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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

IMIP, 100% SUS: ASSISTÊNCIA DIGNA E DE QUALIDADE À POPULAÇÃO CARENTE

no Vi o Mundo


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Milhares e milhares de crianças nasceram no IMIP ao longo dos seus quase 50 anos
por Conceição Lemes
IMIP. Certamente a maioria de vocês está lendo essa palavra pela primeira vez. Na verdade, uma sigla que, para o Norte e Nordeste do Brasil, especialmente Pernambuco, significa atendimento universal à saúde, digno e humano à população carente. IMIP é 100% SUS.
 Quem conhece o seu trabalho, se encanta. Que o digam mestres como Ariano Suassuna (escritor) e Francisco Brennand (artista plástico), entre milhares de pernambucanos por opção ou nativos, ilustres ou desconhecidos, que o “adotaram”. É xodó mesmo.

“Instituições como o IMIP provam que é possível melhorar a saúde no Brasil e termos um SUS que atenda as pessoas de forma decente”, diz o presidente Lula. “O IMIP é um exemplo do SUS que dá certo.”
Eduardo Campos, governador de Pernambuco, observa: “O IMIP é sinônimo de atendimento de qualidade para população de baixa renda”.
“O Ministério da Saúde estará sempre ao lado do IMIP na melhoria das condições de atendimento à população carente”, frisa o ministro José Gomes Temporão. “Ao contrário de muitas entidades filantrópicas, o IMIP é uma casa comunitária que respeita o SUS.”
O jornalista e escritor Urariano Mota sintetiza o orgulho dos pernambucanos com esta “casa de saúde”: “Eu, se fosse médico, gostaria muito trabalhar no IMIP”.      

OPÇÃO  PELOS DESPOSSUIDOS
Agora em junho, faz 50 anos.  Sediado em Recife, IMIP é a sigla do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira. Um pediatra com ideias à frente do seu tempo. Realmente um pioneiro. Décadas atrás, quando os seus colegas se ocupavam apenas das doenças da infância, ele já alertava: a prevenção das doenças do adulto deve começar na infância e nós temos de implementá-la, estimulando hábitos saudáveis desde cedo. Bingo. A medicina hoje lhe dá razão.
Assim, junto com um grupo de médicos, fundou o IMIP, que se chamava então Instituto de Medicina Infantil de Pernambuco. O professor Figueira dizia:
Ninguém tem culpa de ter nascido em berço de ouro ou de palha. Saúde é um direito de todos e a criança, principalmente, deve ser assistida independente de ser rica ou pobre.
“O IMIP foi criado para atender basicamente à população pobre, que, à época, não tinha nenhum tipo de assistência à saúde”, diz o ex-aluno e pediatra João Guilherme Alves, atualmente responsável pela pós-graduação da instituição. “O professor Figueira defendia que a pessoa  rica ou pobre, com um mesmo problema de saúde, deveria receber tratamento e remédio iguais, ser cuidada pelo mesmo médico, com atendimento o mais digno possível – sempre!.”
No IMIP, esse sonho virou realidade. “Aqui, até hoje, há uma única entrada de assistência”, frisa João Guilherme. “Se uma pessoa de boa condição financeira quiser ser atendida tem de entrar na mesma fila que a carente. A atenção à saúde é uma só.”
Inicialmente, o IMIP visava apenas às crianças. A partir de 1983, as mães foram integradas à assistência. A constatação de que perdiam um tempão em salas de espera para acompanhar seus filhos gerou o novo salto.
“Para o professor Figueira era uma oportunidade perdida. Achava que a mãe deveria fazer algo também para a sua saúde em vez de simplesmente aguardar o atendimento da sua criança”, prossegue João Guilherme. “Daí, nasceram o centro de atenção à saúde da mulher e a maternidade.”
 “O professor Figueira exigia que a mãe pobre fosse tratada até com mais consideração do que senhora de posse”, pontua o ex-aluno. “Ele dizia que deveríamos atendê-la e à sua criança da mesma forma que gostaríamos que cuidassem de nossa mãe, nosso pai, nosso filho, nosso irmão.”
Um ritual de cidadania que começava no bom dia.
“‘Senhora, meu nome é Afra. Qual, o seu? E o nome do seu filho? Estou aqui para lhe atender e cuidar do seu menino’”, reproduz a também ex-aluna, pediatra e sanitarista Afra Suassuna, há três anos responsável pelos projetos de extensão comunitária do IMIP “Ao final, a gente acompanhava a mãe até a porta.”
 “Ai, de quem não estivesse às 7 da manhã, para atender as mães”, continua Afra. “Era esbregue garantido: ‘Se as senhoras pobres, malalimentadas, malvestidas, têm de acordar de madrugada, tomar dois ônibus, para chegar no horário, por que vocês bem-alimentados, bem-criados, bem-transportados, não podem chegar aqui às 7?’”
Exigência que valia tanto para médicos residentes quanto para os “medalhões”. 
“Por mais de 30 anos, cumpri a rotina de chegar às 7 da manhã”, aparteia, rindo, o festejado pediatra Otelo Schwambach, formado há 43 anos, que, apesar da agenda profissional carregada, mantém um vínculo afetivo com o IMIP até hoje. “Com muito prazer, auxilio voluntariamente nas publicações científicas da casa-mãe da minha formação.” 
 “O professor não admitia que uma criança fosse embora sem atendimento, independentemente do motivo -- médico faltou, entrou de férias, agendamento errou”, acrescenta João Guilherme.  “Quando isso eventualmente acontecia e ele descobria, a raspança era geral. Ele revirava o hospital atrás dessa mãe. Quem chegasse aqui tinha o direito absoluto de ser atendido”.
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O  Projeto "Mãe Canguru" ajuda os prematuros a se desenvolver melhor. Modelo nascido no IMIP foi aprovado pelo MInistério da Saúde e hoje está disseminado por todo o Brasil 
APOIO DE DOM HELDER FEZ TODA A DIFERENÇA
Delicadeza, atenção, solidariedade, consideração, dignidade, respeito, humanismo.
Se um dia for ou estiver no Recife, experimente percorrer os diversos setores do IMIP e conversar com pacientes e familiares. Ouvirá tudo isso.
Não à toa, desde o início, ganhou o apoio de dom Hélder Câmara, então arcebispo de Olinda e Recife (1909-1999). O médico Antonio Carlos Figueira, filho do professor Figueira e presidente do IMIP, confirma: “Realmente, dom Helder foi um grande incentivador. Fez toda a diferença”.
 “Dom Helder conheceu o trabalho do professor Figueira e se encantou”, relembra a médica pediatra, professora e cientista Magda Carneiro Sampaio. “Saiu em busca de recursos. Conseguiu ajuda de entidades de alemães para construir o primeiro prédio. Convocou as famílias mais abastadas para ajudar. O IMIP é um ‘milagre’ dele.”
“Minha mãe era muito católica, eu tinha uns15, 16 anos, virei voluntária”, orgulha-se Magda, que mais tarde fez residência em Pediatria no IMIP e hoje é titular de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP. “Uma vez por semana eu ia lá brincar com as crianças internadas, contar histórias. Era bom demais.”
A qualidade de assistência à população carente e a seriedade do trabalho foram conquistando a sociedade civil pernambucana comprometida com justiça social.
Dona Terezinha Tavares Costa Carvalho, 83 anos, também conheceu o IMIP via mãe, que “todo ano mandava contribuições”. Tornou-se voluntária ainda jovem. E é até hoje. Todos os lençóis das enfermarias e quartos da instituição têm o seu toque.
“Antes, eu ia quase todo dia; hoje em dia, uma vez por semana”, conta dona Terezinha. “Hoje, por exemplo, vi que faltam lençóis para uma ala. Vou comprar o tecido. Nós mesmas cortamos e costuramos. Mas faço o que for preciso. O pessoal do IMIP é honesto, faz um trabalho sério, me orgulho muito de ajudá-los.”
IMIP PRESENTE EM 12 COMUNIDADES CARENTES
Proporcionalmente Recife é uma das cidades com mais favelas no Brasil. Cerca de 500 para uma população de 1,3 milhão de habitantes. São comunidades de 200, 300 a 6 mil pessoas.
“Em 1983, o Unicef [Fundo das Nações Unidas para a Infância e Juventude] apresentou aqui um modelo de trabalho que já adotava na África e tinha ajudado a mortalidade infantil em alguns países. Era com pessoas da própria comunidade que repassavam ao restante ações mínimas de saúde”, relembra a pediatra Tereza Bezerra. “Prontamente o professor Figueira resolveu implantá-lo em três comunidades com forte organização comunitária: Santa Terezinha, Vietnã e Caranguejo.”
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O IMIP vai aonde o povo está: seus agentes comunitários de saúde estão presentes hoje em 12 comunidades
Em cada uma delas, o IMIP montou um posto com pediatra e ginecologista. Ao mesmo tempo, capacitou pessoas da comunidade – os chamados agentes comunitários de saúde –, para que repassassem às demais medidas de promoção de saúde, de autocuidado. Verificavam também se as crianças estavam com diarréia, se haviam tomado vacina, entre outras ações. Naquele momento, o objetivo era avaliar exclusivamente a criança e a mulher para reduzir a mortalidade infantil. Nascia o Projeto Favela, que atualmente se estende a 12 comunidades na periferia de Recife, beneficiando 70 mil pessoas. .
“O IMIP foi uma das primeiras instituições do país a adotar o trabalho com agentes comunitários”, ressalta Tereza Bezerra, que até 2007 coordenou os serviços de extensão  comunitária, inclusive o projeto Favela. “O contato direto com uma realidade oposta à nossa condição social faz com que tenhamos uma postura profissional mais humana.”
Afra Suassuna, hoje à frente desse trabalho, reforça: “Você acaba se indignando mais com determinadas situações assistenciais e respeitando mais quem te procura”. 
Resultado: o IMIP foi o primeiro serviço do Brasil a receber o título de “Hospital Amigo da Criança”, concedido pela Organização Mundial de Saúde/Unicef/Ministério da Saúde.
MAIOR COMPLEXO HOSPITALAR DO NORTE E NORDESTE
O professor Figueira achava que para dar assistência de qualidade à população carente eram necessários também ensino e pesquisa. Acertadamente investiu nesse caminho.
Hoje, o IMIP atua nas áreas de assistência médico-social, ensino e pesquisa. Dos 20 leitos que tinha na década de 1970 saltou 1.020, em 2010. Atende crianças, adultos e idosos. Faz da assistência médica básica (desde sempre!) aos procedimentos de alta complexidade, como transplantes, reprodução assistida, tratamento oncológico, cirurgias cardíacas, vasculares e neurológicas.
 “Em 2006, o IMIP criou o serviço de Cardiologia e Radiologia Intervencionista para atender as crianças carentes portadoras de doenças cardíacas congênitas do SUS”, exemplifica o médico Raul Arrieta, do Serviço de Hemodinâmica. “De lá para cá já realizamos mais 500 procedimentos cardiológicos, que transformaram o IMIP num centro de referência nesse tipo tratamento no Brasil.”
“Na verdade, o IMIP é hoje o maior complexo hospitalar do Norte e Nordeste”, informa o presidente Antonio Carlos Figueira. “De todos os pacientes que chegam aqui, temos condições de tratar 99%; apenas 1% é encaminhado para serviço de referência de outro estado.”
Anualmente o IMIP realiza 700 mil consultas, 40 mil internações, cerca de 350 transplantes (córnea, rim,  fígado, coração, pâncreas e pulmão). Mensalmente faz hemodiálise em 120 pacientes e 7 mil procedimentos de radioterapia.  É centro de referência em diversas especialidades.  Tem 3 mil funcionários e 400 voluntários.
 “Os funcionários são nosso maior patrimônio”, frisa Antonio Carlos. “Todos os que atuam na assistência, na pesquisa e no ensino são contratados e têm um ponto em comum: o compromisso de ajudar o próximo.”

O IMIP é uma instituição pública, mas não estatal. Mantém-se com recursos provenientes da prestação de serviços ao Sistema Único de Saúde (SUS), de convênios e intercâmbios técnico-científicos com entidades nacionais e internacionais e de doações captadas pela Fundação Alice Figueira de Apoio ao IMIP.
“A gente planeja muito e executa rápido”, acrescenta Antonio Carlos. “Tudo com bastante austeridade. Afinal, a nossa meta é otimizar a aplicação dos recursos financeiros, para dar assistência de qualidade a um número cada vez maior de pacientes carentes.”
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Dra. Marilena Caldas, responsável pelo setor de Reprodução Assistida: "O IMIP é uma das poucas instituições do Brasil que disponibiliza o fertilização in vitro para pacientes SUS"
Os resultados? Bem, estes depoimentos falam por si só.
“Há sete anos eu venho de Garanhuns três vezes por semana para fazer hemodiálise”, diz Samuel Roberto Araújo Pereira, 14 anos. “O IMIP é a minha segunda casa. Fiz muitos amigos aqui. São outros pacientes, médicos e enfermeiros.”
“O IMIP é um mundo à parte. Aqui o tratamento é completo, não preciso procurar outros hospitais do SUS”, afirma Joaquim Soares de Souza Filho, 61 anos, fazendo quimioterapia no momento. “Vale a pena sair todo dia de São Bento do Uma para fazer tratamento aqui.” 
Daniel da Silva, 53 anos, fez transplante de fígado: “O meu caso era bem complexo, mas graças à boa vontade das famílias de doar órgãos dos seus entes queridos e à equipe de transplante de fígado daqui estou muito bem hoje em dia”.
“O IMIP está de parabéns por pensar sempre nos mais carentes”, aplaude Aline Moura. “Esta iniciativa de oferecer fertilização in vitro para as mães que não tem condições de pagar um tratamento é um grande avanço para a medicina pública do estado.” 
Em português claro:  IMIP,  patrimônio pernambucano, orgulho para o Brasil.

Um comentário:

  1. Franklin Stem Santos da Silva18 de julho de 2014 às 18:50

    SALÁRIO DIGNO PARA TODOS

    A verdade é que deveria ter respeito e valorização dos nossos profissionais, salário digno é assim:
    Graduado… Dr. Médico – 100%
    Graduado… Dr. Enfermeiro – 70% do Dr. Médico
    Graduado… Outros Doutores da saúde 70% do Dr. Enfermeiro
    Nível Médio – Técnico de Enfermagem ou outros da saúde – 50% dos outros Doutores da saúde
    Ensino fundamental – Auxiliar de Enfermagem ou outros da saúde – 70% do Técnico de Enfermagem ou outros da saúde.

    30 HORAS JÁ: ENFERMAGEM E TODOS – ÁREA DE SAÚDE

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