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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Por que Alckmin preferiu a indústria da junk food à saúde das crianças?

por PAULO NOGUEIRA(*) no Diário do Centro do Mundo


Uma cineasta expõe o problema da obesidade infantil ao mesmo tempo que Alckmin perde a chance de ajudar a resolvê-lo.


Estela

Me ergo simbolicamente neste instante para uma vaia e um aplauso de pé.

O aplauso vai para a cineasta Estela Renner, de 39 anos. Ela lançou há pouco tempo um documentário que merece ser visto, analisado e discutido: Muito Além do Peso.

A obesidade alcança um terço das crianças brasileiras, e este é um problema grave de saúde pública. Mas pouco se fala nisso, e quase nada se faz.

O documentário de Estela rompe um silêncio inaceitável. Como você poderá verificar no pé deste artigo, é um trabalho relevante, competente e agradável. É gostoso de ver, e faz pensar.

Estela fez um marco no combate à obesidade infantil entre os brasileiros. Quase que ao mesmo tempo, vimos o antiexemplo, a miopia tacanha exatamente na mesma área.

Peço a todos uma salva de vaias para o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Alckmin vetou um projeto de lei que restringia a propaganda de junk food para crianças e jovens.

Ficamos mais ou menos assim: Estela empurrou o caso numa direção e Alckmin noutra. É desnecessário dizer qual dos dois empurrou para o lado certo.

O que terá levado Alckmin a tamanho absurdo?


Alckmin com Maurício de Sousa e sua filha Mônica

Ele alegou que aquele tipo de restrição publicitária é “inconstitucional”. Não parece muito crível a explicação. Como disse Wellington, quem acredita nisso acredita em tudo.

É mais provável que tenha havido pressão da indústria da junk food. Pode ter pesado também um fator político: o autor do projeto é Rui Falcão, do PT.

Pouco antes de seu veto, a jornalista da Folha Mônica Bergamo registrou, em sua coluna, que Alckmin recebera Maurício de Sousa, da Turma da Mõnica, para tratar do tema. Os personagens da Turma da Mônica há muito tempo rendem a seu criador dinheiro por conta de propaganda de produtos alimentícios que vão de salsinhas a biscoitos — nada saudáveis.

Seja como for, Alckmin vai consolidando a imagem de uma nulidade engravatada e desprovida de carisma. É um dos piores governadores que São Paulo já teve, e eis uma competição acirrada.

De Quércia a Maluf, de Serra a Fleury, e agora com Alckmin, os paulistas têm-se esmerado em más escolhas nas urnas. Como São Paulo sobreviveu a tantos governadores ineptos é um tema que merece uma discussão à parte.

Mas retornemos às palmas. Estela as merece.

Clap, clap, clap. De pé.



(*) O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.




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