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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Quem tem medo da Venezuela? | Artigo Dr. Rosinha


 
DR. ROSINHA
 
Os argumentos contra a entrada da Venezuela no Mercosul são frágeis. Com a integração, todos tendemos a melhorar
 
 
A política externa brasileira tem longa tradição de pragmatismo. Nessa ótica, privilegiam-se os interesses de longo prazo dos Estados. Acertadamente, governos específicos e suas ideologias são vistos como secundários.
 
Apesar disso, mais de três anos após a assinatura do Protocolo de Adesão da Venezuela ao Mercosul, há setores no Brasil que ainda discutem essa incorporação como se fosse um plebiscito sobre o governo Chávez.
 
A  miopia estratégica que nutre esse debate superficial pode ser danosa para os interesses brasileiros de longo prazo. A adesão da Venezuela ao Mercosul é, do ponto de vista do Brasil, a culminação de um processo histórico de adensamento de relações bilaterais que perpassou governos de distintos matizes políticos, tanto em nosso país quanto na Venezuela.
 
Contudo, há setores da oposição que insistem em colocar a adesão da Venezuela ao bloco no quadro estreito do "chavismo" e "antichavismo".
 
Os argumentos são frágeis. O principal deles aponta uma suposta incompatibilidade entre o regime político venezuelano e a cláusula democrática do Mercosul. Ora, o Protocolo de Ushuaia é claro: eventuais sanções só são aplicáveis em caso de "ruptura da ordem democrática", o que não aconteceu na Venezuela. Esse é o único parâmetro objetivo, em relação ao possível julgamento dos regimes políticos do Mercosul. A cláusula democrática não deve ser ignorada, mas não se deve ir além dela.
 
Outro argumento utilizado tange à possibilidade de Chávez vir a "perturbar" o Mercosul, em razão de sua "agenda política contrária ao capital estrangeiro e ao livre comércio".
 
Bem, os nossos produtos são muito bem-vindos na Venezuela, como demonstram os US$ 4,6 bilhões de superávit que obtivemos no ano passado, mais de duas vezes maior do que o que obtivemos com os EUA, e os US$ 15 bilhões que a iniciativa privada brasileira investiu naquele país. Essa boa acolhida deverá ser revertida, caso o Brasil rejeite o ingresso da Venezuela no Mercosul.
 
O Mercosul representa oportunidade para que os países cresçam juntos, inclusive democraticamente. Com a integração, tendemos todos a melhorar. A oposição da Venezuela já reconheceu isso. Só falta a nossa oposição, em reconhecimento à longa tradição de pragmatismo da nossa política externa, votar pela adesão da Venezuela ao Mercosul. Sem medo.
 
 
 
Dr. Rosinha, médico pediatra, é deputado federal (PT-PR) e membro do Parlamento do Mercosul


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