Páginas

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Depoimento: "O ódio de grande parte de médicos brasileiros aos cubanos é ódio de classe e ódio de quem se sente ameaçado"

por Dra Haydee Lima no facebook da Eunice Carvalho

O ódio de grande parte de médicos brasileiros aos cubanos é ódio de classe e ódio de quem se sente ameaçado. 

Os cubanos acham natural morar nos bairros em que trabalham, junto à população que atendem. Para grande parte dos brasileiros isso é inimaginável. Eles se consideram outra categoria de gente. 

Trabalhei 33 anos no sistema público de saúde, a maior parte do tempo em unidades básicas, em bairros pobres. Conheci inúmeros médicos brasileiros, formados nas mais diferentes faculdades. A maioria odiava o contato com o povo e não via a hora de abandonar o SUS. 

A maior parte não dava o menor valor para a atenção básica. 

A maior parte só cumpria o horário contratado sob pressão administrativa e era inflexível, até desumano, para atender uma necessidade de algum usuário que fugia do que considerava seu estrito dever. "Não ganho pra isso" , era a frase mais odiosa que cansei de ouvir, quando era necessária alguma ação fora da mesquinha regra das 12 ou 14 consultas a cada 4 horas. 

Era comum os médicos se referirem aos usuários como se fossem outra espécie de gente. "Eles não tomam os remédios direito" "Eles não cuidam dos filhos" "Eles precisam de educação". Esse "eles" tinha sempre um tom de diminuição, de distanciamento de classe. 

Grande parte dos médicos brasileiros perdeu a capacidade de ouvir as histórias dos seus pacientes. A maior parte perdeu ou nunca teve a capacidade de tocar no corpo do seu paciente, de ouvi-lo com respeito, de entender sua vida, para poder cuidar do seu problema, buscando proximidade, identificação. 

Os médicos cubanos que conheci trabalhando no Programa Mais Médicos são completamente diferentes. Para eles não há esse distanciamento social dos usuário. Isso ameaça os médicos brasileiros. O povo adora os cubanos. Como adora também os brasileiros que não estabelecem esse distanciamento. Os médicos cubanos além de atenderem em locais para onde os brasileiros não querem ir e não irão, estabeleceram um outro referencial de relação médico paciente, do qual os médicos brasileiros tem medo. 

É uma perda enorme o que o presidente eleito determinou com sua postura e com falsos argumentos que não tem base na realidade do programa. Tristeza!

Nenhum comentário:

Postar um comentário