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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Tributo econômico da depressão supera até o do câncer

JOEL RENNO no Estadão

Os prejuízos da depressão atingem diversas áreas. Temos cerca de 350 milhões de pessoas no mundo com depressão e perdemos anualmente 1 milhão de pessoas por suicídio. Estima-se que cerca de 20% da população sofra de depressão em algum momento de sua vida e ela é duas vezes mais frequente nas mulheres. Embora os diversos [...]

Os prejuízos da depressão atingem diversas áreas. Temos cerca de 350 milhões de pessoas no mundo com depressão e perdemos anualmente 1 milhão de pessoas por suicídio. Estima-se que cerca de 20% da população sofra de depressão em algum momento de sua vida e ela é duas vezes mais frequente nas mulheres.

Embora os diversos tratamentos, farmacológicos ou não, tenham evoluído muito nas últimas décadas, o estigma associado à doença, mesmo em uma sociedade mais evoluída em termos de informação, é relevante e isso impede o tratamento correto da doença por especialistas. Dentro da saúde pública, já precária em diversos países, a saúde mental é provavelmente uma das mais negligenciadas ou subestimada.

Ao contrário do que as pessoas pensam, a depressão é uma doença complexa e multifatorial, ou seja, diversos fatores biológicos, psicológicos e até sociais podem interagir e desencadeá-la. Há diferentes subtipos de depressão, com diferentes níveis de gravidade e cerca de 30% dos casos costumam ser refratários ou resistentes ao tratamento convencional.

Uma análise de mais de 60 estudos clínicos com cerca de 60.000 pacientes adultos, conduzida entre 1996 e 2013, e publicada agora em 2014 noPsychiatric Services, calculou que o custo total da depressão nos Estados Unidos está na faixa de 188 bilhões de dólares e 200 bilhões de dólares anuais. Por mais que 64 bilhões destes custos estão associados com depressão resistente ao tratamento, o que representa apenas uma fração do total de casos, é claro que a doença cobra um pesado tributo da sociedade.

Observo que a psiquiatria clínica precisa estar mais integrada às outras áreas médicas e que debates mais amplos, envolvendo prevenção e tratamento, sejam realizados nas políticas públicas – voltadas prioritariamente, em saúde mental, apenas ao alcoolismo e outras dependências químicas.

A avaliação do estudo concluiu que os custos anuais, combinando as despesas específicas com saúde e as perdas de produtividade, para alguém com depressão resistente ao tratamento, foram quase o dobro das de alguém com depressão responsiva ao tratamento e quase quatro vezes as de custos relacionados com a saúde da população em geral (U$ 20.120 contra U$10.592 versus U$ 5.095). O encargo financeiro atribuído à depressão é maior do que as estimativas recentes de custo para câncer (131 bilhões de dólares) e diabetes (173 bilhões de dólares).

Médicos e instituições de diversas especialidades precisam ficar atentos ao aprendizado do diagnóstico e tratamento correto da depressão nos seus locais de trabalho e isso precisa ser estimulado nas Universidades. É muito comum a associação de quadros depressivos recorrentes ou resistentes a doenças clínicas como hipotireoidismo entre outras. As pesquisas da área de saúde mental precisam também receber verbas públicas e privadas equivalentes às de outras doenças clínicas, a desproporcionalidade ainda é dominante e novas drogas precisam ser descobertas com estímulo à farmacogenômica. Outras questões fundamentais são o melhor financiamento e acesso a tratamentos especializados das populações carentes, inclusive com ampliação de leitos hospitalares adequados para os casos mais graves e com risco de suicídio.

Portanto, uma política pública mais eficiente de combate à depressão é urgente em vários países. Além de evitarmos as perdas de vidas e incapacitações decorrentes diretamente da doença, extremamente traumáticas, poderemos melhorar a qualidade de vida de nossos pacientes e também diminuir os enormes custos sociais diretos ou indiretos – o que afetará positivamente também a economia dessas nações.

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