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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Guia vai ensinar médicos do país a dar más notícias

Notícias difíceis na área da saúde são o tema de um livro preparado pelo Inca (Instituto Nacional de Câncer) e o Hospital Albert Einstein.
A publicação é fruto de um programa para melhorar a transmissão de informações sobre diagnósticos, recidivas (reaparecimento da doença), efeitos colaterais ou esgotamento de opções terapêuticas. Deve ser distribuído na rede do Sistema Único de Saúde a partir de novembro.
A coordenadora da política de humanização no Inca, Priscila Magalhães, diz que, apesar de fazerem parte da rotina, más notícias causam sofrimento a médicos, enfermeiros e outros profissionais.
Sem saber como lidar com os próprios sentimentos, eles passam as informações de forma inadequada.
"O tema é pouco abordado em faculdades. Na medicina, em geral aparece apenas nas cadeiras de psicologia médica", diz Magalhães. Segundo ela, quando começam a trabalhar, "muitos não sabem lidar com essas limitações e as encaram como fracasso pessoal".
As consequências desse despreparo atingem tanto os pacientes quanto os profissionais, que não raro desenvolvem problemas psicológicos, segundo Magalhães.

Editoria de Arte/Folhapress
DEPRESSÃO
Estudo de 2009 feito pela divisão de saúde do trabalhador do Inca mostrou que, dos 159 trabalhadores do hospital em licença, 32% tinham histórico de transtornos mentais ou de comportamento, como depressão.
Para minimizar o problema, o instituto criou uma oficina de qualificação. No ano passado, foram treinados 120 alunos de hospitais federais e universitários.
É a experiência dessa primeira turma que o livro relata. Até o fim do ano, serão mais três turmas, num total de 600 pessoas.
O projeto, financiado pelo Einstein, foi viabilizado por portaria que permite a hospitais de excelência destinar a contribuição social que deveria ser recolhida ao governo a projetos para o SUS.
A oficina começa em um consultório fictício no qual um médico é escolhido para dar uma notícia. Atores representam o paciente e parentes. A cena é seguida pelos demais alunos através de um vidro espelhado. Depois, o grupo discute a forma como a conversa foi conduzida.
Nas semanas seguintes, há a discussão de casos vivenciados. A equipe é apresentada ao protocolo Spikes.
A cirurgiã Patrícia Patury, do setor de ginecologia oncológica do Inca, disse que o curso mudou a forma como ela conversa com os pacientes antes de uma operação.
"Aprendi a dosar as informações sobre riscos e benefícios", diz ela, que enfrentou problemas por não ter apresentado os perigos de uma biópsia a uma paciente que surgiu com lesão na vagina.
"Ela já tinha tratado câncer de colo de útero e a lesão podia ser indicativo de novo tumor. Expliquei que era preciso fazer biópsia. No procedimento, a bexiga dela se abriu numa fístula, que fez com que a urina ficasse vazando", conta.
A paciente, revoltada, chamou o marido, que ameaçou a equipe. "Eu tinha que ter deixado claro para ela a possibilidade de isso acontecer, apesar de ser raro."

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