Por Jorge Henrique Cordeiro, da Comunidade do Blog Luis Nassif
Os transgênicos ainda geram muita controvérsia e debates, mas com a blindagem que a mídia impõe ao assunto, os principais problemas dessa tecnologia são praticamente desconhecidos do público em geral. Vamos a eles então:
1. Contaminação genética
Agricultores que queiram se dedicar ao cultivo convencional ou orgânico já sabem: se tiver alguma plantação transgênica nas redondezas, a contaminação é garantida e a missão, impossível. Tem sido assim nos Estados Unidos, onde tudo começou, na Europa, Argentina e sul do Brasil. Com a contaminação, agricultores têm prejuízos ao perderem o direito de vender suas safras como convencionais e/ou orgânicas.
O Greenpeace tem publicado anualmente um Registro sobre Contaminação Transgênica sobre os muitos casos verificados em todo o mundo.
2. Ameaça à biodiversidade
A contaminação genética pode ter também um efeito devastador na biodiversidade do planeta. Ao liberar organismos geneticamente modificados na natureza, colocamos em risco variedades crioulas de sementes que vêm sendo cultivadas há milênios pela humanidade. Além disso, os transgênicos afetam diretamente seres vivos que habitam o entorno das plantações, conforme indicam estudos científicos - como no caso das borboletas monarcas, que são insetos não-alvo da planta transgênica inseticida, mas acabam sendo afetadas. Ver aqui e aqui (arquivos em pdf).
3. Dependência dos agricultores
A empresa de biotecnologia Monsanto é hoje a maior produtora do mundo de sementes convencionais e transgênicas. Além disso, é também uma das maiores fabricantes de herbicidas do planeta, com destaque para o Roundup muito usado em plantações de soja geneticamente modificada no sul do Brasil. Com essa venda casada - semente transgênica mais o herbicida ao qual a planta é resistente -, os agricultores ficam presos num ciclo vicioso, totalmente dependentes de poucas empresas e das políticas de preços adotadas por elas.
Outro grande problema verificado nos países que têm adotado os transgênicos, principalmente os Estados Unidos e Argentina, é a draconiana propriedade intelectual exercida pelas empresas sobre as sementes transgênicas. O agricultor é proibido de guardar sementes de um ano para o outro, podendo sofrer pesados processos. E ainda, se a sua plantação for contaminada genéticamente por outra transgência e o produtor não tiver como provar que de fato sua safra se tornou geneticamente modificada pela contaminação e não pelo uso direto de sementes transgênicas, pode ser processado.
4. Baixa produtividade
Os argumentos de quem defende os transgênicos como solução para a crise alimentar que vivemos vêm caindo por terra dia após dia. Os transgênicos já se mostraram pouco competitivos economicamente e recentes estudos promovidos por universidades americanas comprovaram que variedades modificadas geneticamente são até 15% menos produtivas do que as convencionais. Confrontadas com os resultados das pesquisas, empresas de biotecnologia admitiram que seus transgênicos não foram criados para serem mais produtivos, mas sim para serem resistentes aos agrotóxicos fabricados por essas mesmas empresas.
Num primeiro momento, os transgênicos podem até ser mais produtivos do que os cultivos convencionais ou orgânicos/ecológicos, mas no médio e longo prazos, o que se tem verificado é uma redução na produção e um aumento significativo nos preços dos insumos como o glifosato, principal herbicida usado em plantações transgênicas.
5. Desrespeito ao consumidor (rotulagem)
O Brasil tem uma lei de rotulagem em vigor desde 2004, que obriga os fabricantes de alimentos a rotularem as embalagens de todo produto que usam 1% ou mais de matéria-prima transgênica. No entanto, apenas duas empresas de óleo de soja rotulam algumas de suas marcas do produto - e mesmo assim só depois de terem sido acionadas judicialmente pelo Ministério Público. Há milhares de produtos nas prateleiras dos supermercados brasileiros que chegam à mesa das pessoas sem a devida informação sobre o uso de substâncias geneticamente modificadas, numa afronta direta à lei e num claro desrespeito ao consumidor.
O Greenpeace publica, desde 2002, o Guia do Consumidor com uma lista verde de produtos que não usam transgênicos em sua fabricação e outra lista, vermelha, com produtos que podem conter organismos geneticamente modificados em sua composição.
6. Uso excessivo de herbicida
O caso da Argentina é emblemático: depois que os transgênicos começaram a ser plantados, o consumo de herbicida explodiu no país. O país vizinho passou a ser a segunda nação que mais usa produtos químicos em plantações no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. A explicação é simples: como os transgênicos são resistentes a um tipo específico de herbicida, o agricultor usa cada vez mais dele para proteger sua plantação de pragas. Com o tempo, no entanto, esse uso excessivo provoca problemas no solo, nos trabalhadores e promove o surgimento de pragas resistentes ao herbicida, exigindo mais e mais aplicações.
7. Ameaça à saúde humana
Não existem estudos científicos que comprovem a segurança dos transgênicos para a saúde humana. Apesar de exigidos por governos de todo o mundo, as empresas de biotecnologia nunca conseguiram apresentar relatórios nesse sentido - e ainda assim, seus produtos são aprovados. Por outro lado, alguns estudos independentes indicaram problemas sérios, como alterações de órgãos internos (rins e fígado) de cobaias alimentadas com milho transgênico MON863 da Monsanto.
E ainda há o risco do uso excessivo do glusofinato, componente ativo da variedade transgênica Liberty Link, da Bayer, presente tanto no milho como no arroz geneticamente modificado produzido pela empresa. Problemas como esses levaram alguns países, como a Áustria, a proibirem a importação e comercialização desses produtos.
No Brasil, infelizmente, não existe o mesmo cuidado. A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), responsável pela aprovação de transgênicos no país, vem dando sinal verde para variedades que enfrentam grande resistência em outros países, como no caso do milho MON810, da Monsanto, proibido na Europa e liberado no Brasil.
*Jorge Henrique Cordeiro é Jornalista e voluntário do Greenpeace Brasil
http://www.projetobr.com.br/
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