Atualmente, dos 42 residentes do local, mais da metade está trabalhando no mercado formal. O restante, estudando ou fazendo cursos preparatórios para o mercado de trabalho e concursos públicos.
Um dos exemplos é Luiz Obladen, de 42 anos. Depois de passar por problemas pessoais, ele perdeu o contato com a família e acabou indo morar nas ruas. Lá, viveu por seis meses. “Um dia a equipe de abordagem social me convenceu a ir para um acolhimento da Prefeitura. Desde aquele dia, minha vida mudou”, conta. Luiz foi atendido em outras unidades da FAS e há um ano foi para o Condomínio Social, já com a ideia de retomar os vínculos familiares e melhorar de vida: “O apoio que eu tive desde o começo foi fundamental. Sempre acreditaram em mim, até quando eu mesmo desacreditei”.
No ano passado, Luiz prestou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) com mais um grupo de moradores do Condomínio Social e por muito pouco não obteve nota suficiente para se qualificar para um curso superior. “Aquele ponto que faltou não sai da minha cabeça, mas tem servido como estímulo. Competi com estudantes mais novos e de boas escolas, por isso sei que tenho grandes chances esse ano”, acredita.
Colegas de estudo
No Condomínio Social, o estímulo ao estudo e à leitura é mantido com uma biblioteca montada dentro da unidade, sempre de portas abertas. “É um local muito acessado pelos moradores e isso nos alegra, pois ter acesso aos estudos também faz parte do resgate da cidadania e do sentimento de fazer parte da sociedade”, diz a coordenadora do Condomínio, Marilis Baumel.
Ao perceber o interesse de Luiz em concluir seus estudos, o educador social Jaime Amaral de Souza, que atua no Condomínio, resolveu ajudá-lo. “Pelo menos umas duas horas por dia estudamos Matemática e outras disciplinas e é muito bacana ver os resultados aparecerem”, afirma. Isso porque recentemente Luiz passou na primeira fase de um concurso para educador social em Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba. “Fui tão bem acolhido quando eu precisava que me interessei em poder fazer o mesmo por pessoas que, assim como eu, podem precisar de ajuda”, diz Luiz.
Para o colega de estudo e educador, a escolha emociona: “Fico feliz pelo reconhecimento e por perceber a diferença que estes profissionais tiveram na vida dele. Torço muito para que este ano, com a nota do Enem, o Luiz consiga realizar o seu sonho”, afirma Jaime.
Exemplos que inspiram
O caso de Luiz não é único no Condomínio Social. Recentemente três moradores passaram no exame de equivalência da 5.ª série do ensino fundamental e se preparam para prestar o exame de Ensino Médio. “No dia que peguei o resultado, pra mim foi como ter passado no vestibular, principalmente porque mal tinha concluído a 3.ª série. Agora só consigo fazer planos: concluir os estudos e passar em algum concurso ou ter um bom emprego”, diz Marcos Fabiano da Silva, de 40 anos.
Outros oito moradores do Condomínio Social estão inscritos para realizar o Enem este ano.
Inovação
Iniciativa inédita no Brasil, o Condomínio Social foi criado com o propósito de ser a última etapa no atendimento a pessoas em situação de rua antes da retomada completa de sua autonomia. O trabalho desempenhado pela equipe técnica de educadores sociais, assistentes sociais e psicólogos procura resgatar em cada morador o sentimento de pertencimento à sociedade, de responsabilidade e do autocuidado. As normas internas da unidade são decididas em conjunto por equipe técnica e moradores e os residentes são responsáveis pela organização de seus quartos e dividem-se em equipes que cuidam da manutenção e limpeza do imóvel e do preparo das refeições.
Desde que iniciou seus serviços, 122 pessoas já passaram pela unidade. A maior parte das que deixaram o Condomínio ainda mantém contato com a equipe. A capacidade de atendimento é de até 70 pessoas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário