A mente delirante de Jair Bolsonaro não é a única responsável pelo desgoverno em que o Brasil se encontra. Também a empáfia e a megalomania dos militares estrelados brasileiros são elementos fundamentais para que o país tenha chegado a essa situação caótica, especialmente no combate à pandemia.
Os generais que há cinco anos se reuniram em torno do ex-comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, para decidir quem deveria presidir a República e avalizaram o nome de Bolsonaro já teriam cometido um erro histórico se tivessem feito somente isso. Mas foram além: reconhecendo a intempestividade do candidato que ganhou as eleições de 2018, resolveram participar do governo para tentar conter seus arroubos e as maluquices do grupo olavista.
Treinados para uma circunstância específica — a guerra —, boa parte dos oficiais das Forças Armadas há décadas forjou um sentimento de superioridade em relação aos civis que de forma alguma se justifica. Uma boa parcela dos generais acredita que em qualquer área de atuação os militares são mais competentes, mais ágeis e mais honestos que aqueles que não usam farda.
O resultado dessa ilusão pode se verificar no desastre que é o governo Bolsonaro em todas as áreas, mas especialmente na pasta que é crucial para preservar a vida dos brasileiros em meio à maior pandemia da história da humanidade: o Ministério da Saúde.
Depois que Mandetta e Teich rejeitaram a determinação criminosa do presidente de liberar para uso contra a covid-19 um medicamento sem aval da comunidade científica, Bolsonaro decidiu que a obediência, e não o conhecimento técnico, passaria a ser característica fundamental do ocupante da pasta.
Assim, o Ministério da Saúde foi entregue a um general da ativa, Eduardo Pazuello, que nos primeiros escalões também colocou militares.
Com isso, o governo Bolsonaro abriu mão de ter na pandemia o principal trunfo para combater o avanço da doença. A equipe de epidemiologistas e infectologistas do ministério há décadas dá provas de ser a melhor do mundo, com amplo reconhecimento internacional.
No lugar desse grupo de excelência entraram militares que tomaram para si a decisão sobre assuntos sobre os quais não têm conhecimento.
Como resultado, o Ministério da Saúde até hoje não tem plano nacional de combate à pandemia, gastou menos do que poderia para ajudar governadores e prefeitos, tentou esconder o número de mortes, não fez campanha pelo isolamento social, gastou milhões em remédios inócuos, deixou passar da data de validade 7 milhões de testes para coronavirus, entre outros disparates.
Foi assim que passamos de 180 mil mortes, muitas delas evitáveis.
Não bastasse essa coleção de burradas, Pazuello e sua turma foram além: não se prepararam para disponibilizar aos brasileiros as tão esperadas vacinas, que em outras partes do mundo já estão sendo aplicadas. Envolvido na guerra política de Bolsonaro, o ministro hesita em comprar o imunizante que aparentemente mais rapidamente estará à disposição, a vacina CoronaVac.
Para coroar, Pazuello agora é acusado de falsidade ideológica. Encaminhou ao Supremo Tribunal Federal um plano de imunização com a assinatura de 36 cientistas que vieram a público denunciar que desconhecem e discordam do texto. Uma das técnicas diz que o governo excluiu das prioridades vários grupos que deveriam estar na frente da fila porque sabe que não conseguirá vacinas para todos.
Até onde vai a arrogância dos fardados que ocuparam o Ministério da Saúde?
Já passou da hora de admitirem que não deram conta da tarefa e devolver aos cientistas o comando do combate à pandemia. A cada dia que essa decisão é adiada, milhares de mortes evitáveis são registradas no pais — isso para não falar dos casos em que, mesmo quando o paciente se salva, a vida se torna uma luta diária contra sequelas graves.
Os melhores médicos, epidemiologistas e infectologistas do mundo, que são os brasileiros, estão à espera de um sinal para reduzir os danos desse desgoverno. Saberão traçar o plano de imunização adequado, fazer a logística correta e escolher a vacina ideal. Não precisam de Pazuello.
Resta ao general a humildade de voltar a exercer sua especialidade no ambiente adequado, o quartel
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