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quarta-feira, 8 de abril de 2020

O que fingimos saber sobre o coronavírus pode nos matar

por Luiza Bodenmüller @lubodenmuller em thread no Twitter
O fenômeno de politização do debate sobre a pandemia traz à tona alguns pontos de debate e reflexão. O @cwarzel fala um pouco deles no artigo publicado pelo @nytimes e eu elenco alguns insights abaixo. 

Today’s propaganda is tomorrow’s truth, and vice versa.



A pandemia desperta uma urgência por informação em uma velocidade superior à de produção de conhecimento sobre a doença. Isso gera um vácuo de informação: não sabemos muita coisa ainda. E diante do "não saber", é necessário transparência.

Esse vácuo cria um ambiente fértil p/ a desinformação. É nas lacunas q ainda não foram preenchidas q surgem parte das teorias conspiratórias e curas milagrosas. A cloroquina é o caso atual: as evidências ainda não são suficientes p comprovar a eficácia. Podem vir a ser? Talvez.


De novo, a questão da transparência é importante. Ao reportar, reforçar que "é isso que se sabe até o momento" é uma saída, é uma forma de situar quem lê/ouve/vê de que estamos em um processo dinâmico que passa por atualizações e revisões constantes.

Outro ponto é a assertividade em relação aos consensos (que ainda são poucos, é verdade). Não há como negar a eficácia das medidas de isolamento, por exemplo. Já há evidências suficientes que corroboram essa informação. "Fique em casa" não é política, é segurança.

Ainda sobre o tempo: estamos lidando com um contingente ansioso e com medo e que, diante do caos, pedem respostas imediatas. Aos jornalistas, cabe ter empatia com o sofrimento do outro, mas entender que o nosso tempo é diferente.

É preciso apurar, ouvir especialistas, ler pesquisas de áreas que não dominamos, ouvir mais especialistas, digerir e traduzir informações complexas. Isso tudo demanda tempo -- que é de urgência, mas que pede maturação. Calma é essencial (e instrumento de trabalho).

Nesse caldo todo ainda entra a responsabilidade das plataformas -- e o tempo de resposta delas. Não há como combater a desinformação e amplificar informação verificada sem que haja um comprometimento de retirar do ar conteúdos danosos.

As plataformas têm tomado providências? Sim. Lentas e pouco eficazes, na minha opinião. Mas só esse ponto renderia um texto inteiro. O foco é: cobrar a responsabilidade das plataformas é parte do trabalho, também.

Por fim, no contexto brasileiro há uma demanda reprimida por respostas a perguntas muito simples. Enquanto discute-se a eficácia da cloroquina, ainda há gente perguntando se água quente com limão cura a Covid-19. O que isso significa?

O óbvio: é preciso alinhar as estratégias de conteúdo às demandas da audiência. Ou pelo menos parte delas, pois a necessidade de respostas simples é maior do que entender processos biológicos complexos (da ação do vírus à resposta do corpo humano com uso de remédio X ou Y).

Fala-se tanto em como crises promovem mudanças, reinvenções e tudo o mais, e de certa forma até acredito nisso. Mas ainda estamos no modo responsivo. O modo reflexivo virá lá na frente -- e precisaremos estar preparados para ele também.

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