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Para saber onde estamos e como estamos é preciso medir. Essa é a ideia central na realização de auditorias clínicas: avaliar o que estamos fazendo, comparar a padrões de excelência estabelecidos e apresentar propostas de ação voltadas à melhoria da qualidade do que estamos fazendo. Por outro lado, quando se menciona o termo auditoria não é incomum que venha em mente a imagem de uma avaliação externa, descontextualizada do cotidiano do serviço, com caráter mais punitivo do que construtivo.
Essa imagem, entretanto, nada tem a ver com os fundamentos de uma auditoria clínica, em que os responsáveis pela realização da auditoria devem ser os próprios profissionais do serviço. O objetivo não é de encontrar um culpado pelo fato do serviço não alcançar as metas estabelecidas, mas sim de encontrar as razões que podem estar atrapalhando o desempenho da equipe. A partir daí, planejar e implementar mudanças que possam ajudar a oferecer um cuidado de melhor qualidade.
Desse modo, a realização de uma auditoria clínica pressupõe o envolvimento de profissionais do próprio serviço que está sendo auditado com a tarefa. E nada impede que pacientes e profissionais desse ambiente se envolvam juntos nessa ação.
Podemos dizer que, em linhas gerais, a realização de uma auditoria clínica deve seguir as seguintes etapas:
1.Escolha do tópico ou tema a ser auditado
2.Busca na literatura científica
3.Estabelecimento dos padrões de excelência a serem alcançados
4.Planejamento e desenho da auditoria
5.Coleta de dados relativos à performance do serviço
6.Análise dos dados
7.Apresentação do relatório e propostas a serem implementadas
8.Implementação das mudanças necessárias
9.Realização de nova auditoria
Como pode-se ver, fica constituído um ciclo de melhoria da qualidade do serviço, e ao mesmo tempo em que o serviço se qualifica os padrões de excelência se tornam mais elaborados. Isso faz o ciclo adquirir características de uma espiral em ascensão.
Observando as etapas para a realização de uma auditoria clínica, ficam evidentes algumas semelhanças entre esse processo de auditagem e a pesquisa científica. Entretanto, é importante ressaltar que, por princípio, são processos essencialmente diferentes. Nas auditorias clínicas o conhecimento está estabelecido pela literatura, e o que se busca é mensurar a performance do serviço e compará-la a esse padrão. Na pesquisa científica há uma hipótese, e se pressupõe o desenvolvimento de um novo conhecimento científico. Nas auditorias a metodologia, a análise estatística e o rigor científico, de forma geral, não são aspectos preponderantes, enquanto que na pesquisa científica o rigor metodológico é eminentemente necessário, e exige-se um grau de certeza considerável, levando-se em conta seus objetivos.
Essas diferenças não impoem qualquer demérito às auditorias clínicas. São processos diferentes. Na prática, sob o ponto de vista de um determinado serviço de saúde que busca a melhoria da qualidade, uma auditoria clínica pode prover informações tão ou mais relevantes quanto a pesquisa científica.
Além disso, a auditoria clínica também pode ser publicizada na literatura, uma prática salutar que vai servir de modelo e incentivo para que outros serviços também se envolvam em processos semelhantes.
E aí, vamos auditar?
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