Cientistas suíços advertem que cesarianas eletivas dobram o risco de mortalidade dos bebês em relação aos nascidos de parto natural.
Esta conclusão é o resultado de uma análise de 56 mil partos realizados de 1982 a 2004 no Hospital Universitário de Genebra.
No período de 20 anos, 13% de todos os partos foram por cesariana – um terço dessas intervenções cirúrgicas foi planejado com antecedência, por indicação média ou desejo da grávida; 66% foram emergenciais.
O risco de mortalidade dos bebês, porém, é menor quando a cesárea eletiva ocorre na data biológica prevista para o parto natural do que entre a 34ª e 38ª semana de gestação. O estudo publicado na revista científica Pediatrics indica que o parto operatório eletivo não deve ser antecipado ao fim do período de gravidez.
"De um modo geral pode-se dizer, com base nos dados avaliados, que uma cesariana, especialmente a eletiva, eleva o risco de mortalidade", diz o professor Michel Berner, membro da equipe de pesquisadores, à swissinfo.ch.
"É evidente que há dois tipos de cesáreas: a de emergência, que é inevitável, e a outra, não necessariamente indispensável, em que se deve estar consciente de que o parto não pode ser antecipado", explica o médico.
"Nossas afirmações são sustentadas por 56 mil partos analisados em 20 anos. Isso é um grande volume de dados. Há poucos estudos com uma base de dados tão ampla." Nas últimas duas décadas, o número de cesarianas aumentou de 10 a 20%.
Problemas ignorados
O estudo é um apelo urgente aos políticos e especialistas da área de saúde a pesquisar e monitorar as "consequências médicas e sociais dessas operações".
Hospitais da Europa, dos EUA, América do Sul e do Leste Asiático tem registrado taxas excessivas de cesarianas de 30 a 40% nos últimos anos.
O estudo admite que, segundo testes, em alguns poucos casos, a cesariana eletiva é recomendável. Por exemplo, em caso de infecção com o vírus da aids (HIV), quando tanto os pais quanto os médicos preferem a cesariana.
De uma maneira geral, os riscos para as grávidas diminuíram consideravelmente no parto. O risco restante para o bebê é pequeno, mas "razões logísticas" tornam a cesariana atraente.
Os autores do estudo constatam que a mortalidade infantil e o risco de doenças decorrentes da cesariana eletiva "frequentemente são ignorados ou minimizados".
Em dezembro passado, a Associação das Parteiras Suíças (APS) pediu estudos mais detalhados sobre a questão das cesáreas, em particular sobre suas consequências para as crianças e as mães.
Michelle Pichon, da diretoria da APS, diz que o atual estudo aponta na mesma direção. Ele levanta a questão se uma cesariana eletiva, a longo prazo, é melhor para a criança do que um parto natural. "A questão da cesariana deveria ser debatida por profissionais da saúde e pelos pais", propõe Pichon.
Alarmes
O estudo aponta também que cesarianas reduzem o efeito positivo de um parto normal à adaptação do pulmão do bebê, o que frequentemente causa problemas das vias respiratórias.
Os resultados da pesquisa confirmam um estudo de 2007, segundo o qual o número de bebês com problemas respiratórios dobrou nos últimos 30 anos na Suíça. Segundo os pesquisadores, esse incremento pode estar ligado ao aumento dos casos de cesarianas.
O estudo de 2007 foi iniciado pelo diretor do Departamento Pré-natal do Hospital Universitário de Zurique, Hans Ulrich Bucher. Bucher acha que o atual estudo confirma uma suspeita levantada na época.
"Vários alarmes dispararam – o novo estudo é provavelmente o mais sonoro. O problema deve se tornar público. Trata-se principalmente da relação entre partos de cesarianas eletivas precoces e possíveis problemas de saúde."
Bucher diz esperar que as pessoas se conscientizem desse problema e que assim baixe o número de cesarianas eletivas. Isso, no entanto, ainda pode demorar anos, prevê.
Jessica Dacey, swissinfo.ch
Fatos
A taxa de cesarianas na Suíça foi de 32,2% dos partos em 2007 contra 22,7% em 1998.
Em outros países é inferior a 20%.
Quase a metade das crianças cujas mães tem seguro privado nasce de cesariana na Suíça.
"O Brasil é campeão do mundo em partos cesarianos", afirma a epidemiologista Silvana Granado Nogueira da Gama, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz.
Cerca de 80% aproximadamente 80% dos partos feitos pelo setor de saúde suplementar do país são cesáreas.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que apenas 15% dos partos sejam feitos através de intervenção cirúrgica.
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