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terça-feira, 28 de maio de 2013

A “importação” de médicos cubanos

Adeli Sell(*) no Sul21


Faço questão do título, pois é o que a mídia plantou, o conservadorismo alardeou e o senso comum comprou. Em recente debate na TV local, contestei o uso desta linguagem rebaixada. Importamos mercadorias! Convidamos pessoas a trabalhar em nosso país.

O triste é ouvir que temos médicos demais quando, na média, estamos abaixo dos índices de Argentina e México, para citar dois exemplos. Temos 1,8 médicos para cada 1.000 brasileiros, índice abaixo de países desenvolvidos como Reino Unido (2,7), Portugal (4) e Espanha (4) e de outros latino-americanos como Argentina (3,2) e México (2).

Como disse o ministro da saúde Alexandre Padilha, atrair médicos estrangeiros para o Brasil não pode ser um tabu. Abordagens desse tema, por vezes preconceituosas, não podem mascarar estas constatações: o Brasil precisa de mais médicos com qualidade mais próximos da população e não se faz saúde sem médicos.

Se do ponto de vista das capitais, a escassez desses profissionais já é latente, os desníveis intermunicipais tornam o quadro ainda mais dramático. Vi, vivi, testemunhei. Quem mora na Restinga ou no Rubem Berta, sofre bocados com a ausência deles. Seja porque o médico não veio ou porque a doutora chegou atrasada e não pode atender a todos.

Há um enorme déficit de médicos, o que leva a um desinteresse dos profissionais em trabalhar nos postos e cidades menos “atrativas”. Em um município a 80 km de Porto Alegre, o prefeito ofertou um contrato de 12 mil, e espera por um médico. Noutra, a 60 km, a Prefeitura paga 10.500 líquidos. Conseguiu quatro deles.

Esse imbróglio ocorrido aqui no Estado e refletido Brasil a fora levou prefeitos de todo o país a pressionarem o governo federal por medidas. Para enfrentar essa realidade, nosso governo tem analisado modelos exitosos adotados em outros países com dificuldades semelhantes. Estamos com a expectativa de contratar seis mil médicos que preencham vagas no Programa Saúde da Família. Estes profissionais, oriundos de países ibero-americanos com proporção de médicos superior à brasileira, como Argentina, Uruguai, Cuba, Espanha e Portugal, atuariam na atenção básica, voltada à prevenção e à baixa complexidade.

Ouso dizer que se o Ministro tivesse dito que convidara médicos finlandeses ou suecos não haveria esta gritaria. Virou guerra fria. Precisamos nos desarmar e pensar naqueles que precisam de médicos e não tem. Que venham todos(as), sejam cubanos, espanhóis ou suecos. Abaixo o preconceito. Abaixo o corporativismo que faz mal à saúde.

(*)Adeli Sell é escritor e consultor.

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