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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Pequenas mudanças na rotina de uma Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal reduzem risco de infecção hospitalar entre os recém-nascidos




Em seu o doutorado, o pediatra Arnaldo Costa Bueno implantou, na Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal (Utin) de um hospital maternidade do município do Rio de Janeiro, as Potenciais Boas Práticas (PBP) – mudanças na rotina do serviço que podem acarretar resultados bastante positivos. O médico, então, comparou o desempenho da Utin antes e depois da intervenção. Os resultados mostraram que a adesão às PBP pode diminuir a ocorrência de infecções hospitalares e os óbitos a ela associados. Principal causa de morte na fase perinatal (entre o momento imediatamente anterior e o posterior ao parto), a infecção hospitalar também é responsável por altos custos hospitalares no tratamento de recém-nascidos e pelo aumento das taxas de paralisia cerebral e dificuldade de aprendizado.
 Os resultados demonstram a necessidade de amplos programas para a implantação das PBP nos serviços clínicos assistenciais, em especial no atendimento a recém-nascidos (Foto: Felipe Gomes)
Os resultados demonstram a necessidade de amplos programas para a implantação das PBP nos serviços clínicos assistenciais, em especial no atendimento a recém-nascidos (Foto: Felipe Gomes)

“Diversos trabalhos documentam as altas taxas de infecção hospitalar em recém-nascidos e apontam teorias para explicar suas causas”, afirma Bueno. “No entanto, são poucos os estudos que apresentam propostas concretas, baseadas em medidas relativamente simples e de baixo custo, que possam ser implantadas nos serviços públicos de saúde com o intuito de reverter esse quadro”, destaca o pediatra, que defendeu a tese no Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz).
Na pesquisa, as PBP adotadas e analisadas foram: a correta implantação e manuseio de cateteres centrais; o início precoce da alimentação enteral (por via intestinal) dos recém-nascidos com leite humano; a acurácia no diagnóstico da sepse (infecção generalizada); a adequada higienização das mãos; e o uso criterioso de medicamentos (antimicrobianos, corticoides e bloqueadores H2). A escolha dessas PBP foi baseada em evidências científicas e na facilidade de implantação, dispensando investimento financeiro adicional.
A intervenção durou cerca de oito meses. Primeiramente, as PBP foram apresentadas e discutidas com toda a equipe da Utin. Depois, os profissionais receberam treinamento e, por fim, as ações foram incorporadas às rotinas dos médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e nutricionistas da unidade. Um elemento importante para o sucesso da intervenção foi o trabalho de motivação dos profissionais, que incluiu a premiação das equipes com melhor desempenho na implantação dos protocolos. “As PBP devem ser seguidas por toda a equipe de saúde da Utin, e não somente pelos médicos. A falta de motivação dos profissionais pode ter impactos negativos no modo de trabalhar e nos resultados obtidos”, pondera Bueno.
O estudo incluiu 457 recém-nascidos divididos em dois grupos: os admitidos no período pré-intervenção e aqueles internados após o início da ação proposta. Comparados quanto aos procedimentos de diagnóstico e conduta terapêutica em caso de sepse, os bebês do segundo grupo apresentaram resultados significativamente melhores. Após a implantação das PBP, houve diminuição do tempo de uso de antibióticos; da quantidade de tipos e combinações destes medicamentos utilizados por paciente; e do número de ocorrências de sepse clínica e de infecções hospitalares, tanto de origem materna quanto de origem hospitalar. Segundo Bueno, a redução das infecções, dos óbitos por elas causados e dos gastos hospitalares decorrentes dos tratamentos esteve diretamente relacionada à adesão da equipe da Utin às PBP.
No que se refere ao uso precoce do leite humano na alimentação enteral, os dados da pesquisa também se revelaram animadores, apontando um crescimento de 23,3%. Antes da intervenção, toda a unidade neonatal do hospital utilizava 28,7 litros de leite humano por mês, quantidade que subiu para 37,4 litros por mês após a introdução das PBP. Foi registrado, ainda, um aumento do número de recém-nascidos alimentados preferencialmente com leite humano. No período pré-intervenção, 82% dos bebês alimentados por via enteral receberam leite humano como primeira dieta; após a intervenção, essa prática alcançou 100% dos bebês incluídos na pesquisa.
De acordo com Bueno, os resultados do estudo demonstram a necessidade de amplos programas para a implantação das PBP nos serviços clínicos assistenciais, especialmente no atendimento intensivo a recém-nascidos. Com os mínimos recursos financeiros aplicados na intervenção, o pediatra constatou importantes avanços na Utin analisada, inclusive a diminuição do tempo de internação e do número de bebês que fizeram uso de ventilação mecânica. “Infelizmente, parece já fazer parte do nosso cotidiano pacientes desenvolverem quadros de sepse e correrem risco de morrer em decorrência disso. Mas podemos modificar esse cenário. O surgimento de um caso de infecção hospitalar deve sempre ser encarado como um evento sentinela, uma ocorrência que demanda vigilância e é passível de prevenção”, conclui o pesquisador.

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