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terça-feira, 12 de agosto de 2014

Artigo do Dr. Rosinha: “Menos médicos”

“Fazem parte daqueles que se opõem ao ‘Mais Médicos’ justamente aqueles que, no governo ou quando estiveram no governo, nunca se preocuparam com a saúde da população”, diz Dr. Rosinha, em resposta às críticas feitas ao programa federal

Dr Rosinha(*), no Congresso em Foco


Cheguei à conclusão que “Menos Médicos” é o que uma parte das entidades médicas, muitos deputados federais, principalmente do DEM, PSDB, PPS, PMDB, SD, PSD e da mídia do Brasil queriam na época em que discutimos a medida provisória que propôs o “Programa Mais Médicos”. Alguns, como o senador e presidenciável Aécio Neves (PSDB), continuam querendo menos médicos até hoje.

Na época do debate, 2012, eram 1,8 médicos para cada mil habitantes no Brasil. No entanto, mesmo sabendo que esse índice é baixo em todos os parâmetros internacionais, se colocaram contra.

Reafirmo que “Menos Médicos” é o que queria a maioria dos médicos brasileiros e queria isso para concentrar, mesmo que neguem, mais poder e mais dinheiro. Para esse grupo, 1,8 médicos para cada mil habitantes era muito. Queriam menos para ganhar mais.

Cerca de um ano após entrar em ação, o “Mais Médicos” já tem trazido excelentes resultados, mas há aqueles que continuam contra, como por exemplo, o candidato do PSDB, Aécio Neves. Cheguei a essa conclusão ao ler e/ou ouvir suas declarações.

No dia 5 de agosto, Aécio visitou, em Brasília, a sede regional da Associação Médica Brasileira e disse o que pensa da saúde e do Sistema Único de Saúde (SUS). Entre outras coisas ele disse que não renovará o convênio com a OPAS (Organização Pan-americana da Saúde) e que a presença de médicos cubanos tem “data de validade”. Não renovar o convênio com a OPAS significa que, daqui a três anos, teremos menos médicos trabalhando no Brasil do que temos hoje. Não só perderemos em quantidade, mas também em qualidade.

Nas redes sociais, nas reuniões e nos meios de comunicação ouço com muita frequência “que os médicos cubanos são bem mais atenciosos do que os médicos brasileiros”. Concordo, pois sou testemunha da desatenção que parte dos médicos dedica aos seus pacientes. Como médico, sei que a atenção no atendimento na maioria das vezes é sinônimo de qualidade.

A atenção era algo presente até as décadas de 1970, quando me formei, e na década seguinte. Havia uma razão fundamental para isso: a tecnologia da época era limitada. Para fazer o diagnóstico correto, o médico tinha que ser um bom clínico, pois o suporte de auxilio ao diagnóstico (exames complementares) era limitado. Dou exemplo: em 1976, quando me formei, era necessário investigar a história clínica e fazer um bom exame físico para fazer o diagnóstico de alguma patologia cardíaca. Dependia de um eletrocardiograma e de raio-X do tórax, simples e com contrataste. Portanto, o diálogo e a atenção eram fundamentais para um diagnóstico correto.

Com o avanço da tecnologia, foi se deixando de ensinar (ou de aprender?) como se faz uma anamnese e um bom exame físico. Investiu-se muito nos exames complementares, que passaram a ser não um complemento para o diagnóstico, mas a própria razão do diagnóstico.

Essa perda de qualidade desumanizou o atendimento. Muitos médicos e médicas (não generalizando) passaram a olhar para o doente à sua frente como se fosse um objeto, ou melhor, uma máquina. Máquina de fazer dinheiro.

O “Mais Médicos”, ao contrário do que muitos falam, não só traz mais médicos para o Brasil. É muito mais. É a ampliação do número de cursos de medicina e a mudança do currículo. Propõe um novo currículo em que o centro do atendimento seja o ser humano e não a máquina e que o interesse seja público e não o privado. Visa também o atendimento e saúde integral do cidadão e da cidadã.

Fazem parte daqueles que se opõem ao “Mais Médicos” justamente aqueles que, no governo ou quando estiveram no governo, nunca se preocuparam com a saúde da população. Para não alongar em muitos exemplos, fico só com dois: os estados do Paraná e Minas Gerais.

O Paraná, na administração Beto Richa, não cumpriu nos anos de 2011, 2012 e 2013 o mínimo preconizado pela Constituição brasileira, que é de 12% de suas receitas para a saúde. Em 2011, o Estado investiu em saúde apenas 8,3% da receita e em 2012, somente 9,1%.

Quando governou Minas Gerais, Aécio Neves pagava aos médicos mineiros o menor salário do Brasil, apenas R$ 1.050. É isso mesmo, pagava apenas R$ 1.050 de salário para os médicos. Claro que vencimento básico não é a remuneração total, mas é sobre ele que se paga a aposentadoria. Com esse salário aviltante, o povo tinha “Menos Médicos”.

(*) Dr. Rosinha é médico pediatra e deputado federal pelo PT-PR

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