Nossos nobres deputados
Se todos os partidos – inclusive o PT e o PMDB, os maiores da coligação que elegeu Dilma em 2010 – estão reclamando do governo federal, então certamente temos que nos juntar a eles. Já não bastam as indicações políticas para 38 ministérios, Petrobras, Furnas, vários fundos de pensão e dezenas de outros órgãos. É muito pouco, entendemos. Então vamos ajudar os parlamentares e pressionar a presidente para ver se ela libera um carguinho a mais.
Chantagem
Falando bem sério agora, quando eu apertei as teclas da urna eleitoral em 2010, não me lembro de ter passado uma procuração aos parlamentares para agirem como vigaristas. Ao condicionarem a votação do Código Florestal e da Lei Geral da Copa a barganhas, estão chantageando o Executivo federal. Não vem ao caso se o meu voto foi apenas um. Esse um ajudou a eleger um parlamentar, que faz parte de um partido ou de uma bancada, os quais estão exagerando na queda de braço com Dilma.
A reclamação não implica dizer que o Planalto está fazendo tudo certo, pois não está. A forma atrapalhada com a qual são tomadas as decisões em Brasília não combina mais com o país que estamos construindo. Precisamos de planejamento, não apenas de reação às pressões.
A inabilidade do Executivo nacional, entretanto, não pode servir de desculpa para uma chantagem feita por parlamentares, a qual põe em risco a nossa soberania e nossos recursos naturais.
Pela movimentação recente na Câmara, a votação do Código Florestal não terá relação nenhuma com os efeitos que a nova norma terá sobre nossa produção de alimentos ou sobre a manutenção de florestas e áreas de preservação. O que vai definir o voto dos deputados da base aliada é a capacidade do governo federal em atender às demandas por cargos, verbas e favores.
Copa do Mundo
As discussões da Lei Geral da Copa padecem do mesmo mal. Como bem alertou o colega André Gonçalves, nenhuma voz se levantou contra os abusos das cláusulas comerciais que protegem a Fifa. A liberação ou não de cerveja no estádio virou uma guerra, e o governo federal já capitulou, admitindo que cada estado faça a discussão sobre o tema. Abre parênteses: é claro que os governos estaduais terão que aceitar as imposições da Fifa, sob o risco de perderem a chance de sediar o Mundial. Temos 12 sedes, mas pelo menos duas poderiam ser descartadas. A transferência da discussão apenas vai abrir mais espaço para barganhas, desta vez envolvendo deputados estaduais e governadores.
E a insegurança jurídica permanece: o Estatuto do Torcedor, uma lei federal, veda a comercialização de bebida. Se o governo do Paraná liberar a venda, mesmo que apenas para os quatro jogos previstos em 2014, não será de se esperar ações judiciais questionando o Executivo estadual?
Aqui no Paraná a discussão já começou mal. Um deputado, contra a liberação, falou uma verdade: esporte e bebida não combinam. Mas esse não é dos argumentos mais fortes para proibir a venda, já que essa máxima se aplica perfeitamente aos praticantes de esportes, e não exatamente à torcida. Outro deputado diz que não vê problema em permitir a venda durante esses quatro jogos, para evitar problemas com a Fifa. A justificativa: os turistas que virão para cá “são pessoas de bom nível”.
Será que conseguiríamos trazer para cá parlamentares “de bom nível”? Que ficassem indignados com a falta de informações sobre os gastos com a Copa no Paraná? Que tivessem a decência de questionar como um conselheiro do clube que será favorecido pelos investimentos pode ser a mesma pessoa que é responsável pela organização estadual para o Mundial de 2014?
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