“É uma fotografia da legitimação das ideias dos setores da sociedade aqui representados. Espero que seja subsídio importante na reflexão da construção de políticas públicas de comunicação”, disse o presidente da comissão organizadora da Confecom, Marcelo Bechara. Para o integrante da organização Intervozes Jonas Valente, o evento abriu as portas para a “construção de uma agenda de democratização da comunicação”.
Um tema que ganhou destaque foi a obrigatoriedade do diploma para a profissão de jornalista, derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em junho deste ano. A conferência aprovou uma moção a favor da exigência do diploma para os jornalistas.
Bechara acredita que as propostas saídas do evento podem sensibilizar o Congresso Nacional na avaliação de projetos. “[As propostas] dão um peso político a mais na tentativa de sensibilizar o Congresso Nacional a resgatar o diploma do jornalista”, disse.
Outra decisão da Confecom diz respeito ao uso de recursos públicos, os financiamentos e o cumprimento de obrigações fiscais por parte dos meios de comunicação, que deverão ser regulamentados e ter participação popular. Por essa decisão, serão criados mecanismos de fiscalização para acompanhar o cumprimento das obrigações fiscais e trabalhistas das emissoras e a elaboração de conteúdos. O objetivo é assegurar a execução de programas educativos que visem à igualdade social e à justiça.
Também foram aprovadas propostas que garantem a criação de programas educativos destinados ao esclarecimento sobre os direitos das mulheres e o combate à violência. Uma iniciativa aprovada é o estímulo a programas como documentários e noticiários nas emissoras públicas de televisão. A plenária também aprovou a criação de uma empresa pública de fomento para distribuição de obras audiovisuais e o fortalecimento das distribuidoras nacionais.
A Confecom aprovou ainda a criação do Fundo Nacional e Estadual de Comunicação Pública. Os recursos para esse fundo virão de contribuições distintas, além de doações de pessoas físicas e jurídicas e também de impostos cobrados sobre a venda de aparelhos de rádio e televisão.
Ainda no campo do audiovisual, a ideia é utilizar verbas da contribuição que cria a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a partir do direcionamento do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel), além de recursos do orçamento público e da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) e dos impostos embutidos na venda de aparelhos de rádio e televisão – com isenção para aparelhos de TV até 29 polegadas.
A Confecom pretende acabar com as brechas existentes na Constituição Federal que permitem que ocupantes de cargos públicos e instituições financeiras consigam concessões e outorgas de emissoras de rádios e televisões. A proposta determina a elaboração de um texto específico definindo em detalhes esta questão.
Por decisão da maioria dos participantes da 1ª Confecom, devem ser criados conselhos de comunicação, nas emissoras públicas – formados por integrantes eleitos que acompanharão a execução das políticas de interesse de toda a sociedade. A decisão foi tomada durante a votação dos temas mais polêmicos. Também foi aprovada medida que define percentuais para a inclusão de conteúdos educativos, regionais e independentes nas programações das emissoras de rádio e televisão.Para incentivar a integração do Brasil com os demais países latino-americanos, a Confecom aprovou, no último dia de debates, proposta que obriga os veículos de comunicação a veicular conteúdos estrangeiros durante a programação, porém com a tradução por dublagem, legenda ou simultânea.
Também foi aprovada proposta que determina a distribuição de conteúdos produzidos, por meio de financiamento público, de forma livre. Paralelamente deve ser estimulada a produção nacional, nas diversas mídias, incluindo os independentes e regionais.
Outra iniciativa é proibir que deputados federais e senadores votem e deliberem sobre temas referentes às concessões e outorgas de renovações quando tiverem ligação direta com o tema. A proibição vale também se houver parentes (até terceiro grau) dos parlamentares envolvidos com o assunto.
Cada grupo de trabalho da Conferência foi formado por cerca de cem integrantes - que representavam a sociedade civil, os empresários e o poder público. O público da conferência foi de quase 1,7 mil pessoas, representando o empresariado, o poder público e a sociedade civil. Para Bechara, a ausência das associações das grandes empresas de comunicação, não prejudicou a legitimidade da conferência. “Muitos não participaram da comissão organizadora, mas vieram como observadores”. Para Valente, a ausência de representantes das associações das grandes empresas de comunicação demonstrou a resistência desses empresários em “dialogar sobre a agenda da comunicação".
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