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sábado, 22 de janeiro de 2011

O flanelinha Sorriso e a presidente


Sorriso da presidente De mendigo a fotógrafo pessoal da presidente da República, a trajetória de Edison Castêncio, que foi retirado das ruas de Porto Alegre por Dilma no início da década de 80 Hugo Marques
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Edison Castêncio, fotógrafo
Enquanto o Rolls-Royce presidencial atravessava a Esplanada dos Ministérios em Brasília, no dia da posse da presidente Dilma Rousseff, uma cena curiosa chamou a atenção daqueles que acompanhavam a solenidade de perto. De repente, Dilma tirou os olhos da multidão, mirou para o lado oposto da pista e sorriu para um fotógrafo solitário que estava com os olhos inundados de lágrimas. Não era apenas mais um brasileiro emocionado com a ascensão da primeira mulher à Presidência da República. Tratava-se de Edison Castêncio, um ex-flanelinha que foi retirado das ruas de Porto Alegre por Dilma e seu ex-marido Carlos Araújo, no início da década de 80. Órfão de pai e mãe, Castêncio tinha 24 anos e dormia sob viadutos e sobre os bancos da rodoviária da capital gaúcha quando Araújo e Dilma, então assessora da bancada do PDT no Estado, mudaram o seu destino. Os dois simpatizaram com Castêncio, que sempre perambulava em volta da Assembleia, de extremo bom humor, mesmo com toda a adversidade. O casal deu-lhe um emprego informal de office-boy no gabinete de Carlos Araújo, na época deputado estadual. “Eu passava fome, tinha dia que eu comia só pão com água. Devo tudo à Dilma”, diz ele, que passou a ser chamado de “Sorriso”.
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Durante os quatro anos em que trabalhou como office-boy no gabinete do ex-marido de Dilma, Sorriso pagava contas e auxiliava nas tarefas de escritório. Seu salário era pago com a caixinha dos deputados do PDT. Mas, em 1987, Sorriso agarrou uma oportunidade que mudaria sua vida de uma vez por todas. Sem fotógrafo para registrar um encontro com o então prefeito Alceu Collares, Araújo recorreu a Sorriso, que possuía uma máquina fotográfica descartável. As fotos fizeram tanto sucesso que Dilma e o marido lhe deram de presente uma câmera profissional. A partir daí, ele começou a fotografar tudo. Das festas de aniversário de Dilma até as reuniões políticas do PDT. “Eu fotografava até os aniversários da Paulinha, a filha da Dilma”, lembra. “Dilma já era reservada na época”, conta.
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Por quase três décadas, Sorriso acompanhou momentos importantes da vida política de Dilma. Testemunhou e fotografou a presidente como secretária da prefeitura, na gestão de Alceu Collares, quando ela era secretária de Estado do governo Olívio Dutra e depois que foi indicada ministra de Minas e Energia e da Casa Civil, durante o governo Lula. De acordo com Sorriso, o estilo “durona de ser” da presidente Dilma remonta aos primórdios de sua trajetória política. Ele conta que presenciou de muito perto um dos principais embates de Dilma com Collares no PDT. Dilma também não capitulou aos anseios do caudilho Leonel Brizola, que no final da década de 90 passou a pressionar o grupo dela no PDT a deixar o governo Olívio Dutra. “O Brizola dizia para a Dilma: ‘Quero que vocês se afastem do governo’. Mas ela respondia: ‘Brizola, se você não está gostando, me expulse do partido’”, lembra Sorriso. O processo de transferência de Dilma do PDT para o PT foi outro lance marcante testemunhado por Sorriso. Segundo ele, um dos grandes responsáveis pela mudança foi o então vice-governador Miguel Rossetto, que depois foi ministro do Desenvolvimento Agrário e hoje é diretor da Petrobras. “O Rossetto falou o seguinte: ‘Dilma, no PT vocês serão mais valorizados que no PDT’”, lembra.
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Quando Dilma foi para o Ministério de Minas e Energia, no início do primeiro mandato de Lula, o fotógrafo mudou-se de vez para Brasília. Nessa época, ele tinha acabado de ganhar do colunista José Barrionuevo, do jornal “Zero Hora”, o apelido de “Paparazzo”, graças às fotos exclusivas que conseguia dos políticos gaúchos. E sempre que algum dos parlamentares visitava Dilma em Brasília lá estava Sorriso ao lado da ministra. Durante a campanha presidencial, o marqueteiro João Santana recorreu ao arquivo de mais de cinco mil fotografias de Sorriso para reconstituir a trajetória política de Dilma no programa eleitoral. “O pessoal da campanha estava desesperado, eles não sabiam em que fotografias a Dilma aparecia. Ela sempre ficava em segundo plano nas fotos, pois é uma mulher de bastidor”, afirma ele.
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Hoje Sorriso é dono do Paparazzo Gaúcho, que presta serviços de fotografia a políticos do Estado. Ele casou com uma assessora do PDT, com quem teve duas filhas, e mora na Vila Planalto, a 500 metros do Palácio do Planalto, onde Dilma despacha. Recentemente, Sorriso recusou algumas sondagens para trabalhar no governo. A única coisa que o fotógrafo pediu a Dilma foi uma credencial para fazer fotos no Palácio do Planalto, que ele tentava por dois anos, sem sucesso. Dilma pediu que ele fizesse o pedido à assessoria de imprensa da Presidência. Para quem ainda não conhece direito a presidente, o fotógrafo faz uma recomendação: “A Dilma é bem mineira, não vai ficar dando sorrisos à toa e não vai aceitar falcatruas no governo”, diz. “Mas se trabalhar bem certinho, o ministro ganha a confiança dela.” Conselho de quem sempre faz a presidente Dilma Rousseff sorrir.
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