Gazeta do Povo
A lentidão do serviço público e o desespero da família fizeram com que um aposentado vítima de acidente vascular cerebral (AVC) tivesse de esperar 24 horas para conseguir vaga em um hospital de Curitiba. O homem, de 71 anos, deu entrada às 11h55 de domingo no Centro Municipal de Urgências Médicas (Cmum) Campo Comprido. Aflito com a demora, o filho abordou uma enfermeira, que o aconselhou a bater na porta de algum médico se quisesse atendimento ao pai. Ele achou estranho o procedimento, mas seguiu o conselho. Às 14h42 a unidade negociou vaga com o Hospital Madalena Sofia, mas ainda teriam de ter muita paciência.
A família, que não quer se identificar, acreditava que com a liberação médica as coisas seriam mais rápidas. Não foi o que aconteceu. "Quando indagamos sobre o endereço e se o hospital era bom, tivemos um 'não sei' como resposta", diz o filho. O transporte para lá só se daria às 20h30, oito horas e meia depois da chegada ao mini-hospital público. O filho diz ter sido informado que a demora se daria pela troca de turno dos motoristas, que seria às 18 horas, e depois pela troca de turno do auxiliar do motorista, às 19 horas.
O diretor do serviço de urgência e emergência de Curitiba, Matheus Chomatas, não acredita nessa possibilidade. "Alguma coisa houve, mas não se justifica pela escala", diz. De fato, algo ainda não esclarecido ocorreu. A central de ambulância só foi acionada às 19h20, quatro horas e meia depois da negociação do leito com o hospital. O deslocamento se daria uma hora e dez minutos depois. "Ao chegar ao hospital descobrimos que ele não tinha atendimento para pessoas com o caso do meu pai e em nenhum momento os atendentes encaminharam meu pai para um hospital que tivesse esse tipo de atendimento", reclama o filho.
Chomatas explica que o Madalena Sofia, de média complexidade, tinha condições de atender o caso e atribui o mal-entendido à impaciência da família, que na noite anterior à entrada na unidade do Campo Comprido já havia internado o paciente num hospital particular, onde uma tomografia acusou o AVC. "Talvez eles tenham comparado o padrão particular com o padrão do SUS (Sistema Único de Saúde)", diz. Na dúvida, a família procurou outros meios.
"Cansados do descaso, decidimos levar meu pai por conta própria para o (hospital) Evangélico, porém nos informaram que lá só poderiam dar entrada pelo SUS as pessoas que estivessem com prontuário de acidente de trânsito", relata o filho. "Tentamos ainda a Santa Casa, mas só para o internamento o hospital estava cobrando adiantado R$ 2 mil", continua. Desolada e sem recursos para pagar, a família acabou retornando à unidade pública do Campo Comprido nos primeiros minutos da madrugada de ontem. O paciente dormiu na sala de soro, ao lado da filha que o acompanhou a noite toda.
O périplo do aposentado só terminou ontem, por volta das 11h30, quando um médico da unidade o liberou para internamento no Hospital Evangélico. A vaga pelo SUS, no entanto, só foi obtida por intervenção da família, segundo afirma ela própria. "Se dependesse da unidade de saúde estaríamos esperando até agora", queixa-se o filho do aposentado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário