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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Onde o carinho faz a diferença

Mais do que equipamentos de última tecnologia, hospitais geriátricos precisam ter atendimento humanizado

Anna Paula Franco na GP Online

“Aqui nós tratamos da dona Maria e do seu João. Não são pacientes do leito X, do quarto A. Temos de sa­­ber seus históricos e condições das famílias para fazer as adaptações necessárias ao seu tratamento.” A observação do médico João Batista Lima Filho, diretor-clínico do Cen­tro de Excelência à Atenção Ge­­riátrica e Gerontológica (Cegen), dá pistas das características necessárias a um hospital especializado no atendimento a pacientes idosos.

O Cegen iniciou suas atividades em 1980, em Cornélio Procópio, no Norte Pioneiro. Hoje é referência nacional na atenção hospitalar geriátrica e na formação de profissionais em Gerontologia, ciência que estuda todos os aspectos do envelhecimento. São 66 leitos, divididos em serviços especiais.

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Além dos recursos técnicos da ro­­tina de um hospital-geral, uma unidade dedicada a pacientes idosos mantém determinados serviços dirigidos. “O setor atua nas com­­plicações de doenças preexistentes. O foco é no cuidado, não na cura”, explica Lima Filho. Nesta li­­nha, duas áreas precisam estar con­­templadas na administração: a pre­­paração da equipe – sempre mul­­tidisciplinar e com formação obrigatória em Gerontologia – e a atenção à família do paciente. “A tecnologia é importante como re­­curso para diagnóstico. Mas a mente precisa estar equipada. A atenção dedicada ao paciente e o preparo desse profissional para lidar com o idoso são os diferenciais no atendimento especializado”, explica.

Uma das diferenças entre o hospital-geral e o geriátrico é a visão do profissional de saúde em relação ao paciente. “O paciente é que precisa de tratamento, não a doença. Em geral, ele tem problemas de saúde associados, e o que o levou ao hospital foi uma crise de uma das doenças que possui”, explica o diretor-clínico. Por isso o acompanhamento do agente de saúde é importante: ele precisa ter o preparo para saber as limitações que o tratamento tem em organismos já debilitados e não criar expectativas de cura.

Serviços especiais

O médico João Batista Lima Filho, do Cegen, hospital geriátrico de Cornélio Procópio, explica os serviços que uma unidade especializada deve oferecer:

- Cuidados prolongados – o Cegen é o único do país com o setor bancado pelo SUS. O paciente com potencial de reabilitação permanece internado de 8 meses a 1 ano, e recebe acompanhamento para recuperação, enquanto a família se prepara – devidamente orientada pela equipe multidisciplinar da unidade – para recebê-lo novamente em casa.

- Cuidados paliativos – pacientes terminais, sem possibilidade terapêutica, são assistidos conforme o objetivo do cuidado. Controle de dor, oxigênio, higiene são alguns dos procedimentos administrados. O idoso fica no setor entre 6 e 8 meses.

- Psicogeriatria – oferece tratamento para portadores de Alzheimer – da fase intermediária para a final – e acompanhamento de quadros de depressão e saúde mental.

- Reabilitação – idosos fazem serviços de terapia ocupacional e fisioterapia para recuperação

Na conta do médico geriatra Ale­­xandre Kalache, ex-coordenador do Programa de Envelhe­ci­men­­­to Global da Organização Mun­­dial de Saúde, só pediatras e obstetras escapam à necessidade de estar plenamente familiarizados com os problemas de saúde relacionados à terceira idade. Kalache questiona a criação de unidades especializadas: “Em uma população projetada para 2 bilhões de idosos em 2050 em todo o mundo, quem vai poder criar hospitais especializados para tanta gente?”, questiona.

Curitiba

Previsto para entrar em funcionamento em janeiro de 2011, o Hos­pital do Idoso de Curitiba promete ser um dos centros de referência no atendimento de pacientes com mais de 60 anos. O projeto recebeu o apoio do Ministério da Saúde, que está financiando a maior parte dos quase R$ 15 mi­­lhões que serão investidos nas obras, de acordo com o secretário da Saúde, Luciano Ducci. Outros R$ 20 milhões deverão ser investidos para a compra de equipamentos.

No total, serão 800 funcionários para atender 141 leitos. Como re­­ferência, o hospital também vai in­­vestir na formação dos profissionais ligados ao atendimento do pú­­blico de terceira idade. Mas ainda está discutindo o modelo de admi­­nistração para a contratação dos agentes de saúde que vão atuar no hospital.

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