Há uma pergunta que não quer calar: quantos e quais dossiês secretos tem em mãos o doutor Gilmar, para transformar o próprio presidente Lula em seu refém?
05/03/2009
Editorial ed. 314 - Brasil de Fato
Nos dias que sucederam o carnaval, a direita lançou mais uma grande ofensiva. Desta vez, com o seu foco centrado no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Se no Pontal do Paranapanema (SP) a direita pode se aproveitar da movimentação pacífica que os acampados fizeram naquele período, o mesmo não se deu nos casos de Pernambuco ou do Rio Grande do Sul.
Em Pernambuco, pistoleiros a mando de um fazendeiro invadiram um acampamento e surraram um dos acampados, contra o qual teriam, disparado uma arma, não fosse a intervenção de outros moradores.
No Rio Grande do Sul, foi mais uma ação orquestrada entre o Ministério Público local e a arquicorrupta e ultradireitista governadora do Estado, senhora Yeda Crusius (PSDB) com seus brigadistas, proibindo as escolas itinerantes que atendem as crianças sem-terra.
A grande mídia comercial
Trombeteando aos quatro ventos, amplificando e ampliando os conteúdos ideológicos da caçada aos sem-terra, a grande mídia comercial, constrói e divulga seus noticiários reescrevendo impunemente e ao seu bel-prazer versões de fatos presentes e pretéritos.
As manchetes bradaram: “MST deve 40 milhões aos cofres públicos”. Ora, desde que o Estado se retirou de diversos espaços (Governo do doutor honoris causa Fernando Henrique Cardoso) esses passaram a ser preenchidos por ONGs e/ou pelo crime organizado
Se os caminhos para suprir a ausência do Estado eram esses, e em sendo o MST um movimento legal e legalista, pois suas ações visam sempre e tão somente pressionar no sentido do cumprimento dos dispositivos da nossa Constituição que determinam que toda terra improdutiva e aquelas utilizadas para a plantação de drogas sejam desapropriadas e destinadas à reforma agrária, a escolha não poderia ser outra: o caminho seria (e continuará a ser) o das ONGs. Caminho legal e legítimo – por sinal, o mesmo escolhido pela dona Ruth Cardoso, cuja ONG, Alfabetização Solidária, recebeu mais de 330 milhões de reais de dinheiro público para a alfabetização de adultos.
Teatro do Rebolado
A expressão “Teatro do Rebolado” foi criada pelo cronista Stanislaw Ponte Preta (o mesmo que glosou a política brasileira do seu tempo com os impagáveis FEBEAPÁs – Festival de Besteiras que Assola o País) para se referir ao Teatro de Revistas, muito comuns e populares nas décadas de 1940 e 1950.
Em São Paulo, durante a primeira metade dos anos 1960, vivia o esplendor da sua decadência, o Teatro das Bandeiras. Pois bem, os textos eram mambembes, a música e a orquestra eram mambembes, os cenários eram mambembes, os atores eram mambembes, o figurino era mambembe e, sobretudo a escadaria do cenário, por onde a vedete descia no momento da apoteose, não apenas era mambembe (à altura da pobre vedete, com sua pele sempre com manchada roxas resultantes de escoriações e dos exaltados beijos do amante da noite anterior), como balançava a ponto de se temer que desabasse a qualquer momento, em cena aberta.
Pois bem, é esta a cena que ocorre a muitos dos que eventualmente assistiram de “Cuba pra lua”, “Tirando o cavaco do pau”, “Tem pixixi no pixoxó” ou outras peças ali encenadas, cada vez que o ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), pisa a ribalta para fazer suas declarações e pré-julgamentos públicos, enchendo a boca com a expressão “Estado de Direito”, em nome da legalidade, da probidade, da lisura e moral públicas. Sempre soa mal e postiço. O histórico do ministro não combina com sua fala, e só são capazes de aplaudi-lo espectadores tipo aqueles acostumados a viver nas sombras, daqueles que se escondiam pelos cantos mais escuros da platéia do Teatro das Bandeiras, para suas práticas solitárias.
A última entrada em cena do doutor Gilmar, na semana passada, para criminalizar o MST foi exemplar no sentido do que vimos falando. Foi recebida apenas com os aplausos do promotor público gaúcho, doutor Gilberto Thums, do presidente da Associação Comercial de São Paulo, senhor Alencar Burti, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil e de congêneres. Tudo isto sem esquecermos, obviamente, da grande mídia comercial e dos seus patronos da frente PSDB-DEM.
Ao se pronunciar sobre matéria que deverá julgar, o ministro Gilmar incorre em atentado contra a própria Constituição, que não lhe permite tais práticas, o que contradiz frontalmente suas demagogias de defesa do Estado de Direito. Ao discursar sobre moral pública... bem, as denúncias sobre seus trambiques em Diamantino; seu acumpliciamento com o ministro da Defesa, doutor Nelson Jobim para desvio de verbas desse Ministério para financiamento de negócios privados do doutor Gilmar saltam às nossas caras; para não falarmos do caso Daniel Dantas, e dos grampos que forjou para se livrar e aos seus sócios dos resultados de investigações que o incriminavam, tanto quanto aos seus parceiros.
Mas de imediato, duas questões são as mais graves:
1. A desenvoltura do presidente do STF e seu contumaz desrespeito as normas que disciplinam seu comportamento, certamente só é possível pela omissão dos demais juízes que compõem o STF.
2. A leniência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva frente a esse personagem. O presidente da República jamais poderia ter tentado socorrer o doutor Gilmar dos ataques e críticas ao seu comportamento público do doutor Gilmar, pré-julgando a questão e tentando criar uma campanha nacional de abertura de denúncias e processo contra os sem-terra.
O presidente Luiz Inácio saiu em socorro do doutor Gilmar dizendo que suas declarações sobre o MST, foram feitas enquanto cidadão, expondo-se a uma situação constrangedora que culminou com o desmentido e desmoralização do presidente do Executivo: o doutor Gilmar no dia seguinte ao pronunciamento do chefe do Executivo, tripudiou sobre sua cabeça e o desmentiu. Declarou em alto e bom som que não falou enquanto cidadão coisa nenhuma, mas como presidente do STF.
Ao fim e ao cabo, há uma pergunta que não quer calar: quantos e quais dossiês secretos tem em mãos o doutor Gilmar, para transformar o próprio presidente Luiz Inácio em seu refém?
Nenhum comentário:
Postar um comentário