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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Sina de formiga


Era um inferno. Sempre que passava por ali, o elefante esmagava a entrada do formigueiro. Então as formigas decidiram reagir.
Um dia, aos milhares, saltaram sobre o elefante e começaram a picá-lo. Com um abanão das orelhas, o elefante livrou-se delas. Restou uma agarrada ao seu pescoço.
“Esgana o bicho, esgana”, gritavam as outras em coro.
O elefante da história está mais para Lula, aprovado por oito entre 10 brasileiros, assim como as formigas estão mais para a oposição – PSDB, PPS, DEM em fase terminal e uma fatia do PMDB.
Quem será a formiga que insiste inutilmente em esganar o elefante? Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado?
Ora, Arthur anda sumido desde que perdeu a batalha pelo afastamento de José Sarney da presidência do Senado. Há duas semanas, voou para um café da manhã com Barack Obama em Washington. Imaginava trocar idéias com ele. Havia dois mil convidados.
O Amazonas de Arthur é fortaleza do lulismo. Ele pretende se reeleger. Sabe como é...
A formiguinha suicida seria José Agripino Maia, líder do DEM no Senado?
Agripino anda muito ocupado com o escândalo que engoliu o único governador do seu partido, José Roberto Arruda, do Distrito Federal, preso numa cela da Polícia Federal, em Brasília. O escândalo ainda ameaça engolir o vice Paulo Octávio, do DEM.
E Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB?
Poupemos Guerra. O coração dele bate acelerado diante da demora do governador José Serra, de São Paulo, em se declarar candidato à vaga de Lula. E bate aflito diante do risco do próprio Guerra não se reeleger senador por Pernambuco. É uma carga dupla e bastante pesada.
De Aécio Neves, outra estrela do infausto formigueiro, diga-se que jamais aprovaria o plano de um ataque em massa ao elefante.
Se dependesse dele, o formigueiro simplesmente teria mudado de endereço para escapar de eventuais danos. Como não o levaram em conta, mergulhou terra à dentro e foi cuidar de sua vida.
Tudo deu certo para Lula desde que se elegeu presidente em 2002. Seu governo sobreviveu ao explosivo escândalo do mensalão. A economia cresceu. Milhões de brasileiros ascenderam à classe C. A maioria dos partidos se rendeu aos seus encantos. E o PT à candidata que ele sacou do bolso.
Dizem que a próxima será a primeira eleição em 21 anos onde os brasileiros estarão impedidos de votar em Lula. De fato, é verdade. Mas na prática, não.
Dilma só existe como candidata porque Lula a inventou. Nada mais direto, pois, do que o apelo que orientará sua campanha: votar em Dilma significa votar em Lula.
Caberá à oposição separar os dois – fácil, não?
A ela caberá também a difícil tarefa de vender Serra como o melhor candidato pós-Lula. Melhor até mesmo do que Dilma, a quem Lula escolheu. E logo quem?
E logo Serra que concorreu contra Lula em 2002. Se Serra tivesse vencido não haveria Lula presidente por duas vezes. Oh, céus!
O ex-metalúrgico que chegou ao lugar antes privativo dos verdadeiros donos do poder deixou de pertencer à categoria dos homens comuns – embora daí extraia sua força.
Foi promovido nos últimos oito anos à condição de mito. E como tal deverá ser encarado pelas futuras gerações. É improvável que alguém como ele reprise sua trajetória.
A oposição se propõe a derrotar um mito. E tentará fazê-lo sem reunir sua força máxima.
Serra está pronto para conversar com Aécio sobre a vaga de vice em sua chapa. Quanto a isso, há duas coisas mais ou menos certas. Serra oferecerá a vaga a Aécio. E Aécio a recusará.
Descarte-se a hipótese de Serra sugerir: “Bem, nesse caso, você sai para presidente com meu apoio e eu irei disputar um novo mandato de governador”.
Aécio tem a resposta na ponta da língua: “Agora, é tarde. Quis ser candidato. Sugeri a realização de prévias dentro do partido. Não fui ouvido. Serei candidato ao Senado”.
E aí, José?
Aí José só vencerá a eleição se Dilma conseguir perder para ela mesma.
Possível, é, embora...

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