Naji Nahas: as terras do Pinheirinho pertencem oficialmente à massa falida da Selecta, mas ocupantes contestam a legalidade. Foto: Folhapress
A expulsão à força dos moradores de uma área ocupada em São José dos Campos (SP) trouxe à tona um personagem conhecido das páginas sobre escândalos financeiros e policiais: o ex-megaespeculador Naji Nahas.
No caso do assentamento Pinheirinho, Nahas surge indiretamente como pivô de confusões, marca de sua biografia nos últimos 23 anos, graças a pendengas na Justiça.
O terreno ocupado por quase 6 mim famílias pertence oficialmente à Selecta, holding que englobava 27 empresas pertencente a Naji Nahas desde 1981. A Selecta, e o império de Nahas, começaram a ruir a partir do fim dos anos 1980.
Os representantes dos moradores do assentamento argumentam que a Selecta se apropriou indevidamente das terras, que antes pertenciam a um casal de alemães assassinado em 1969.
O caso Pinheirinho é só mais um na longa lista de problemas de Naji Nahas. Libanês de família oriunda do Egito, Nahas casou com uma brasileira nos anos 1960 e aportou no País trazendo ao menos 50 milhões de dólares para investir. Começou com a criação de cavalos e coelhos. Terminaria a década seguinte como um dos grandes nomes do investimento da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro e figura fácil das colunas sociais. Na década de 1980, era a autêntica visão do capitalista vencedor: charuto na boca, roupas caras, amigos influentes, Rolls-Royces e muita, mas muita coluna social.
A figura pública de Naji Nahas começou a se deteriorar em 1989, com a quebradeira da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro que o teve como artífice. Nahas foi acusado de tomar dinheiro emprestado para negociar ações para si próprio por meio de laranjas.
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Com as falsas negociações, conseguiu inflacionar o valor das ações até vendê-las a um preço lucrativo. A margem de lucro pagava os bancos a quem emprestou dinheiro e ainda embolsava a diferença. Quando os bancos perceberam a artimanha, Nahas ficou sem o crédito e virou devedor de primeira grandeza na praça.
Quem embarcou na bolha junto com ele também ficou inadimplente. Seis empresas quebraram na sequência. A Bolsa carioca quase quebrou e nunca mais se recuperou até ser incorporada nos anos 2000 pela BMF e pela Ibovespa. Nahas fugiu da polícia por mais de três meses, até ser preso sob regime domiciliar.
A própria Justiça tomou decisões distintas nas sentenças. O primeiro veredito, posteriormente anulado, condenava Naji Nahas a quatro anos de prisão. O segundo, em 1997, a 24 anos e oito meses de prisão, além de multa de 730 mil reais. Em 2004, ele foi inocentado.
A partir do episódio, o nome Naji Nahas virou sinônimo de especulador topa-tudo e de ricaço falido que mantinha a pose nababesca. Mas seu nome só voltaria às manchetes anos depois, durante a Operação Satiagraha, da Polícia Federal.
Comanda pelo então delegado Protógenes Queiroz e autorizado pelo juiz Fausto De Sanctis, a Satiagraha visava quebrar um esquema de gestão fraudulenta de empresa, evasão de divisas públicas e sonegação fiscal envolvendo o publicitário Marcos Valério e o esquema de corrupção denominado Mensalão.
Conseguiu prender, além de Naji Nahas, o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta, e o baqueiro Daniel Dantas, dono do banco Opportunitty.
Segundo a Polícia Federal, o esquema operava em dois núcleos distintos. O primeiro usava os recursos públicos desviados pelo esquema do Mensalão ao utilizar empresas de fachada, tudo, segundo a PF, sob a égide de Daniel Dantas. O segundo núcleo tinha a participação de Nahas, que fazia a lavagem de dinheiro em paraísos fiscais.
Nahas não se pronuncia sobre o caso.
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