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segunda-feira, 16 de julho de 2012

Quatro crianças até 14 anos de idade morrem afogadas diariamente no Brasil.


recebi da Dra Lúcia Rodrigues 
Se os números são tão alarmantes porque continuam a acontecer?

Texto de Dr David Szpilman – diretor-médico e fundador da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa) e Chefe do CTI do Hospital Municipal Miguel Couto, no Rio de Janeiro.

Temos assistido a dramática história da Maria Eduarda de 4 anos, falecida neste mês de Julho vitima de afogamento em piscina, na Costa do Sauípe enquanto de férias com seus pais. Maria Eduarda segundo informações ficou sem o olhar do pai por uns segundos apenas, mas foi o suficiente para este desfecho trágico.

Quem não se sensibiliza com uma tragédia como esta? Todos nós, mas o fato é que 4 crianças até 14 anos de idade morrem afogadas diariamente no Brasil. Por ano, cerca de 500 mil pessoas morrem afogadas em todo o mundo. Mais de dez milhões de crianças entre 1 e 14 anos são internadas vítimas de afogamento anualmente e, destas, 1 a cada 35 hospitalizações chega ao óbito1. No Brasil, em 2009, sete mil pessoas morreram afogadas e o afogamento foi a segunda causa geral de morte na faixa de 1 a 9 anos, terceira entre 10 e 19 anos e a quarta na faixa de 20 a 25.

Se os números são tão alarmantes, porque continuam a acontecer?

É importante entendermos que o afogamento dentre todos os traumas é o mais impactante. O afogamento ocorre de forma inesperada, sempre em situações de lazer e muito poucos cogitam a sua possibilidade trágica. O TRAUMA é uma doença que esta longe de ser um acidente. Acidentes são situações que nos remetem ao acaso e, portanto muito difíceis ou impossíveis de serem evitados.

Afogamento não é acidente, não acontece por acaso, tem prevenção, e esta é a melhor forma de tratamento!

No mundo veloz de hoje, se queremos fazer a diferença para nossas crianças devemos ter uma atuação mais PRÓ-ATIVA. A nossa atuação como sociedade diante do trauma e dentre eles o AFOGAMENTO tem sido pautada em atitudes reativas, ou seja, atitudes que são geradas apenas após o fato ocorrido. Constatado este fato, pouco pode ser feito para corrigi-lo, mas apenas amenizado.

È muito comum nestas situações de tragédia procurarmos por culpados, como se não fosse responsabilidade de todos nós, governo e sociedade civil. O Brasil, 6ª economia no mundo não investe e enfrenta este tipo de problema da forma como deveria. Temos de reconhecer nossos erros e assim possibilitar a criação de ferramentas para mudá-los. A Sobrasa propôs há mais de 10 anos projeto de lei federal no sentido de aumentar a segurança em áreas espelhadas (Projeto de Lei 1685/03), e ainda não conseguiu sua aprovação. O Governo Federal, através do Ministério da Saúde não possui nenhum programa de educação nesta área de prevenção em afogamentos, por conseqüência os Estados incumbidos de zelar pela segurança em áreas aquáticas tentam, sem verbas adicionais, em sua grande maioria enfrentar o problema de forma reativa, colocando mais guarda-vidas em suas áreas espelhadas, ou delegando aos Municípios, usualmente menos preparados, a se incumbir da missão. O nosso maior problema há mais de uma década não é mais o nosso litoral, bem guardado por guarda-vidas como demonstram as estatísticas2, mas nossas imensas áreas de água doce, onde o afogamento é dificilmente previsto. Com raras exceções de alguns decretos que tentam regimentar o uso de piscinas, as leis de segurança são inexistentes neste aspecto. Assim também é a própria profissão de GUARDA-VIDAS, não regulamentada, o que invariavelmente leva a profissionais mal qualificados e mal remunerados. Todos estes órgãos e atores estão despreparados para enfrentar o problema de igual para igual, não possuem recursos suficientes para agir de forma PRO-ATIVA e estabelecer grandes programas de prevenção em afogamento como o nosso país e nossas crianças necessitam.

Esta situação alarmante e pouco divulgada inspirou o artigo de revisão sobre AFOGAMENTO, publicado no mês de Maio na mais conceituada revista médica no mundo The New England Journal of Medicine e alerta para importantes questões1:
o   Os registros de afogamento em todo o mundo subestimam os números totais de mortes, e ainda não contabilizam situações catastróficas, como enchentes, tsunamis e acidentes de barcos como parte do problema. O problema é então muito maior do que podemos imaginar.
o   O maior fator de risco para a morte por afogamento é a falta ou o descuido na supervisão de crianças por um adulto. Quando comparamos o risco de óbito por afogamento e acidente de trânsito, o afogamento chega a ser 200 vezes maior.
o   A segurança na água provida por guarda-vidas não substitui a supervisão dos pais ou responsáveis.
o   Se a prevenção falhar, a vítima que é resgatada a tempo de evitar a aspiração da água pode ser liberada diretamente do local do acidente. Mas se o processo de afogamento não for interrompido, a impossibilidade rápida de conseguir oxigênio leva em questão de segundos ou minutos à parada respiratória e, em seguida, à parada do coração. Ou seja, bastam alguns segundos...
o   Pessoas sem habilidade para ajudar se afogam e morrem tentando salvar outras. Este tipo de atitude deve ser evitada a todo custo. Para estas pessoas, a melhor forma de ajudar é chamar um guarda-vidas.
o   Diferentemente das paradas cardíacas que ocorrem fora da água, o afogamento necessita de ventilação boca-a-boca e as novas medidas de “somente compressão” trazem menos benefícios na hora de ressuscitar.
o   Como mensagem mais importante o artigo estima que 85% dos afogamentos no mundo podem ser evitados através da supervisão e alerta que todo caso de afogamento sinaliza a falha na prevenção, a intervenção mais importante de todas.

Alguns Serviços de Salvamento tem demonstrado cientificamente como é benéfico à realização de programas de prevenção com crianças, e conseguiram uma importante redução no número de óbitos2, então porque não multiplicá-los? 

Não nos adianta procurar por culpados e nem responsáveis por estas tragédias, adianta ajudar a mudar esta situação. Nós da Sobrasa sabemos que podemos e queremos mudar isto, mas precisamos de sua ajuda e da contribuição de todos. Ajude-nos a ajudar!

Passe estas informações a outros, convença-os que casos como este da Maria Eduarda acontecem diariamente, envie aos amigos e parentes, coloque em suas mídias sociais, converse com todos que puder, cobre dos novos candidatos a políticos, argumentando o quão importante é prevenir e que a melhor prevenção em crianças é a supervisão por um adulto 100% do tempo.

Abaixo apresentamos 2 links de vídeos e as formas de prevenção em afogamento.
Peça aos professores na escola de seu filho que divulgue estas mensagens.


Medidas de prevenção
PRAIAS e PISCINAS SÃO LOCAIS DE LAZER, EVITE AFOGAMENTOS!
Mantenha 100% de supervisão em crianças perto ou dentro da água.
Aprenda a nadar a partir dos 2 anos.
Nunca nade sozinho.
Mergulho de cabeça somente em água funda.
Prefira sempre nadar em águas rasas.
Não superestime sua capacidade de nadar, tenha cuidado!
PRAIAS
PISCINAS
1.     Nade sempre perto a um posto de guarda-vidas.
2.     Pergunte ao guarda-vidas o melhor local para o banho.
3.     Não superestime sua capacidade de nadar - 46.6% dos afogados acham que sabem nadar.
4.     Tenha sempre atenção com as crianças.
5.     Nade longe de pedras, estacas ou piers.
6.     Evite ingerir bebidas alcoólicas e alimentos pesados, antes do banho de mar.
7.     Crianças perdidas: leve-as ao posto de guarda-vidas.
8.     Mais de 80% dos afogamentos ocorrem em valas:
§  A vala é o local de maior correnteza, que aparenta uma falsa calmaria, e que leva para o alto mar.
§  Se entrar em uma vala, tenha calma, nade transversalmente a ela até conseguir escapar ou peça imediatamente socorro.
9.      Nunca tente salvar alguém se não tiver condições para fazê-lo. Muitas pessoas morrem desta forma.
10.  Ao pescar em pedras, observe antes, se a onda pode alcançá-lo.
11.  Antes de mergulhar no mar - certifique-se da profundidade.
12.  Afaste-se de animais marinhos como água-viva e caravelas.
13.  Tome conhecimento e obedeça as sinalizações de perigo na praia.
1.     Mais de 65% das mortes por afogamento ocorrem em água doce, mesmo em áreas quentes da costa.
2.     Crianças devem sempre estar sob a supervisão de um adulto. 89% dos afogamentos ocorrem por falta de supervisão, principalmente na hora do almoço ou logo após.
3.     Leve sempre sua criança consigo, caso necessite afastar-se da piscina. Use sempre telefone sem fio.
4.     Isole a piscina – tenha grades com altura de 1,50m e 12cm nas verticais. Elas reduzem o afogamento em 50 a 70%.
5.     Bóia de braço não é sinal de segurança - cuidado!
6.     Evite brinquedos próximos à piscina, isto atrai as crianças.
7.     Desligue o filtro da piscina em caso de uso.
8.     Não pratique hiperventilação para aumentar o fôlego sem supervisão confiável.
9.      Cuidado ao mergulhar em local raso (coloque um aviso).
10.  Mais de 40% dos proprietários de piscinas não sabem realizar os primeiros socorros - CUIDADO!

Referencias:
  1. David Szpilman, Joost Bierens, Anthony Handley, & James Orlowski. Drowning: Current Concepts. N Engl J Med 2012;366:2102-10
  2. David Szpilman. Afogamento - Perfil epidemiológico no Brasil - Ano 2012. Publicado on-line em www.sobrasa.org, Fevereiro de 2012.

 
Dr David Szpilman - www.szpilman.com

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