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domingo, 9 de junho de 2013

Tucanistão, muito além da ALSTOM: Os Negócios do Doutor Guido (Cerri)

Editorial da Revista da ADUSP


Poucas organizações privadas acumularam tanto poder político quanto as fundações privadas, ditas de apoio, que atuam no setor da saúde. Duas delas, a Fundação Faculdade de Medicina (FFM) e a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), tendo se credenciado como “organizações sociais”, respondem atualmente, ao lado da Santa Casa de Misericórdia, pela maior parte dos contratos de gestão que privatizam a saúde pública em São Paulo (Estado e Capital). 

Eis que, com diversos contratos em andamento com o governo estadual, a FFM tem a felicidade de ver seu presidente guindado ao posto de... secretário estadual da Saúde! Precisamente o titular da pasta encarregada de gerir tais contratos. O presidente, então, licencia-se do cargo. 

É o que consta do site da fundação privada: “presidente licenciado”, dando a entender que voltará em algum momento.

Giovanni Guido Cerri tornou-se professor titular da Faculdade de Medicina da USP em 1996, e logo galgou todos os postos disponíveis na hierarquia daquela unidade e do seu Hospital das Clínicas, inteiramente controlado pela fundação privada. Ao longo dos anos, o radiologista Cerri tratou igualmente de seus próprios negócios. Criou empresas de medicina diagnóstica, tornou-se sócio cotista de um grupo poderoso do setor de laboratórios e associou-se a um reputado hospital privado, o Sírio-Libanês.

Ao assumir a pasta estadual da Saúde, Cerri permaneceu como membro do Conselho de Administração do Hospital Sírio-Libanês, embora este também mantenha uma “organização social” que possui contrato milionário com o governo Alckmin. A julgar pelo site da instituição privada, Cerri exerce ainda o cargo de coordenador do centro de radiologia do hospital. Não são evidências suficientes de conflito de interesses?

Não faz tanto tempo assim, o governador demitiu um funcionário de escalão inferior da Secretaria de Segurança Pública, que tinha sua própria empresa (também contratada pelo governo, como forma de “melhorar a remuneração” desse funcionário), a qual por sua vez comercializava dados com terceiros. Situação inaceitável, proclamou Alckmin na época. Pois bem, o caso atual é infinitamente mais grave. Como demonstra a reportagem de Débora Prado e Tatiana Merlino iniciada na p. 19, Cerri é o principal responsável pela gestão de contratos que, somados, ultrapassam a casa do bilhão de reais. E que interessam diretamente a instituições privadas às quais ele continua ligado por muitos laços.

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