trabalho dele é segurar a análise de documentos de operações que investigam o governo estadual. No áudio, Felipetto fala com um interlocutor sobre o andamento das perícias da Operação Quadro Negro, que investiga desvios de verbas estaduais e federais na construção de escolas.
(Correção: O G1 errou ao transcrever o último trecho das gravações de Daniel Felipetto. Na primeira versão desta reportagem, a transcrição dizia que "É isso que a gente faz, é o nosso receio". No lugar de "receio", o correto seria "o nosso serviço". A reportagem foi corrigida às 23h40)
A RPC teve acesso com exclusividade à gravação em que Felipetto afirma que mandava funcionários do Instituto colocar perícias em uma caixa e guardar no fundo de um depósito.
O áudio da conversa está com o Ministério Público do Paraná (MP-PR), que vai apurar se a demora nas perícias tinha objetivo de atrapalhar investigações. Em um dos trechos, Felipetto fala sobre perícias que estariam sob responsabilidade da direção geral. A outra pessoa que participa da conversa não é identificada.
- Daniel Felipetto: O que que nós temos? Está lá, Quadro Negro. Sabe o que é isso, hein? Quadro Negro, está com a gente lá. Tem uma outra agora que eu esqueci o nome, tem uma outra operação (?) Esqueci o nome agora, me fugiu o nome. Está lá com a gente."
Em seguida, o perito comenta sobre o andamento dos trabalhos.
- Daniel Felipetto:Daqui a pouco, vamos acabar com as perícias, porque como eu não sou bobo nem nada, eu chamo o menino lá e falo: "Você enfia esse negócio numa caixa e põe lá no fundo do depósito". Mas dali a pouco vem o Gaeco: "Escuta aqui, ó: estou vendo lá no site lá que não foi nem designado esse caso. O que que tá havendo?" (...) Aí você chama e me fala: "Tá, não tem jeito, faz o troço". Aí faz. Aí vai pular o presidente da Assembleia, vai pular o presidente do Tribunal de Contas. Entendeu? Vai pular o braço direito do Beto Richa. É isso que a gente faz. O nosso serviço é esse. Esse é o nosso serviço.
Para o MP-PR, a conversa de Felipetto demonstra indícios de que ele agia para atrasar o andamento das investigações. O Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) começou a abrir 17 dos 23 malotes, com objetos que estavam na sala que pertencia a Felipetto quando ele chefiava o Instituto de Criminalística de Londrina, no norte do Paraná. O material foi apreendido em operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP-PR, realizada na sexta-feira (5).
O MP-PR tinha tentado verificar o local durante uma visita, mas a porta estava trancada, e o acesso foi negado. Com a negativa, a promotoria instaurou um procedimento para apurar a situação.
Na sala, que estava trancada há três anos, foram encontradas armas, celulares e computadores. Outros seis malotes contendo documentos serão analisados na terça-feira (9). Os promotores querem saber se todo esse material foi periciado e se alguma investigação foi prejudicada.
Felipetto chefiou o Instituto de Criminalística de Londrina até 2013, quando assumiu a direção da entidade para o interior do Paraná. Em março de 2015, ele foi nomeado Diretor-geral do Instituto de Criminalística do Paraná.
O outro lado
Na gravação, não fica claro quem são os presidentes da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) e do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR), nem o braço direito do Governador Beto Richa, do PSDB.
O atual presidente da Alep, Ademar Traiano, do PSDB foi procurado. Ele disse que não conhece Daniel Felipetto e que não vai comentar o que ele teria dito.
A assessoria do TCE-PR foi procurada e ainda não respondeu.
O advogado de Felipetto, André Cunha, nega que ele tenha engavetado perícias, e diz que, na conversa, ele reclama da sobrecarga no trabalho. “De fato, se você for procurar a situação da criminalística do Paraná, existe um represamento imenso de trabalho, de falta de meios, e tudo o mais. Eu acho que ele tá criando uma situação de realidade, mas não que haja efetivamente dolo ou intenção de atrasar situações de investigação".
Em nota, a direção da Polícia Científica do Paraná informou que o material apreendido pelo MP-PR não tem relação com a Operação Quadro Negro. Segundo a nota, o diretor Daniel Felipetto não fez nenhuma perícia envolvendo essa operação. Sobre a gravação, a nota diz que Felipetto não tem conhecimento da investigação do MP-PR e que está à disposição dos promotores. Sobre as perícias, o diretor afirma que os laudos envolvendo a Operação Quadro Negro estão sendo concluídos e encaminhados às autoridades. Ele diz, ainda, que o trabalho só não é mais rápido por falta de pessoal.
Repercussão da operação do Gaeco
O diretor-geral da Polícia Cientifica Hemerson Bertassoni informou que uma sindicância da Polícia Científica vai apurar se alguma irregularidade levou à ação do Gaeco.
Depois da operação de sexta, o chefe do Instituto de Criminalística em Londrina, Luciano Bucharles, colocou o seu cargo à disposição.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná (Sesp-PR), o pedido de Bucharles foi aceito e, nos próximos dias, deve ser indicado o novo chefe do Instituto de Criminalística de Londrina.
Segundo Bucharles, o pedido de exoneração é um procedimento padrão quando há alguma investigação. Ele não quis se manifestar sobre o desligamento, porque ainda não foi comunicado oficialmente.
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