Comunidade médica prega holocausto no Nordeste em campanha contra Dilma na web
Por Carolina Garcia – iG São Paulo | 07/10/2014 - reproduzido no VioMundo
Grupo com quase 100 mil que se dizem médicos ou estudantes de medicina defende ‘castrações químicas’ a eleitores do PT
Uma comunidade de quase 100 mil usuários numa rede social, que se
declaram profissionais da classe médica brasileira, se tornou palco de
uma guerra de classes no entorno da corrida presidencial, entre Dilma
Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB).
Com o título de “Dignidade Médica”, as postagens do grupo pregam
“castrações químicas” contra nordestinos, profissionais com menor nível
hierárquico, como recepcionistas de consultório e enfermeiras, e propõe
um “holocausto” entre os eleitores da petista.
Médicos, professores e estudantes de medicina estão entre os 97.901 membros da comunidade na rede social Facebook.
Entre postagens de revolta com a situação da econômica do País e
xingamentos a nordestinos, os participantes confessam que fazem campanha
pró-Aécio até dentro do próprio consultório – público ou privado –
convencendo os seus pacientes. Eles dizem que colocam “a recepcionista
no lugar dela” com ameaças de que perderia o emprego com a reeleição de
Dilma.
O discurso de ódio com conta com frases de “nível de conversa que
pobre entende” e ameaças de expulsão do grupo caso o usuário se
manifeste contra os ideais da página. Um usuário protesta: “70% de votos
para Dilma no Nordeste! Médicos do Nordeste causem um holocausto por
aí! Temos que mudar essa realidade!”
As manifestações, no entanto, saíram das redes e foram denunciadas pelo tumblr “Médicos Indelicados”, que reúne os post mais inflamados e dá comentários irônicos aos desabafos dos profissionais de jaleco branco.
Procurado pelo iG, o Conselho Federal de Medicina (CFM), com sede em
Brasília, afirmou ser “contra qualquer comentário ou ação que denote
atitude preconceituosa”. Em nota, o órgão ponderou dizendo que todos os
profissionais podem manifestar opiniões, “inclusive políticas”, mas
considerando o “comportamento ético e o respeito às leis”. O CFM cita
ainda uma investigação em casos que “extrapolem esses limites”.
Leia abaixo a íntegra da nota CFM ao iG sobre o caso:
“O Conselho Federal de Medicina (CFM) é contra qualquer comentário ou
ação que denote atitude preconceituosa praticada por qualquer pessoa
por conta de aspectos como etnia, origem geográfica, gênero, religião,
classe social, escolaridade, orientação sexual ou posicionamento
ideológico, entre outros. Esse entendimento representa a percepção da
classe médica brasileira.
Para a Autarquia, o Brasil é um país democrático, onde todos os
cidadãos devem e podem manifestar suas opiniões, inclusive políticas. No
entanto, esta expressão deve ter como parâmetros o comportamento ético e
o respeito às leis. Casos que extrapolem esses limites devem ser
investigados pelas autoridades competentes.”
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