Anos atrás, um deputado do PFL brincava que governo do PT era como catapora. Dava uma vez, depois nunca mais. Hoje, se um petista quisesse devolver a brincadeira na mesma moeda diria que os governos do DEM, sucessor do PFL, se parecem cada vez mais com a varíola, ou qualquer outra doença perto da extinção.
Quatro anos atrás, o partido elegeu um único governador. Era Arruda, que caiu desastrosamente, arrastando no nome do mensalão que criou o partido que o havia eleito. Restou o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que agora deserta para o PMDB. O saldo de 2010 devolveu dois palácios ao antigo PFL: mas os cargos de Santa Catarina e Rio Grande do Norte são poucos e de pouca visibilidade.
A tal refundação parece cada vez mais urgente. E o deputado Alceni Guerra, nos últimos dias de seu mandato, decidiu apontar qual é o possível caminho para a legenda. “Precisamos dar uma guinadinha para o centro”, disse ele. O risco, diz Alceni, é de o partido ficar sem discurso. Ou pelo menos sem discurso para o homem urbano.
Alceni tem um bom argumento para convencer seus correligionários. “Não podemos mais ficar com esse discurso de defesa da propriedade. O Lula nos fez esse favor de mostrar que o direito à propriedade no Brasil não está ameaçado.” Ou seja: se nem o petismo criou problemas, os donos de terras no país podem ficar sossegados.
Mesmo assim, o Democratas continua sendo marcado pela mesma litania anticomunista dos tempos da UDN. Seu símbolo maior, por esses dias, se tornou a senadora Kátia Abreu, do Tocantins. E não é acaso que a senadora-símbolo seja justamente a presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
Para o “homem urbano” da frase de Alceni, as brigas de Kátia Abreu não fazem sentido na maior parte das vezes. Ou, pior, fazem o partido parecer meramente preocupado com os direitos de uma elite. A senadora, afinal, critica a fiscalização de trabalho escravo, quer eliminar proteções ambientais e entrou numa querela perigosa com o Ministério Público: foi à Justiça contra uma campanha que alertava o consumidor para a origem da carne que consumia.
Se a defesa da propriedade e dos proprietários não está sendo suficiente para o DEM, Alceni diz que seria preciso alguma coisa a mais. Exemplifica: em 2010, com o discurso anti-PT, a legenda elegeu 76; na eleição anterior, em 2006, havia conseguido 40 cadeiras a mais. “No nosso ano de maior sucesso, nosso lema foi emprego e educação. Agora, deveria ser emprego, saúde e educação.”
Alceni, em suma, quer que o DEM aprenda a lição do próprio PT. Na época em que sofria da síndrome de catapora, o partido tinha um discurso significativamente mais radical de esquerda. Não colava. O antídoto veio com a Carta ao Povo Brasileiro, em 2002, e os petistas prometeram jogar mais moderadamente.
Agora, seria a vez de o DEM fazer o mesmo. Até porque o petismo parece ter empurrado milhões de eleitores para a social-democracia: muitos impostos e mais benefícios sociais. Jogar contra isso, aposta Alceni, seria tornar o partido inviável. Mas será que os ruralistas vão topar a guinada rumo ao centro?
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