Manifestantes que se apresentam como católicos e são contrários ao aborto retomaram a distribuição do famoso panfleto originalmente distribuído nas eleições de 2010 – e recolhido pela Polícia Federal em pleno segundo turno - no qual se recomenda que os brasileiros "deem seu voto somente a candidatos ou candidatas e partidos contrários à descriminalização do aborto". Claro, o folheto também critica o PT e Dilma Rousseff, à época, candidata à presidência.
Os cerca de 1 milhão de panfletos, apreendidos no auge da campanha eleitoral, foram liberados pela Justiça no ano passado. Assinados pela Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que atua no Estado de São Paulo, tem entre os seus enfáticos apoiadores dom Luiz Bergonzini, bispo emérito de Guarulhos. Durante as eleições, o religioso foi uma figura ativa, recomendando seus fiéis a não votar em candidatos pró-aborto. A recomendação foi repetida pelo bispo, ontem, em uma manifestação com uma centena de pessoas em frente à catedral da Sé, em São Paulo.
Em nota ele afirma: "Nos atribuíram a 'mentira' de Dilma Vana Rousseff e o PT serem a favor da liberação do aborto. Provamos que o PT e Dilma Rousseff eram e continuam sendo a favor da liberação do aborto". Entre os fiéis que engrossavam o movimento, claro, constavam membros do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, que se inspira nos preceitos da entidade de extrema-direita Tradição, Família e Propriedade, a velha e conhecida TFP.
"Menos pior"
Era possível ler nos cartazes ali empunhados dizeres como "Fora Assassina Ministra Eleonora Menicucci (chefe da Secretaria de Políticas para Mulheres)”, conhecida por sua posição a favor da descriminalização do aborto. Um desenho de péssimo gosto ainda mostrava um bebê morto por uma estrela vermelha, símbolo do PT, e por uma foice e um martelo, símbolos do comunismo.
Para o autor do texto e coordenador da Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB, padre Berardo Graz, no entanto, a pré-candidatura do deputado federal Gabriel Chalita (PMDB) – católico atuante - lhe preocupa mais do que a de Fernando Haddad (PT), na disputa pela Prefeitura de São Paulo. “Ele é um oportunista porque quer os votos dos católicos para empurrá-los para decisões que não são conforme a nossa doutrina”, declarou. Já o pré-candidato José Serra (PSDB), seria, na sua concepção, a opção “menos pior”.
Quem financia esse movimento?
A propaganda anti-aborto é só um pretexto para a ex-TFP, uma organização fascista, ressurgir, agora, sob as asas e o patrocínio de setores reacionários da Igreja Católica. A pergunta que fica aqui é: quem a financia?
Vejamos. A quantia é expressiva. Estamos falando de cerca de um milhão de panfletos. A sua publicação foi, de fato, bancada pela regional sul da CNBB, pelo bispo de Guarulhos, pela ex-TFP? Ou será que estamos diante de algum partido e candidato que se esconde - de novo - detrás de setores da Igreja Católica para fazer propaganda contra o PT, contra candidatos como Chalita e a favor, de novo, como em 2010, de José Serra?
Foi o que um dos porta-vozes da pequena e insignificante manifestação não escondeu. Quando misturam a foice e o martelo com a estrela do PT nos seus cartazes não escondem o que pretendem. Querem, como em 1964, implantar um regime de intolerância e autoritário no país. Estão com saudades dos tempos em que a Igreja e o Estado eram uma única coisa e os bens públicos e da igreja idem, com poder de vida e morte sobre os cidadãos.
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