Em pesquisa publicada na última edição da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, pesquisadores da Universidade de Fortaleza, no Ceará, constataram que o atendimento recebido por gestantes contra a sífilis congênita não é suficiente para garantir o controle da doença. Para o estudo, foram entrevistadas 58 mulheres (média de 23 anos) com a doença internadas em cinco maternidades públicas do município e consultadas suas informações de prontuário e do cartão de gestante. Os resultados apontaram que apenas 5,2% das gestantes foram adequadamente tratadas e que o motivo principal dessa inadequação, em 88% dos casos, foi a falta ou os problemas apresentados no tratamento do parceiro.
O Ministério da Saúde preconiza que o exame de diagnostico de sífilis deve ser realizado no início da assistência pré-natal, repetido no terceiro trimestre gestacional e no momento do parto |
“Dentre as 29 gestantes nas quais o diagnóstico de sífilis foi feito durante o pré-natal, nove tiveram o tratamento finalizado 30 dias ou mais antes do parto, em 11 o tratamento foi finalizado em menos de 30 dias da data do parto, em uma não foi realizado o tratamento e em oito não foi possível determinar a data do término do tratamento”, afirmam os pesquisadores. “Considerando-se as 58 gestantes, observou-se que quatro delas apresentaram resultado reagente no momento do parto”. Eles destacam que o Ministério da Saúde preconiza que o exame de diagnostico de sífilis deve ser realizado no início da assistência pré-natal, repetido no terceiro trimestre gestacional e no momento do parto, a fim de garantir tratamento em tempo hábil para mãe e precoce para a criança. Não houve registros do segundo exame na pesquisa, o que mostrou a fragilidade do atendimento pré-natal.
Segundo os pesquisadores, a sífilis é uma doença sexualmente transmissível que pode facilmente ser controlada, levando-se em consideração a existência de testes diagnósticos sensíveis, tratamento eficaz e de baixo custo. A ação mais consistente para o controle da sífilis congênita seria assistência pré-natal ampla e de qualidade, que levaria ao diagnóstico precoce e ao tratamento em tempo hábil. “No Brasil, apesar da sífilis congênita e a sífilis na gestante serem agravos de notificação compulsória desde 1986 e 2005, respectivamente, apenas 32% dos casos de sífilis gestacional e 17,4% de sífilis congênita são notificados. Esses dados refletem deficiências importantes na qualidade dos serviços de assistência no período pré-natal e no parto”, comentam os estudiosos.
Além disso, os pesquisadores apontam que 69,2% das gestantes eram casadas e 89,7% referiram o parceiro como pai da criança. “A sífilis, nesse contexto, pode ser consequência de relacionamentos extraconjugais ou ter como fonte de infecção parceiros sexuais anteriores, já que 67,3% das gestantes referiram tempo de relacionamento com o atual parceiro igual ou inferior a cinco anos”, explicam os estudiosos. Eles acrescentam que, apesar da transmissibilidade da sífilis por contato sexual estar relacionada à fase da infecção e declinar ao longo do tempo, é possível que esta ocorra alguns anos após a lesão primária, o que teoricamente poderia justificar a presença de infecção entre parceiros monogâmicos.
“A diminuição significativa da sífilis no período gestacional e a consequente diminuição de casos congênitos da doença só poderá ser efetiva quando as medidas de prevenção e controle forem satisfatoriamente aplicadas”, destacam os pesquisadores. “Para isso, é necessário que tanto os profissionais da saúde quanto os gestores estejam seriamente comprometidos com a qualidade dos serviços prestados na assistência pré-natal. Considerando a importância dos registros referentes ao acompanhamento da gestante, cabe ressaltar a necessidade de melhoria nas informações registradas nos prontuários e nos cartões das gestantes”.
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