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sábado, 20 de dezembro de 2008

Vida Selvagem

Eu moro em um lugar muito lindo aqui em Curitiba. Bem junto ao Parque Barigui. De maneira geral, quando as pessoas descobrem isso, logo logo vem com aquela: “Que inveja! Isto é que é tranquilidade!”
Não adianta nada tentar dizer que não é bem assim... Quem é que iria acreditar nas coisas que já passamos por aqui?
Tem alguns mais antenados que perguntam sobre a invasão dos bárbaros nos finais de semana (quando você, para poder sair de casa, tinha que pedir licença pro camarada que tinha estacionado o Gol Quadrado bem na entrada da tua garagem e ele te olhava com cara de ofendido enquanto urinava no teu portão). Daí eu respondo que a coisa melhorou nos domingos depois que começaram a colocar correntes nas ruas. A gente continua sem conseguir sair de casa mas, pelo menos, o volume de urina no portão diminuiu consideravelmente.
O que as pessoas não sabem (ou sequer imaginam) é que morar assim bem perto da natureza tem seu lado, digamos, selvagem.
Quem já teve que levar o cachorro para o veterinário para tirar alguns milhares de espinhos de um Ouriço, deve saber disso.
Quem já acordou assustado com barulho de gente andando no telhado no meio da madrugada e depois descobriu que era “apenas” um Gambá gorducho, também.
E que tal ser acordado às 5:30 da manhã de um domingo por um João de Barro que resolveu exercitar os seus dotes musicais bem no galho em frente da sua janela?
Hoje, pela madrugada (não sei o horário exato; não consegui abrir os olhos o suficiente para enxergar os ponteiros do relógio) eu fui acordado por um tipo de animal (bota animal nisso!)absolutamente estranho. Ele fazia um ruído terrível, assustador mesmo, que ecoava por toda a vizinhança. Acho que era um grunhido de guerra, ou de acasalamento, daquele que as grandes-feras-machos emitem quando querem atrair as grandes-feras-fêmeas. Fiquei apavorado. As vidraças tremiam. Pensei em empunhar uma arma, quem sabe uma faca de cozinha, ou um cabo de vassoura... Jamais vou esquecer aquele som ancestral ecoando (num volume altíssimo) por todo o vale do Rio Barigui:
“Créu! Créu! Créu! Crécrécré Crécrécré Crécrécréuuuu!!!!!!
Eu mereço... Quem iria prever que a Civilização Latina do Hemisfério Sul teria este fim?...

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