Na Carta Capital - Riad Younes
Câncer de próstata é uma doença muito comum, principalmente em homens com idade superior a 65 anos. Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimam que um em cada dez indivíduos com mais de 75 anos tem câncer de próstata, anualmente.
Essas estatísticas levaram os pesquisadores a tentar reduzir a mortalidade causada por esse tumor maligno, além de melhorar as técnicas de tratamento. Desenvolveram aparelhos de radioterapia extremamente precisos, com planejamento tridimensional que aumentou a quantidade de radiação na área tumoral e reduziu a exposição de tecidos normais aos efeitos deletérios do tratamento. Melhoraram as técnicas cirúrgicas, reduzindo as chances de temidas complicações, como impotência e descontrole da urina, aumentando, ao mesmo tempo, as chances de cura. Os avanços incluíram, recentemente, o uso de videolaparoscopia e de cirurgia robótica. Mas, apesar disso, alguns pacientes apresentam efeitos colaterais importantes, principalmente quando se trata de tumores grandes, avançados.
A divulgação mundial dos testes para diagnóstico precoce de câncer de próstata aumentou significativamente o número de tumores encontrados em fase muito inicial, quando as chances de cura seriam elevadas. O exame de PSA no sangue (antígeno específico da próstata), aliado à avaliação direta da próstata, por toque retal ou por ultrassonografia, tornou-se uma rotina recomendada pelos especialistas.
Estatísticas divulgadas nos últimos dez anos têm evidenciado a presença, muito comum, de tumores de próstata com crescimento muito lento e baixa probabilidade de causar problemas ao paciente. Os especialistas começaram a questionar a necessidade de submeter todos a testes de detecção precoce, que simplesmente encontrarão doença sem relevância clínica.
Um estudo recentemente publicado por cientistas da Universidade de Erasmus, em Roterdã (Holanda), liderado por G. Draisma, avaliou o impacto do rastreamento e do diagnóstico de câncer de próstata em homens com idades entre 54 e 80 anos. Esse estudo foi publicado na conceituada revista médica Journal of The National Cancer Institute.
Os resultados foram contundentes. Dependendo da população examinada, entre 23% e 40% dos tumores malignos detectados em programas de rastreamento com PSA não se manifestariam clinicamente durante toda a vida do paciente. Todos foram “hiperdiagnosticados” e encontrado um câncer sem relevância clínica.
E daí? Primeiro efeito colateral dos diagnósticos é a ansiedade do paciente em saber que tem um tumor maligno. Geralmente, a próstata terá de ser tratada. Operação. Radioterapia. Hormonioterapia (bloqueio dos hormônios masculinos). Complicações potenciais desses tratamentos, incluindo infecções frequentes, irritação da bexiga e do reto, dores, impotência, descontrole da urina. Por fim, e não menos importante, o fato de não existirem evidências claras de que os pacientes com câncer de próstata diagnosticado tão precocemente, através do exame de sangue, teriam maior probabilidade de ser curados que as outras pessoas que não se submeteram ao programa de detecção e rastreamento. Efeitos colaterais sem benefício óbvio.
Esse estudo confirmou a recente recomendação do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, que retirou a indicação de homens com idade acima de 75 anos de fazerem o exame anual de PSA.
E agora? Vários estudos estão sendo realizados para tentar identificar os cânceres que realmente precisem ser tratados. Evitaremos, assim, os efeitos colaterais de procedimentos terapêuticos desnecessários. Esperamos, no futuro próximo, conseguir separar os tumores agressivos, perigosos, daqueles sem importância clínica. Por enquanto, sugerem os cientistas, antes de se submeter ao exame de PSA, discuta os riscos e as vantagens com seu médico. Principalmente se você tiver mais de 75 anos.
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