“Golpe de Estado dado por militares derrubando um governo eleito democraticamente, cassação de representantes eleitos pelo povo, fechamento do Congresso, cancelamento de eleições, cassação e exílio de professores universitários, suspensão do instituto do habeas corpus, tortura e morte de dezenas, quiçá de centenas, de opositores que não se opunham ao regime pelas armas (Vladimir Herzog, Manuel Fiel Filho, por exemplo) e tantos outros muitos desmandos e violações do Estado de Direito.
Li no editorial da Folha de hoje que isso consta entre “as chamadas ditabrandas -caso do Brasil entre 1964 e 1985″ (sic). Termo este que jamais havia visto ser usado.
A partir de que ponto uma “ditabranda”, um neologismo detestável e inverídico, vira o que de fato é? Quantos mortos, quantos desaparecidos e quantos expatriados são necessários para uma “ditabranda” ser chamada de ditadura? O que acontece com este jornal?
É a “novilíngua”?
Lamentável, mas profundamente lamentável mesmo, especialmente para quem viveu e enterrou seus mortos naqueles anos de chumbo.
É um tapa na cara da história da nação e uma vergonha para este diário.”
SERGIO PINHEIRO LOPES (São Paulo, SP)
Nota da Redação - Na comparação com outros regimes instalados na região no período, a ditadura brasileira apresentou níveis baixos de violência política e institucional.
Ditadura
“Lamentável o uso da palavra “ditabranda” no editorial “Limites a Chávez” (Opinião, 17/2) e vergonhosa a Nota da Redação à manifestação do leitor Sérgio Pinheiro Lopes (”Painel do Leitor”, ontem). Quer dizer que a violência política e institucional da ditadura brasileira foi em nível “comparativamente baixo’? Que palhaçada é essa? Quanto de violência é admissível? No grande “Julgamento em Nuremberg” (1961), o personagem de Spencer Tracy diz ao juiz nazista que alegava que não sabia que o horror havia atingido o nível que atingira: “Isso aconteceu quando você condenou à morte o primeiro homem que você sabia que era inocente”. A Folha deveria ter vergonha em relativizar a violência. Será que não é por isso que ela se manifesta de forma cada vez maior nos estádios, nas universidades e nas ruas?”
MAURICIO CIDADE BROGGIATO (Rio Grande, RS)
“Inacreditável. A Redação da Folha inventou um ditadômetro, que mede o grau de violência de um período de exceção. Funciona assim: se o redator foi ou teve vítimas envolvidas, será ditadura; se o contrário, será ditabranda. Nos dois casos, todos nós seremos burros.”
LUIZ SERENINI PRADO (Goiânia, GO)
“Com certeza o leitor Sérgio Pinheiro Lopes não entendeu o neologismo “ditabranda”, pois se referia ao regime militar que não colocou ninguém no “paredón” nem sacrificou com pena de morte intelectuais, artistas e políticos, como fazem as verdadeiras ditaduras. Quando muito, foram exilados e prosperaram no estrangeiro, socorridos por companheiros de esquerda ou por seus próprios méritos. Tivemos uma ditadura à brasileira, com troca de presidentes, que não vergaram uniforme e colocaram terno e gravata, alçando o país a ser a oitava economia do mundo, onde a violência não existia na rua, ameaçando a todos, indistintamente, como hoje. Só sofreu quem cometeu crimes contra o regime e contra a pessoa humana, por provocação, roubo, sequestro e justiçamentos. O senhor Pinheiro deveria agradecer aos militares e civis que salvaram a nação da outra ditadura, que não seria a “ditabranda”.”
PAULO MARCOS G. LUSTOZA , capitão-de-mar-e-guerra reformado (Rio de Janeiro, RJ)
“Mas o que é isso? Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão de “ditabranda’? Quando se trata de violação de direitos humanos, a medida é uma só: a dignidade de cada um e de todos, sem comparar “importâncias” e estatísticas. Pelo mesmo critério do editorial da Folha, poderíamos dizer que a escravidão no Brasil foi “doce” se comparada com a de outros países, porque aqui a casa-grande estabelecia laços íntimos com a senzala -que horror!”
MARIA VICTORIA DE MESQUITA BENEVIDES , professora da Faculdade de Educação da USP (São Paulo, SP)
“O leitor Sérgio Pinheiro Lopes tem carradas de razão. O autor do vergonhoso editorial de 17 de fevereiro, bem como o diretor que o aprovou, deveriam ser condenados a ficar de joelhos em praça pública e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi descaradamente enxovalhada. Podemos brincar com tudo, menos com o respeito devido à pessoa humana.”
FÁBIO KONDER COMPARATO , professor universitário aposentado e advogado (São Paulo, SP)
Nota da Redação - A Folha respeita a opinião de leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas dessas manifestações acima. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio a ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua “indignação” é obviamente cínica e mentirosa.
A Folha (*) tem saudade da ditaDURA, com a qual manteve relações “carnais”, como diria o Carlos Menem.É bem provável que o editorial se tenha inspirado na obra do colonista (**) e historiador Elio Gaspari, que escreveu 89 volumes (mas falta um …) para provar que a ditaDURA foi uma ditaBRANDA, regida por George Washington (Ernesto Geisel) e Thomas Jefferson (Golbery do Couto e Silva).Por um breve período, e para efeitos de um marketing que a distinguisse do Estadão, a Folha (*) fingiu que era de “esquerda”.Para fazer os estudos de marketing (?), contratou o Cebrap (de Fernando Henrique e financiado pela Fundação Ford, ou seja, pela CIA), e José Serra, que se tornou seu eterno editorialista. Leia sobre como Zé Pedágio se prepara para demitir a repórter Laura Capriglione… Com a eleição do Presidente Lula, caiu a máscara da Folha (*). Ela entrou de cabeça no PiG (***) e trabalha incansavelmente para derrubar o presidente eleito duas vezes. As relações da Folha com a ditaDURA são notórias. Como demonstrou Beatriz Kushnir no livro “Cães de Guarda”, da Boitempo Editorial, a Folha (*) cedia as vans para o Doi-Codi fazer diligências, levar suspeitos para as sessões de tortura e fingir que se tratava de um carro de reportagem em atividade jornalística. Um outro episódio merece ser relembrado. E que, segundo um editor da Folha (*) na época, é o episódio que marca indelevelmente a relação submissa e sinistra da Folha (*) com os militares. Por pressão do general Hugo Abreu, a Folha (*), sem opor qualquer resistência, demitiu o diretor de redação Claudio Abramo. Coisa do “Seu” Frias, que por obra e graça de Zé Pedágio dá nome a uma ponte que desemboca na Avenida Jornalista (?) Roberto Marinho, que tem esse nome, por obra e graça da prefeita Martha Suplicy. (O que, caro navegante, demonstra o que é a Chuíça (****): a ponte ‘seu” Frias leva à Avenida Jornalista Roberto Marinho – é a materialização do PiG, (**) o PiG (**) em concreto, ferro e asfalto. Viva a Chuíça (****). Alexandre Gambirásio prontamente aceitou o lugar de Claudio Abramo. Não deu. Ele é italiano de nascença e “seu” Frias preferiu não correr o risco de os militares demitirem outro diretor de redação. Escolheu, então, Boris Casoy. Que se tornou preceptor de “Octavinho”, e a Folha (*) deu no que deu. Em tempo: como se sabe, Arthur vendeu o New York Times ao Carlos Slim. O Octavinho ainda vai vender a Folha (*) ao Daniel Dantas (se é que já não vendeu)… Paulo Henrique Amorim |
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