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São tantas as coincidências e circunstâncias suspeitas em torno dos assassinatos dos coronéis Paulo Malhães, na sexta (25) em Nova Iguaçú (RJ), e Julio Molina em novembro de 2012 em Porto Alegre (RS), que não se pode desprezar a possibilidade de queima de arquivo.
Ambos participaram ativamente da tortura política no Rio das décadas de 1970 e 80, guardavam arquivos pessoais sobre suas atividades (parte dos de Malhães estava em computadores roubados) e foram mortos a tiros – Molina com 15 perfurações, de três calibres. Nos dois casos, houve suposta tentativa de roubo de armas que colecionavam.
Pior: na segunda (28), a repórter Juliana Dal Piva, do diário carioca O Dia, descobriu que o também coronel Brilhante Ustra, ex-comandante do DOI-Codi de São Paulo (1970-74), publicou, em sua conta no Twitter a notícia do assassinato de Malhães “às 13h08 — 31 minutos antes da primeira notícia em página de empresa jornalística, às 13h39”. No mesmo dia, a Polícia prendeu o caseiro de Malhães por suposta participação no crime.
Malhães operava no escritório do Serviço Nacional de Informações no Rio. Ele admitiu à Comissão Nacional da Verdade (CNV) ter torturado presos políticos. Molina comandou o Doi-CODI em 1981, quando seus militares explodiram uma bomba no Riocentro.
Paulo Malhães. Foto: Pedro Kirilos
Estas circunstâncias seriam suficientes para adiar o sepultamento de Malhães, realizado no sábado (26), até a produção de laudo cadavérico e perícia no local. Mas, a autorização para o enterro, em estranho regime de facto de urgência baseou-se em lacônica guia que atestava como causa da morte edema pulmonar e isquemia do miocárdio.
Enquanto isso, uma a reportagem de Diana Brito na Folha de São Paulo, no sábado, aumentava a necessidade de cautela. Um afilhado e vizinho de Malhães contou à repórter ter ouvido da viúva (Cristina) que os assassinos se comunicavam por rádio com uma pessoa que insistia: “Ainda não matou ele?”. Em duração incomum a latrocínios, Malhães foi torturado por nove horas, como a enviar sinais a outros torturadores interessados em depor.
Outras circunstâncias também precisam ser investigadas, como o “crime de mando”. A exemplo de outros torturadores desempregados pela volta da democracia, Manhães se envolveu com o bicheiro Anísio, da Beija-Flor. Além disso, o bairro Marapicu, onde o torturador morava, é controlado por milícias, que em última instância autorizam, ou não, a presença ali de homens como ele.
Nesse emaranhado de hipóteses que unem o passado ao presente, a Polícia Civil não pode dispensar a ajuda da Federal – Manhães era de especial interesse à CNV - , inclusive para garantir segurança e a vida de outros potenciais depoentes. E nisso é preponderante a participação da PF.
(*) Carlos Tautz, jornalista e coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas.
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