Com 52 anos de vida, o bloco europeu é inovador e busca a ampliação.
No jovem Mercosul, o conservadorismo atua contra a integração ::
No próximo dia 26 de março de 2009, completam-se 18 anos da assinatura do Tratado de Assunção, que originou o Mercosul. Na véspera dessa data, no dia 25 de março, comemoram-se 52 anos do Tratado de Roma, que deu origem à União Européia. Enquanto o primeiro sai do consultório do médico pediatra, o segundo entra no do geriatra. É importante, ao se comparar diferentes processos de integração, entre outras coisas, levar em consideração o tempo de existência de cada bloco e as características próprias de cada um. De qualquer forma, só pelo tempo é possível dizer que o comportamento dos políticos que compõem ambos os blocos guarda muitas diferenças. Uns são mais conservadores. Outros, mais avançados, modernos. A União Européia cresceu e se consolidou pela vontade de seus políticos, que defendiam e defendem a integração de Estados e de seus povos. Sabiam que um bloco só é forte se tiver mercado, economia e integração social. Só assim pode, de forma soberana, disputar posições políticas e econômicas no mundo. Essa visão integracionista falta a algumas das lideranças políticas do Mercosul e, no caso específico, àqueles que se opõem à entrada da Venezuela no bloco. Algumas lideranças políticas do Brasil argumentam que a Venezuela não seria um país "democrático", e que, por isso, não poderia estar no Mercosul. Estranha alegação, pois desde que Chávez está no governo foram realizadas, entre eleições, referendos e plebiscitos, 14 consultas populares naquele país —algumas delas impuseram inclusive derrotas ao presidente. Nosso vizinho Paraguai sempre conviveu com uma frágil democracia. Só para recordar, um único partido mandou no país por 60 anos, e raramente houve um processo eleitoral que não fosse questionado. No entanto, os que hoje se opõem à entrada da Venezuela no Mercosul sempre se calaram a este respeito. O Tratado de Assunção foi assinado em 1991, sob a égide do Consenso de Washington, esse que agora está desmoronando como um castelo de areia. Enquanto imperava esse consenso entre os governantes dos países que fazem parte do Mercosul, o bloco não cresceu, pois a inserção estratégica e soberana na economia mundial não era prioridade. Tanto é verdade que entramos neste século XXI com uma única alternativa no horizonte, entrar na Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Neste início de século, novos ventos sopraram ao sul do Equador e um novo papel foi dado ao Mercosul. Para cumpri-lo, foi elaborado um novo programa de trabalho. Esse programa reconheceu as assimetrias e criou um fundo de investimentos com o objetivo de corrigir as desigualdades existentes entre os países que compõem o bloco. Este fundo é de 100 milhões de dólares por ano e deve ser investido em infra-estrutura. Com o objetivo de dar maior segurança jurídica, institucionalidade e colaborar na correção do déficit democrático, foi criado o Parlamento do Mercosul. Decidiu-se, também, geográfica e economicamente ampliar o bloco, convidando a Venezuela a entrar no Mercosul. Com a grave crise econômica que vivemos, a adesão da Venezuela dará mais capacidade de inserção do bloco na economia e na política mundial. Como afirmei em meu discurso de posse na presidência do Parlamento do Mercosul, estou convencido de que o nosso bloco sul-americano deve se conduzir com a mesma tolerância e flexibilidade políticas que caracterizam a União Européia que, desde seu início, soube incorporar em seu seio países com governos de diferentes matizes ideológicos. Assim, defendo a incorporação da Venezuela ao Mercosul. Afinal, precisamos levar em consideração os interesses maiores e de longo prazo dos Estados, e não as idiossincrasias políticas de curto prazo, de governos específicos. Com 52 anos de vida, o bloco europeu é inovador e busca a ampliação. Começou com seis países. Está com 27 e tem o objetivo de atingir 30 em 2010. Exigem democracia para entrar na União Européia, mas não tem medo de enfrentar ideologicamente os que pensam diferente. No Mercosul, um bloco jovem, acontece o contrário: o conservadorismo e as teses senis atuam contra a integração. Dr. Rosinha, médico pediatra, é deputado federal (PT-PR) e presidente do Parlamento do Mercosul
http://www.drrosinha.com.br/
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