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sábado, 28 de maio de 2011

O DNA é Tucano: O sucateamento dos hospitais públicos de SP

na Rede Brasil Atual


Um breve retrato de uma história de horror que se repete nos quatro cantos da cidade

O sucateamento dos hospitais públicos


Zona Leste

O sucateamento no Hospital Waldomiro de Paula, conhecido como Hospital Municipal Planalto, em Itaquera, é relatado por Luzia da Silva Pinto, 74 anos, do Conselho Gestor do Hospital e do Movimento Saúde da Zona Leste. “Lá, havia o setor de saúde mental, mas o teto desabou e não foi consertado. O diretor mandou os pacientes para uma sala, mas eles ficavam livres, zanzando pelos corredores, arrancando soro e remédio dos outros pacientes.” 
No hospital, nada parece funcionar. O Atendimento Médico Ambulatorial (AMA) é precário. Há mais de dois anos, o diretor disponibilizou uma sala para montar a farmácia. Como ninguém montou, o posto tem uma fila de espera de remédios quilométrica. Mais: recentemente, um usuário agrediu a gerente do posto com socos e arranhões. “Quem paga o pato dessa desgraça da saúde é o funcionário”, conta Luzia.
“Apenas um médico atende ao pronto-socorro, os corredores vivem lotados e as cadeiras de roda não funcionam”, conta Maria Áurea Negreiros do Nascimento, outra integrante do movimento de saúde da Zona Leste. 
No pronto atendimento Dra. Glória Rodrigues Santos Bonfim, na Cidade Tiradentes, gerenciado pela OSS Santa Marcelina, a denúncia da líder do Movimento de Saúde, Natalices Aleixo Santos, é que “há plantões sem médicos, muitas seringas não têm bico, as agulhas entopem,  os escalpos, que facilitam a infusão de líquidos – um soro, uma injeção – estão com defeito e as luvas se rasgam com facilidade”.

Zona Sul

Hospital Geral do Grajaú (Foto: Divulgação)
Cícero Rodrigues da Silva, representa o Conselho na Zona Sul. Ele denuncia o Hospital Estadual do Grajaú que não atende a demanda dos bairros Parelheiros e Grajaú. “O paciente espera de 6 a 8 horas para ser atendido e muitos não conseguem atendimento no mesmo dia, pois a demanda do local é maior do que o número de leitos” – conta. A razão do sucateamento é simples. “O orçamento do governo estadual para os hospitais administrados pelas OSS cresceu muito mais do que o orçamento destinado aos hospitais da rede”, diz Jorge Kayano, do Instituto Pólis.




Zona Norte

Filas de atendimento: esperar é preciso (Foto: Divulgação)

Diariamente, Maria Cícera de Salles, representante dos usuários no Conselho Estadual de Saúde, recebe reclamações de pessoas que utilizam os serviços de saúde administrados pela Prefeitura, Estado ou pelas OSS. A mais comum é a falta de médico. “O neurocirurgião é uma agulha no palheiro: ninguém consegue marcar consulta com esse especialista. Exames para problemas vasculares, ortopedia, dermatologia viram uma peregrinação para os pacientes. Os fisioterapeutas têm dificuldade no tratamento, pois eles não acham um local para desenvolver as atividades dos pacientes, que passam a ter um problema crônico. Médico no Programa Saúde da Família é difícil. Metade das equipes do programa é incompleta, não tem os médicos”, conta Cícera.

Itapecerica da Serra

Foto referente a Itapecerica da Serra (Foto: Divulgação)
As injustiças que as pessoas mais pobres sofrem pelo não cumprimento do atendimento médico universal comovem uma jovem estagiária. Auxiliar de enfermagem, cursando uma escola técnica de saúde, ela relata sua experiência de cuidar de pacientes do SUS no Hospital Santa Mônica, em Itapecerica da Serra. “Havia um  paciente que estava estranho. Checamos os sinais. O enfermeiro começou a fazer a manobra de parada cardíaca –  massagem e ventilação. Corremos atrás do carrinho de emergência, que tem de ter o desfibrilador, os medicamentos e os equipamentos que ajudam a salvar uma vida. Mas não havia. O enfermeiro prosseguiu na massagem e na ventilação até constatar o óbito”, conta a estagiária. Ela ficou perplexa com o atendimento prestado no SUS. “No primeiro andar, era o subterrâneo, o SUS. Os andares acima,  destinados aos convênios e aos pacientes particulares, eram totalmente diferentes na quantidade de pessoas, tratamento e funcionários. No SUS não havia nem luvas de procedimento”, acrescenta.
O cheiro da enfermaria dos pacientes do SUS ficou na memória da jovem profissional. “Como eles estavam acamados há muito tempo, eles tinham  muitas úlceras que, não tratadas, cheiram mal e necrosam o tecido da pele. Mas para conseguir soro fisiológico, básico para tratá-las, a gente tinha de correr no convênio ou particular para conseguir. É muito ruim ver isso.”


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