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sábado, 13 de julho de 2013

Fila da ortopedia no Paraná supera os 46 mil pacientes

Em todo o estado, são 787 os profissionais da área. Falha no diagnóstico inicial é um dos principais motivos para a espera por atendimento

na Gazeta do Povo

A fila de espera para conseguir consulta com ortopedistas no Paraná é superior a 46 mil pacientes. O dado corresponde às cinco maiores cidades do estado – Curitiba, Londrina, Maringá, Ponta Grossa e Foz do Iguaçu. Em todo o Paraná, são 787 médicos especialistas em ativida­de, conforme registros do Conselho Regional de Me­dicina (CRM). Mesmo assim, a assistência a vítimas de torções, dores na coluna ou traumas ósseos é considerada um dos principais gargalos do sistema público de saúde do estado.
A demora em marcar consultas faz com que os pacientes sejam obrigados a esperar mais de dois anos pelo tratamento, que geralmente exige exames, retornos ao médico e, em alguns casos, cirurgias. A situação mais complicada é a de Londrina, no Norte do estado, que possui um total de 18.651 pessoas à espera do tratamento. Segundo a médica Maria Fátima Tomimatsu, da Diretoria de Regulação da Atenção à Saúde, 83% desses pacientes podem aguardar até 29 meses para conseguir uma consulta.

Andreza esperou um ano por consulta
A dona de casa Andreza Lopes Machado conta os meses que faltam para conseguir a desejada consulta com um ortopedista. Agendado no ano passado, o atendimento médico para avaliar as constantes dores na coluna e nas articulações será realizado no dia 2 de setembro.
“Foi mais de um ano para conseguir consulta. Dá raiva, mas estamos acostumados com essa demora”, revela Andreza, 65 anos. Faz oito anos que ela trata as dores e geralmente precisa consultar o especialista. “Nem sempre conseguimos no tempo que precisamos”, comenta.
Durante esse período, Andreza continuou tomando as medicações para aliviar as dores. “Às vezes dói para andar e ficar de pé”, conta. A filha dela, Adelinda Machado, 26, se revolta. “É uma falta de responsabilidade deixar uma senhora nessa situação, esperando um ano pela consulta. É preciso rever a situação da saúde pública. Isso não acontece só com minha mãe”, avisa.
Especialistas
Mais ortopedistas em unidades básicas diminuiriam espera
Ex-presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia no Paraná (SBOT-PR), Marco Antônio Pedroni afirma que uma das medidas que reduziria a demanda reprimida no estado seria a contratação de ortopedistas para atuar nas unidades básicas de saúde. “Nesse caso, as situações menos complexas seriam resolvidas no começo, sem a necessidade de filas”, comenta. No entanto, ele afirma que é fundamental a realização de concursos públicos para a contratação de especialistas.
“Hoje quem atende a especialidade, geralmente são médicos de hospitais que recebem pacientes oriundos do SUS. Precisa de um plano de carreiras para atrair médicos efetivos que façam o atendimento pela prefeitura”, afirma Pedroni. Para ele, o valor pago aos médicos poderia seguir o piso nacional da categoria – R$ 10.412 para 20 horas semanais de trabalho, segundo a Federação Nacional dos Médicos.
O atual presidente da SBOT-PR, Xavier Soler concorda com a necessidade da realização de um concurso público. “Médicos nós temos, mas precisamos de um concurso para contratação de especialistas e que paguem bem o profissional a fim de atraí-lo para o atendimento na rede pública”, ressalta.
Contraponto
Ponta Grossa está entre as cidades do estado que menos sofrem com o setor de ortopedia. O secretário municipal de Saúde, Erildo Müller, afirma que cerca de 200 pessoas aguardam consulta. “O principal desafio é em neurologia e oftalmologia. Cerca de 7 mil pessoas estão na fila nessas áreas”, diz. Segundo ele, muitos casos poderiam ser resolvidos nas unidades de saúde.
“É importante esclarecer que a grande maioria dos pacientes está classificada como 0 e 1, casos que não são considerados como prioridade para nós”, explica. Em abril deste ano, o Hospital Ortopédico de Londrina parou de atender pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A médica afirma, no entanto, que independentemente do desligamento da entidade, já existia fila de espera na maioria das especialidades de ortopedia, já que Londrina, segunda maior cidade do estado, é referência para a região Norte do Paraná.
Maria afirma que várias medidas estão sendo discutidas e implementadas, como a revisão dos contratos junto aos hospitais e prestadores. “Estamos em negociação para ampliação da oferta de consultas eletivas de ortopedia, bem como de cirurgias de média complexidade”, diz. A cidade possui 63 especialistas que atendem pelo SUS.
Na capital
Em Curitiba, a Secretaria de Saúde está realizando uma triagem para determinar o número real de pacientes que aguardam consulta. A média gira em torno de 17 mil. “O tempo para conseguir atendimento varia. Se o caso é mais grave, tem preferência. Mas há situações que chegam a um ano”, afirma César Titton, diretor de Redes de Atenção à Saúde.
Em junho, os dez serviços que atendem consultas ortopédicas no SUS conseguiram realizar 7.702 consultas, das quais 3.678 foram consultas iniciais. Ele afirma ainda que em maio foi publicada uma portaria do governo federal que pretende aumentar o financiamento para 41 procedimentos de média complexidade em traumatologia.
“É preciso também reconfigurar as filas de atendimento e aproveitar melhor as capacidades dos diferentes serviços envolvidos, como unidade de saúde, centro de especialidades, pronto atendimento e hospital”, ressalta.
Espera exemplifica falha no diagnóstico
Os gestores municipais de saúde afirmam que grande parte dos casos encaminhados a especialistas poderia ser resolvida nas próprias unidades básicas. Em Curitiba, segundo César Titton, diretor de Redes de Atenção à Saúde, mais de 90% das queixas musculares e esqueléticas seriam resolvidas no posto de saúde. “Precisamos melhorar a capacidade diagnóstica e a resolutividade das equipes de atenção primária à saúde”, salienta.
Em Maringá, que possui cerca de 6,5 mil pessoas na fila esperando atendimento ortopédico, a situação não é diferente. O secretário municipal de Saúde, Antônio Carlos Nardi, considera que maioria dos casos seria resolvida na atenção básica. “A demanda é muito grande. Se a gente atende 2 mil em um mês, nesse mesmo período entram mais 4 mil na espera. Precisa de mais médicos, mais vagas em residência. Faltam médicos para atender a rede pública”, afirma.
Mutirão
Na cidade de Foz do Igua­çu, no Oeste do estado, 4­ mil pessoas esperam con­sul­­ta. Segundo a secretária de Saúde, Letícia Canete de Lima, o município assumiu há menos de um mês a gestão do Hospital Padre Germano Lauck, que passará por uma estruturação e terá investimentos no setor de ortopedia. “Temos uma demanda reprimida e esperamos conseguir reduzir essa fila. Também iremos fazer um mutirão de atendimento para procurar regularizar essa demanda”, conta.


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