As entidades têm problemas bem diferentes. A Adesobras, por exemplo, está sob intervenção judicial após ter sido alvo de uma operação da Polícia Federal em 2011. Mas há organizações não governamentais com problemas bem menos sérios – caso da Associação Imbuia de Pesquisas, que segundo a União já apresentou os documentos que faltavam e deve ser retirada da relação.
A ONG mais conhecida da lista, dentre as paranaenses, é a Sociedade Evangélica Beneficente de Curitiba (SEB), mantenedora do Hospital Evangélico e da Faculdade Evangélica. A entidade fez um convênio com o Ministério do Turismo, com teto de R$ 4 milhões, para qualificação de agentes turísticos para a Copa de 2014. No entanto, o Tribunal de Contas da União (TCU) apontou irregularidades no convênio, que foi suspenso.
Procurada pela reportagem, a SEB disse que o novo presidente, João Jayme Ferreira, assumiu há menos de duas semanas e ainda está tomando pé da situação, e que por isso não iria se pronunciar sobre o assunto.
Outra instituição que entrou na lista devido a um convênio com o Ministério do Turismo foi a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Paraná (Abih). Segundo seu presidente, Henrique Lenz César Filho, a entidade recebeu R$ 696 mil, de um contrato de R$ 1,2 milhão, para a produção de uma cartilha. “Não há nenhuma irregularidade”, afirma César Filho. “Apenas, como houve problemas com outras instituições, resolvemos não gastar o dinheiro e esperar instruções sobre o que fazer”, diz ele.
Justiça comunitária
Outra ONG que entrou na lista da CGU foi o Instituto Desembargador Alceu Conceição Machado (Idam), de Curitiba. A instituição recebeu R$ 120 mil do Ministério da Justiça para montar um Núcleo de Justiça Comunitária no bairro Sítio Cercado, na capital paranaense.
Segundo o juiz Roberto Bacellar, um dos organizadores do projeto do Idam, a ideia era prestar atendimento jurídico e ajudar a população a resolver os próprios problemas, inclusive capacitando agentes da região para fazer o atendimento. “Nunca mais faço projetos com dinheiro público”, diz Bacellar. “Cada vez mudavam as instruções sobre o que tínhamos de fazer. Cheguei a tentar devolver o dinheiro, mas nem isso permitiram que fizéssemos”, afirma.
Bacellar diz que o instituto, que é presidido por sua esposa, está encerrando as atividades. “Vamos fazer uma ata notarial para registrar tudo o que foi adquirido e fechar as portas”, diz. Segundo ele, antes será preciso pegar computadores que estão com voluntários que ainda prestam atendimento à população.
A última ONG a entrar na lista foi o Conselho Londrinense de Assistência à Mulher (Clam), responsável pelo Hospital da Mulher. O hospital fechou as portas no ano passado. A reportagem não conseguiu contato com a diretoria da ONG para comentar o assunto.
Municípios “driblam” lei ao fazer terceirizações, afirma especialista
Para o especialista em gestão municipal François Bremaeker, as prefeituras brasileiras usam a contratação de ONGs e de empresas terceirizadas como um modo de “driblar” a Lei de Responsabilidade Fiscal. “Desde que a lei passou a impor um limite de gastos com funcionalismo, essa passou a ser uma maneira de contratar mais pessoas sem ferir a legislação”, afirma Bremaeker, que é consultor da Associação Transparência Municipal.
Apesar de ajudar as prefeituras a não terem problemas para aprovar suas contas, o esquema causa problemas. “Como é preciso pagar a ONG, é claro que sai mais caro do que se fosse feita a contratação direta dos funcionários”, diz. Segundo ele, a terceirização, porém, também tem aspectos positivos. “Um dado importante é que isso reduz o gasto previdenciário mais adiante.”
Fiscalização
Para combater as fraudes nos contratos, o Tribunal de Contas do Estado (TC) mudou as regras de fiscalização de ONGs no ano passado. Antes, apenas a prefeitura prestava contas de como havia gasto o dinheiro. Agora, as entidades que recebem a verba também precisam explicar como o dinheiro foi aplicado.
Segundo Elias Gandour Thome, diretor de Análise de Transferências, as irregularidades mais comuns nesse tipo de contrato são a cobrança de taxa de administração, a subterceirização (quando a ONG repassa o contrato para outra instituição), e a falta de demonstração de como foram gastos os recursos. A instrução normativa do TC, publicada em outubro, determina também que a ONG tenha atuação prévia na área exigida pelo contrato.
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