Páginas

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Para especialista, aumento segue lógica do negócio

De acordo com Lúcio Gregori, enquanto o transporte for entendido como um negócio, os aumentos de tarifas vão continuar a ocorrer


Michelle Amaral
da Redação do Brasil de Fato

Até a primeira quinzena de janeiro foram registrados reajustes nas tarifas dos ônibus municipais em pelo menos quinze grandes cidades brasileiras e há a previsão de que as passagens de seis cidades ainda sejam reajustadas. Em três cidades o aumento ocorreu já no final de 2010.
Das dez maiores regiões metropolitanas pelo menos 6 anunciaram aumento. Mais de 56 milhões de pessoas que vivem nas regiões com grande densidade populacional estão sendo afetadas pelos reajustes das passagens.
O engenheiro Lúcio Gregori, que foi secretário de transportes da cidade de São Paulo entre 1990 e 1992, durante a gestão da prefeita Luiza Erundina (então no PT), explica que os aumentos das passagens são resultado do modelo de transporte adotado em nosso país. “O transporte é um negócio como qualquer outro e como tal tem que ter as correções dos preços cobrados para corrigir os custos crescentes”, completa.
Na opinião do engenheiro, a única forma de reverter esse quadro é haver uma mudança do pensamento coletivo em que o transporte urbano deixe de ser entendido como um negócio e passe a ser tratado como um direito da população.
“O transporte público tem que ser tratado como um direito, assim como saúde e a educação. Para chegar a um hospital e ser atendido, você precisa do transporte. Para ir à escola, você precisa do transporte”, defende Gregori.
Segundo o ex-secretário de transportes, discutir se o reajuste das tarifas foi justo ou injusto não resolve o problema, porque revela a aceitação do modelo de transporte como um negócio.
Gregori defende que o transporte seja custeado pelo poder público como os demais direitos básicos. Segundo ele, a solução passa pelo seguinte pensamento: a tarifa, num primeiro momento, deve ser subdidiada no máximo percentual possível e, a longo prazo, no seu valor total.
Hoje o subsídio existe em muitas cidades e, mesmo assim, as tarifas continuam a ser cobradas e reajustadas regularmente.
Na cidade de São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) além de anunciar um reajuste de 11,11% nas tarifas dos ônibus municipais, que passou a vigorar no dia 5 de janeiro, disse também que o subsídio para o setor deve ficar em torno de R$ 600 milhões. No entanto, no orçamento municipal de 2011, os vereadores governistas autorizaram o Executivo a usar até R$ 743 milhões para bancar as despesas referentes às compensações tarifárias.

Mobilização
Gregori defende que a discussão que deve ser feita pela sociedade não é sobre se é justo ou não o aumento da tarifa. Segundo ele, deve-se discutir a questão da mobilidade urbana no país como um todo e o entendimento que se deve ter em relação ao transporte coletivo. “Enquanto o transporte coletivo for entendido como negócio e não como um direito, essa discussão, se a tarifa é justa ou não, não acabará nunca”, lamenta.
Além disso, o engenheiro aponta como forma de mobilização os protestos de rua, mas explica que a opção em se aplicar os reajustes nessa época do ano, em que grande parte da população está em período de férias, tem um caráter político, justamente porque espera-se pela desmobilização de setores importantes para a luta contra o aumento das passagens, como os estudantes. “A sociedade está mais desmobilizada, é o momento oportuno”, conta.
Desde que foram anunciados os aumentos nas tarifas dos ônibus protestos têm sido realizados em algumas cidades e espera-se que eles ganhem mais força com a volta às aulas, no próximo mês.
Em São Paulo (SP), na última quinta-feira (13), a polícia militar reprimiu duramente uma manifestação realizada pelo Movimento Passe Livre (MPL), resultando em 30 militantes detidos e 10 feridos. O mesmo ocorreu em João Pessoa (PB), onde dois estudantes acabaram feridos no confronto com a PM. Protestos também têm sido realizados em Salvador (BA), pelo movimento chamado Revolta do Buzu 2011.
Na próxima quinta-feira (20), o MPL de São Paulo realizará mais uma manifestação. O ato contra o aumento das passagens será realizado na Praça do Ciclista, na esquina da Avenida Paulista com a Rua Consolação, a partir das 17 hs.

Veja na tabela abaixo como ficarão os novos valores das passagens de ônibus:

Cidades com tarifas já reajustadas:
Soma da população afetada: 47. 755 milhões de pessoas, seguindo os dados do IBGE.
CIDADES
Tarifa antiga
Novo valor
Data do reajuste
BAHIA



Salvador
R$ 2,30
R$ 2,50
02/01/11
ESPÍRITO SANTO



Vitória
R$ 2,15
R$ 2,30
03/01/11
MINAS GERAIS



Belo Horizonte (tarifa predominante)
R$ 2,30
R$ 2,45
29/12/10
Poços de Caldas
R$ 2,00
R$ 2,30
15/12/10
PARAÍBA



João Pessoa
R$ 1,90
R$ 2,10
03/01/11
PERNAMBUCO



Recife (tarifa predominante)
R$ 1,85
R$ 2,00
09/01/11
RIO DE JANEIRO



Rio de Janeiro (ônibus intermunicipais)
R$ 2,35
R$ 2,50
02/01/11
RIO GRANDE DO SUL



Pelotas
R$ 2,20
R$ 2,35
12/12/10
Ijuí
R$ 1,90
R$ 2,10
09/01/11
Santa Maria
R$ 2,00
R$ 2,20
26/10/10
SANTA CATARINA



Joinville
R$ 2,30
R$ 2,55
(compra antecipada)
05/01/11

R$ 2,70
R$ 2,90
(compra embarcada)
05/01/11
SÃO PAULO



Campinas
R$ 2,60
R$ 2,85
16/01/11
São Paulo
R$ 2,70
R$ 3,00
05/01/11
Guarulhos
R$ 2,65
R$ 2,90
05/01/11
Santo André
R$ 2,65
R$ 2,90
03/01/11
São Caetano
R$ 2,30
R$ 2,75
01/01/11
Diadema
R$ 2,50
R$ 2,80
01/01/1



Cidades com previsão de reajuste
Soma da população afetada: 8.912 milhões de pessoas, seguindo os dados do IBGE.
CIDADES
Tarifa antiga
Novo valor
AMAZONAS


Manaus
R$ 2,25
A definir
PARANÁ


Curitiba
R$ 2,20
A definir
RIO GRANDE DO NORTE


Natal
R$ 2,00
R$ 2,30
RONDÔNIA


Porto Velho
R$ 2,30
R$ 2,60
SANTA CATARINA


Florianópolis
R$ 2,20 (cartão)
R$ 2,52 (cartão)

R$ 2,95 (dinheiro)
R$ 3,12 (dinheiro)
SERGIPE


Aracaju
R$ 2,10
R$ 2,45

Nenhum comentário:

Postar um comentário