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terça-feira, 11 de agosto de 2009

Na faculdade, graças às cotas

Katia Brembatti na Gazeta do Povo

A auxiliar de enfermagem Lucilene Fagundes da Silva Martins, 38 anos, realizou o sonho de passar no vestibular para Medicina. Com a vantagem das cotas raciais na UEPG, ela enfrentou a concorrência de 12 candidatos por vaga – um décimo da disputa acirrada nas vagas para não cotistas, que ficou em 126 por 1. Filha de um pedreiro e de uma dona de casa analfabeta, Lucilene avalia que a forma de acesso diferenciado na universidade pode permitir um avanço de classe social. “A cota vai mudar a história da minha vida e da minha família. Hoje tenho certeza de que a minha filha, de 15 anos, vai fazer uma faculdade também e ter um futuro muito melhor. É uma situação que os meus pais não poderiam prever para mim”, afirma.

A rotina no Hospital Uni­­versitário de Londrina a impulsionou a buscar a faculdade de Me­­dicina. Mas só depois da implantação das cotas raciais é que ela decidiu fazer vestibular. Desde então, foram três anos conciliando o trabalho e o cursinho – mais as responsabilidades como mãe e esposa. Lucilene só se inscreveu em universidades que ofereciam cotas e, além da UEPG, passou na Federal de Santa Catarina, mas preferiu ficar no Paraná. A auxiliar de enfermagem acredita que não teria chances de se tornar médica se tivesse de concorrer, de igual para igual, com quem se preparou em escolas particulares por muito tempo.

Natália Ridão Curty, 19 anos, também é caloura de Medicina na UEPG. “Tem cursos que são elitistas. Se a pessoa não faz cursinho, não passa mesmo”, diz a cotista, que se define como parda. Ela conta que tem muitos familiares doentes e que a rotina de peregrinar no sistema público de saúde em busca de atendimento a ajudou a escolher a profissão que quer exercer. As duas calouras asseguram que não sentiram nenhum tipo de preconceito na turma – nem pela cor, nem pela forma de acesso à universidade. E, apesar de apontarem mais os aspectos econômicos da desigualdade, como o desnível da formação na escola pública, elas defendem que a dívida histórica do Brasil com os negros só será diminuída com políticas de inclusão.

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