O jornalista Luiz Claudio Soares de Oliveira, editor da Gazeta do Povo on-line, analisa a revista Joaquim, editada por Dalton Trevisan, entre 1946 e 1948
A bem-sucedida trajetória literária de Dalton Trevisan, de 84 anos, é resultado, também, da inquietação que o escritor desde muito já manifestava publicamente. Quando tinha 15, 16 anos, o então estudante Trevisan dirigia a revista Tingui, que abria espaço para temas gerais e para a produção do jovem poeta (sim, Trevisan já escreveu poesia). Posteriormente, o futuro contista estaria à frente da Joaquim, uma das mais importantes revistas culturais publicadas no Brasil.
Essas ações de Trevisan não passaram despercebidas pelo olhar do jornalista Luiz Claudio Soares de Oliveira, editor da Gazeta do Povo on-line. Há muito que ele tinha interesse no assunto, mas foi em 2001, quando a Imprensa Oficial do Paraná publicou uma edição fac-similar da Joaquim, que o jornalista, de fato, decidiu que iria se aprofundar no tema.
Em 2003, Oliveira ingressou no curso de mestrado em Estudos Literários, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e, durante dois anos, estudou a revista. O jornalista defendeu a dissertação em 2005, que recentemente foi transformada livro Dalton Trevisan (En)Contra o Paranismo, que será lançado hoje à noite no Teatro da Caixa.
O livro, apesar de ser resultado de um trabalho acadêmico, é uma grande reportagem, em que Oliveira analisa, com muita clareza e texto fluente, como Trevisan coordenou a revista. A postura crítica e combativa, que se tornou uma das principais características da literatura do Vampiro de Curitiba, já estava presente na Joaquim.
O escritor usou a revista como suporte para atacar ícones da cultura local, como Emiliano Perneta, o príncipe dos poetas paranaenses, e Alfredo Andersen, outra unanimidade, no caso, das artes plásticas. "Trevisan, na realidade, atacava o paranismo, que engessava o univer so mental paranaense", afirma Luiz Claudio.
O paranismo foi um movimento de afirmação da cultura paranaense, que surgiu no final do século 19, e sugeria que os artistas utilizassem em suas obras referências locais, como o pinhão. Elogio mútuo e ênfase em tudo o que fosse paranaense, "mesmo que seja ruim, é nosso", faziam parte do programa paranista. "O Modernismo, de 1922, praticamente não aconteceu no Paraná, pois foi ignorado pelos adeptos do paranismo", diz Oliveira.
O jornalista identifica dois momentos da revista: inicialmente, houve a desconstrução do paranismo e, na fase final, a Joaquim abriu, ainda mais, as suas páginas para ideias e artistas brasileiros. Luiz Claudio também procurou entender por que a Joaquim, que tinha 25% de suas páginas preenchidas com anúncios, encerrou as suas atividades abruptamente, em 1948. "Talvez, no momento em que a revista poderia se institucionalizar, Trevisan decidiu tirar a Joaquim de cena", analisa.
O projeto
Luiz Claudio estudou, de 2003 a 2005, a revista Joaquim, que Dalton Trevisan editou de abril de 1946 a dezembro de 1948. Apesar de ter sido uma dissertação de mestrado, que prevê um estilo mais acadêmico, Oliveira conseguiu elaborar um texto fluente, uma grande reportagem. Ele fez uma análise, profunda, sobre a proposta da revista, que foi contrária ao paranismo e aberta ao mundo.
A Joaquim
A Joaquim, durante pouco mais de dois anos de atividades, conseguiu atrair alguns dos principais intelectuais brasileiros para o seu grupo de colaboradores. Wilson Martins, Temístocles Linhares, Carlos Drummond de Andrade, José Paulo Paes e Poty foram alguns dos nomes que contribuíram com a revista.
Serviço: Dalton Trevisan (En)Contra o Paranismo. Luiz Claudio Oliveira. 216 págs. R$ 25. Hoje, a partir das 19h30, acontece um bate-papo do autor com os jornalistas Otávio Duarte e José Carlos Fernandes, no palco do Teatro da Caixa (R. Conselheiro Laurindo, 280), (41) 2118-5111. Entrada franca. Os ingressos devem ser retirados, gratuitamente, na bilheteria do teatro, hoje, a partir do meio-dia. Posteriormente, Oliveira autografa o livro.
COMENTÁRIO: É interessante conferir o que tem a dizer sobre o nosso "paranabairrismo" um pesquisador tão ligado à "Gazeta do Povo", jornal que é um dos baluartes do "paranismo" (que ainda sobrevive por estas plagas mais ao sul).
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